Série brasileira de zumbis explora o pior da humanidade em uma trama pra lá de confusa
A série Reality Z chegou ao catálogo da Netflix sem muita divulgação, mas com uma promessa de trazer todo o clima de um apocalipse zumbi acontecendo no Brasil. A produção brasileira é uma adaptação da série britânica Dead Set, um dos sucessos criados por Charlie Brooker (Black Mirror). No entanto, a ideia da Netflix foi de fazer uma releitura da obra, com um apelo mais “abrasileirado”.
Escrita por Cláudio Torres (O Homem do Futuro e A Mulher Invisível), Reality Z apresenta uma trama que parece promissora nos primeiros minutos, mas que se perde a cada episódio. A fama de série ruim não é à toa, já que os personagens apresentados inicialmente não cativam o público e tornam a história muito mais difícil de ser digerida.
Aviso que a partir daqui teremos vários spoilers da série. Se você ainda não assistiu, e prefere não saber de detalhes, melhor não continuar a leitura deste review.
Elenco fraco e personagens fúteis
Digamos que reality show é algo que realmente reúne pessoas aleatórias para que os telespectadores possam se entreter vendo suas atitudes fúteis. Entretanto, em Reality Z isso é levado mais do que ao pé da letra. Todos os personagens, até mesmo os não participantes do Olimpo, são extremamente sem carisma. A atuação é algo questionável, já que muitos entregaram uma dramatização forçada e falas extremamente mecânicas em boa parte dos diálogos.
A primeira leva de personagens apresentados na trama, e que ficam em cena por mais da metade da temporada, é formada por pessoas que não deveriam estar como o centro das atenções em uma narrativa como essa. Estamos presenciando o início de um apocalipse zumbi, portanto é esperado que personagens com força e personalidade tomem o protagonismo. Infelizmente isso não acontece… pelo menos até o sétimo episódio.
Vemos em cada pessoa uma representação das piores coisas que a humanidade tem. Os mais fortes são os mais egoístas, promíscuos e traidores. Os que demonstram um pouco mais de bondade são os mais burros e vulneráveis. Sendo assim, você não pode esperar que algum deles sobreviveria por muito tempo na situação.
Em poucos minutos de desespero os personagens já esquecem que estão enfrentando o fim do mundo e se entregam aos “pecados capitais” como se nada estivesse acontecendo. Traições, luxúria, ganância e até mesmo romances forçados são jogados na cara do telespectador, que acaba confuso por não entender o objetivo da trama. Seria a luta pela sobrevivência ou pelo ego?
Efeitos especiais e maquiagem
Por ser uma série que mostra um apocalipse zumbi, o mínimo que podemos esperar é destruição pra todo lado. Contudo, o que mais vemos nos episódios é a mesma cena do Rio de Janeiro visto do alto, com chamas e fumaça. Chega a irritar de tantas vezes que a mesma cena é repetida.
Os efeitos especiais entregues são muito fracos. Para os mais exigentes, pode beirar até mesmo ao amadorismo. Isso porque são, em sua maior parte, superficiais e nada realistas. O que se salva em Reality Z são os cenários internos e efeitos de maquiagem. Aliás, as maquiagens ficaram tão boas quanto as vistas em séries de sucesso mundial como The Walking Dead, por exemplo. As cenas mais gore e com mortes de personagens são bem feitas, o que acaba salvando, em partes, a produção. No entanto, uma série não é feita apenas de cenas de morte, não é mesmo? Reality Z acaba por se resumir a apenas isso, pois a trama continua se perdendo a cada episódio avançado.
Uma virada aos 45 minutos do segundo tempo
Quando tudo parecia perdido, a série consegue dar uma virada na trama. Personagens novos aparecem na história e trazem consigo um pouco mais de carisma. Infelizmente isso só começa a acontecer a partir do sétimo episódio de Reality Z. Lembrando que a temporada conta apenas com 10 episódios.
Além disso, a trama parece finalmente focar na necessidade de sobrevivência. Os personagens que tomam o protagonismo buscam uma forma de tornar o estúdio em um local seguro para recomeçar. Aqui vemos uma possibilidade de desenvolvimento da série, o que poderia render mais algumas temporadas. Contudo, o potencial é desperdiçado mais uma vez por conta do mesmo problema inicial: o foco nas personalidades mais negativas.
Tudo isso nos leva a imaginar que o verdadeiro objetivo de Reality Z é confrontarmos as piores atitudes humanas, mesmo que de uma forma escancarada demais. Se esse era o objetivo, a produção falha catastroficamente por não deixar claro desde o início. O espectador é atraído pelo enredo apocalíptico e não por questões sociais ou políticas.
Por fim, podemos dizer que Reality Z pode até entreter, mas decepciona por não entregar a proposta prometida. Por ser uma série de zumbis, o mínimo que poderíamos ter é o foco total na sobrevivência. A produção tentou fugir do óbvio, mas se entregou a diversos outros clichês.
Se você curte o gênero, e adora cenas gore e com muito sangue, pode até gostar de assistir à série. Agora, se você é fã de uma boa trama, recomendamos passar longe. Reality Z está disponível exclusivamente no catálogo da Netflix.
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