Pelé, rei do futebol, morre aos 82 anos

O Tricampeão mundial estava internado há cerca de um mês para realizar o tratamento de um câncer de cólon, mas veio a falecer nesta quinta-feira aos 82 anos

O mundo do futebol acaba de perder o seu rei. Veio a falecer nesta quinta-feira (29), Pelé, o maior jogador de todos os tempos, aos 82 anos.

A família ainda não divulgou detalhes do velório, mas nos últimos dias uma estrutura foi montada na Vila Belmiro para realizar a cerimônia. O sepultamento será em Santos.

O atleta do século estava internado desde o dia 29 de novembro no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. A internação ocorreu devido a uma infecção respiratória após contrair Covid-19 e uma reavaliação do tratamento para câncer de cólon.

Pelé passou por uma cirurgia no local em setembro de 2021 e desde então passou por repetidas sessões de quimioterapia. No início de 2022, foram detectadas metástases no intestino, pulmões e fígado.

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Pelé em um evento em Londres em 2016 — Foto: Neil Hall / Getty Images

No dia 21 de dezembro, o corpo clínico do hospital emitiu um boletim médico informando que Pelé tinha “câncer progressivo” e que precisava de mais cuidados relacionados à disfunção renal e cardíaca. Por isso, o ex-jogador não foi autorizado a passar o Natal em casa, como desejava a família. Kely e Edinho Nascimento, filhos do rei, publicaram fotos com o pai no quarto onde ele estava internado nos últimos dias.

Outros filhos e netos também estiveram presentes no Natal. Apesar da situação complicada, Pelé passou vários dias estável e com uma leve melhora. Mas nos últimos dias, a saúde do rei piorou novamente.

Devido à sua velhice e tratamento, as aparições públicas do rei do futebol tornaram-se cada vez menos frequentes nos últimos anos. Ele expressou otimismo sobre a recuperação nas mídias sociais.

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Pelé durante a comemoração do Tri em 1970 — Foto: Alessandro Sabattini/Getty Images

 

Pelé conquistou diversos prêmios durante a Copa do Mundo de 2022, jogando enquanto estava internado na capital paulista. Jogadores como Neymar, Richarlison e Mbappé desejaram que o gênio fosse melhor durante o torneio. Os torcedores também colocaram faixas nos estádios.

Pelé deixa sete filhos e a esposa Márcia Aoki, com quem é casado desde 2016. Do primeiro casamento com Rosemeri Cholbi, nasceram Kelly Cristina, Edinho e Jennifer. O ex-jogador também é pai dos gêmeos Josué e Celeste, fruto do relacionamento com a psicóloga Assíria Lemos. Além deles, Pelé teve duas filhas ilegítimas: Sandra Regina, cuja paternidade não foi reconhecida até a Justiça, falecida em 2006, e Flávia.

Carreira do ídolo

O maior jogador de futebol de todos os tempos estreou pela seleção em 1957, na partida da Copa Rocca contra a Argentina, onde também marcou seu primeiro gol com a camisa amarela. Ele venceu a Copa do Mundo de 1958 na Suécia com a seleção brasileira com apenas 17 anos.

Quatro anos depois, ele se machucou na segunda fase da Copa do Mundo no Chile, que o Brasil também venceu. Depois de ser perseguido por faltas duras em campo na Copa do Mundo de 1966 na Inglaterra, ele levou o lendário time do Brasil a uma terceira Copa do Mundo no México em 1970 – o único a ganhar três copas.

Pelo Santos, Pelé tem um cartel impressionante: conquistou dez vezes o Campeonato Paulista, torneio em que foi artilheiro por nove temporadas consecutivas. Também foi bicampeão da Libertadores e do Mundial de Clubes, em 1962 e 1963. Foi também com a camisa alvinegra do Peixe que marcou seu milésimo gol contra o Vasco, no Maracanã, em 19 de novembro de 1969.

Segundo dados do Santos, Pelé marcou 1.091 gols em 1.116 partidas pelo clube.

Com a camisa de Pelé, ele disputou 113 partidas e marcou 95 gols, segundo dados da CBF. São 77 gols em 91 partidas nas contas da Fifa, que levam em conta apenas os jogos entre seleções.

Ao longo de sua carreira, Pelé marcou 1.282 gols em 1.364 jogos pelo Santos. Nas redes sociais, King afirmou ter feito mais um, 1283.

Vida e Obra

O menino Edson ainda não tinha 10 anos quando viu seu pai Dondinho chorando ao lado do rádio. A Seleção Brasileira acabara de ser derrotada pelo Uruguai em dolorosa derrota no Maracanã na final da Copa de 1950, enterrando o sonho da nação de se sagrar campeã mundial. Essas lágrimas levaram Dic, como era chamado na casa dos Arantes do Nascimento, em Baur, a uma promessa: ganharia a Copa do Mundo para o pai se parasse de chorar.

Pouco tempo depois, Dico virou Pelé e cumpriu seu juramento: ganhou não apenas uma, mas três taças. Com as sobras, ele se tornaria o maior jogador de futebol de todos os tempos, o maior ícone de um esporte que é uma religião para muitos. Ele se tornou rei, conquistou o mundo e hoje seus súditos choram sua morte aos 82 anos.

Leva consigo notas que jamais poderão ser superadas. Ele é o único tricampeão mundial – a primeira taça conquistada quando adolescente, aos 17 anos, na Suécia – em uma carreira de 21 anos que começou no Santos em 1956 e terminou no Cosmos, de Nova York, em 1977.

 

Números obtidos pelo Pelé em sua carreira

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Foto: Infoesporte

 

Sem as suas chuteiras, tornou-se uma estrela internacional, foi estrela de cinema, gravou discos e emprestou sua imagem para a venda de muitos produtos, o maior cartaz tupiniquim. Teve uma vida agitada, polêmicas que às vezes o transformavam em vidraça. Ele ganhou fama como um pé de sangue frio com suas estimativas de gols que nem remotamente se comparam aos seus chutes.

A casca dura de um herói insuperável foi se afinando nos últimos anos com sucessivos problemas de saúde que mostraram a todos que Pelé era humano – acreditem. Em 2012, ele foi submetido a uma cirurgia para reparar um desgaste no quadril, que arrancou parte do fêmur, afetado por saltos imparáveis ​​durante seus anos no campo.

Em 2014, outro susto: ele foi internado para fazer uma cirurgia de retirada de cálculos renais e voltou ao hospital duas semanas depois para tratar uma infecção urinária. Um ano depois, ele foi submetido a uma cirurgia na coluna. Em 2019, voltou a sofrer com problemas urinários e foi internado – primeiro em Paris, depois em São Paulo.

Os últimos anos do Rei

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Foto publicada em fevereiro de 2022 — Foto: Arquivo pessoal

 

Símbolo de saúde, o rei começou a demonstrar sua fragilidade após 70 anos. Em 2012, precisou passar por uma endoprótese total do quadril direito. Na ocasião, o assessor do ex-jogador anunciou que Pelé aproveitaria a internação para fazer exames de renovação de seguro para corrigir “pequenos problemas no quadril”.

A situação era mais grave do que Pelé queria admitir. Em uma operação que durou 1 hora e 30 minutos, os médicos retiraram a cabeça do fêmur e a substituíram por uma prótese plástica, obrigando o ídolo a se locomover em uma cadeira de rodas por um tempo. Ele chorou ao sair do hospital e agradeceu as mensagens de apoio que recebeu. Ele permaneceu recluso durante sua recuperação para não ser visto em apuros.

Dois anos depois, cancelou um evento em Santos, horas antes da largada, porque não estava se sentindo bem. Após uma cirurgia para retirada de cálculos renais, ele ficou internado por três dias. Mais tarde, enquanto visitava médicos para monitorar seu progresso, ele foi hospitalizado novamente, desta vez com uma infecção do trato urinário. O problema tornou-se recorrente. Em 2019, voltou a incomodar e Pelé foi internado em Paris, onde Neymar o visitou, e depois em São Paulo.

Pelé precisou de atendimento médico novamente em 2021, quando passou por uma cirurgia para retirada de um tumor no intestino. Devido ao agressivo tratamento quimioterápico, a saúde do rei se complicou ao longo de 2022.

A doença fez dele o zagueiro mais duro que Pelé já enfrentou, o único que não conseguiu romper. Entre suas idiossincrasias, uma se destacou: a insistência em separar as duas personalidades, referindo-se a si mesmo na terceira pessoa, talvez conhecendo as poucas certezas que a vida tem. Edson morreu. Pelé, a lenda, viverá para sempre.