Review TBX | Irreversível – Quando ‘o tempo destrói tudo’

 

A essência de Gaspar Noé em um filme controverso

 

Com recente filme em cartaz no Brasil, chamado Clímax, o diretor Gaspar Noé promete manter seu tom visceral e controverso de tempos atrás. Por isso, para entender sua essência revisitamos um de seus mais intrigantes filmes, Irreversível.

 

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Sobre o filme

 

Com elenco de peso, exemplificado por Vincent Cassel, Monica Bellucci e Albert Dupontel, Irreversível conta a história de dois rapazes que buscam vingança após o estupro da namorada de um deles. O filme é contado de trás pra frente, para dar ao expectador ênfase as consequências em detrimento dos atos.

 

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O filme é rodado com câmera na mão. No início, os movimentos são mais atônitos, circulares e inconstantes, para dar a impressão de um grave transtorno que se dispõe na primeira alegoria. Um homem confessa ter tido relações sexuais com a própria filha. Na sequência, em um prédio próximo, uma boate gay esconde as práticas de fetiche cada vez mais insanas conforme a câmera segue o protagonista (Marcus, interpretado por Vincent). Unido a isso, após cenas extremamente explícitas sobre uma trilha sonora perturbadora temos seu estopim quando Pierre (Dupontel) destrói o crânio da vítima desferindo golpes com um extintor. O cara errado.

 

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A estética pende para tons quentes, excesso de tons avermelhados e luz turva, o que torna o filme ainda mais perturbador.

 

A cena de estupro

 

Conforme o filme avança, vemos o que acontece momentos antes daquilo que se sucedeu. A busca incessante pelo criminoso, o transtorno de Marcus sob efeito de bebidas e drogas, o momento em que descobrem que a personagem Alex (Monica Bellucci) foi brutalmente estuprada e uma das cenas consideradas mais violentas de estupro da história do cinema. Nesse momento a câmera fica estática para focalizar o que seriam os 9 minutos ininterruptos do estupro de Alex, seguido por golpes extremamente violentos.

 

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Não sou masoquista, não (risos). Simplesmente aceito papéis degradantes com o intuito de denunciar a violência contra as mulheres. Não gosto de vê-las sendo tratadas como prostitutas. As mulheres são sempre vítimas nas mãos dos homens e a única maneira de abrir os olhos do mundo é levar a situação às últimas consequências. A seqüência do estupro seguido de mutilação é difícil de assistir. (…) Minutos antes de filmar eu não tinha a menor idéia do que iria fazer. Mesmo assim, preferi não ensaiar o estupro para não perder o impacto. Só entrei na situação quando a câmera foi ligada. Confesso que fiquei ainda mais nervosa quando o ator que supostamente me violenta (Jo Prestia) começa a me espancar. Graças a Deus ele é um boxeador profissional, o que lhe garantiu o controle total na hora de dar socos e pontapés. Ele interrompia o movimento faltando um centímetro para me acertar. (…) De tão realista, as pessoas têm essa impressão. Mas nós fizemos seis tomadas. Por ser plano-sequência, eu ainda tinha de repetir tudo de uma só vez. Tinha de sair da casa, encontrar a prostituta na rua, descer as escadas, caminhar pela passagem subterrânea, testemunhar a briga e só depois ser atacada. Isso aumentava a angústia. – Monica Bellucci para Agencia Estado. Publicada em 20 de setembro de 2003.

 

A cena chocou os expectadores de Cannes na época em que foi exibido. Gaspar foi extremamente criticado por muitos, pelo seu grau de visceralidade mostrado na cena.

 

“Eu só queria que o assassinato fosse tão violento como na vida real. E que o estupro fosse tão repugnante, como na vida real”. – Disse o diretor após críticas negativas.

 

O que se sucede, ao mesmo tempo que se torna alívio, se torna nossos algozes, em uma infinidade de momentos em que uma simples atitude diferente poderia evitar o trágico: os excessos de Marcus na festa daquela noite, a recusa de Alex de alguém para acompanhá-la e a passividade de Pierre sobre as atitudes de seus amigos.

 

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Moral da história

 

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Alex se descobre grávida, e em seguida uma pacífica cena da personagem no parque dá lugar a frase que dá o último golpe em seus expectadores: O tempo destrói tudo.

 

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‘O tempo destrói tudo’, em francês.

 

Lançado em 2003 e rodado nas ruas de Paris, Irreversível conta com música de Thomas Bangalter, roteiro do próprio Gaspar Noé e Alain Juteau na direção de arte.

É bom estar preparado.

 

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