A arte de saber o que ler e quando ler

 

Livros não são chatos, difíceis, cansativos ou muito menos um problema para sua vida. Tudo o que você precisa saber é qual o seu jeito de ler

 

Cara gente nerd… É engraçado perceber o quanto o meio em que vivemos molda as pessoas que somos. Toda vez que tenho um tempo antes de dormir, ou um descanso para me perder em meus pensamentos (quando a correria do dia a dia permite), fico pensando nas minhas primeiras lembranças, quando era criança e quando o mundo parecia ser bem mais simples. É quando acabo percebendo que a leitura sempre esteve presente na minha vida.

Minha mãe trabalhava em uma escola e as vezes deixava eu entrar na biblioteca para ver os livros (mas sem pegar, apenas olhar). Enquanto olhava, ficava imaginando que, cada livro daquele, uma pessoa havia parado horas sentada em uma mesa dedicando seu tempo, mexendo a mão com uma caneta e transmitindo tudo o que sua mente queria dizer (achava isso um exercício admirável de persistência, já que ainda tinha dificuldade para desenhar minhas primeiras letras).

Cresci vendo minha irmã deitada em uma cama “devorando” a coleção Vagalume. Todas as vezes que ela mostrava a parte de trás do exemplar, a relação de livros que já tinha lido, eu simplesmente pirava pensando: “nossa, ela é boa nisso…” (saudades da coleção Vagalume, que nunca li).

Enquanto fui desenvolvendo meu hábito de ler, fui percebendo que as vezes as pessoas se frustram com leituras por não insistir em criar um ritmo e seguir uma rotina.

Por isso deixo aqui dicas de livros e tipos de leitura para cada momento.

 

A arte de saber o que ler e quando ler

 

A primeira leitura

Ninguém aprende a andar de bicicleta no primeiro dia, ou já sai dirigindo um carro. Tudo precisa ter seu tempo, de hábito, rotina, vontade e interesse.

Ler também é assim, você não vai se acostumar a gostar de fazer isso lendo logo livros com uma linguagem mais rebuscada ou com um número infinito de páginas (os famosos pesos de papel).

É claro que, quando vê um volume único de um Crônicas de Narnia você pode até se assustar, mas quando se depara com as edições separadas dá até para dizer: “ok, consigo encarar“.

Por isso recomendo livros “finos”, direcionados especificamente para o público jovem, onde a linguagem sempre busca ser atual e dinâmica. Esse tipo de livro entende que você não tem tempo, não tem hábito e muito menos pretensão de se prolongar.

 

A arte de saber o que ler e quando ler

 

Quem é você Alasca ( John Green) foi uma ótima experiência para leituras despretensiosas. Hoje em dia qualquer pessoa que me fala sobre dificuldade em começar a ler recomendo meu amigo Green. Esse cara é um dos melhores autores que já li. Consegue ser didático e envolvente, construindo de maneira perfeita a personalidade de seus personagens. Não estamos falando de livros com tramas envolventes e muito complexas. Green presa pela simplicidade, pelo fácil e faz isso muito bem. Você termina os livros e não sente o peso das folhas. Para pessoas que já tem o hábito de ler costumo recomendar como um “livro de transição”.

As vezes, quando lemos um livro com mais de 400 páginas, e por mais que tenhamos amado, nos sentimos exaustos para começar outra leitura “pesada” (qualquer um cansa). Por isso os “livros de transição” são ótimos para relaxar um pouco antes de encarar uma nova leitura densa.

 

Biografias, por que amá-las?

Existem momentos em que é comum se cansar da ideia de ler histórias que não são “verdadeiras”. Assim o mais apropriado e aconselhável é se agarrar às biografias.

2017 foi um ano em que tive muita dificuldade para começar novos livros. No entanto, o que me salvou de não perder a rotina de leitura foram as biografias. Esse segmento serve unicamente para nos posicionar no mundo, para continuarmos nos inspirando uns nos outros e nos motivando.

Pessoas dignas de biografias são aquelas que em sua trajetória tem algo de bom para acrescentar. Por isso esse tipo de leitura acaba sendo de grande satisfação e o sentimento de aprendizado é maior (as coisas são mais palpáveis e mensuráveis). Isso ocorre porque você está lidando com fatos e ideias, coisas que aconteceram e ensinaram algo a essas pessoas e como podem estar ensinando você.

Minha primeira biografia foi O Outro Lado de Mim, que é na verdade uma autobiografia de Sidney Sheldon, autor que curiosamente nunca li um livro. Mas essa obra em particular chegou nas minhas mãos pela minha irmã e a história desse homem contando a difícil e solitária vida de um escritor acabou me motivando a buscar saber mais sobre pessoas e suas histórias.

 

A arte de saber o que ler e quando ler

 

Aconselho a ler o que considero “a trindade do close certo”. Esses livros transmitem o que sinto sobre biografias. São os livros Eu Sou Malala, A Rainha de Katywe e Os Caminhos de Mandela, obras simplesmente lindas. Falei de duas delas em uma pequena resenha no meu Instagram @caragentenerd.

 

Livros seriados é assunto sério

Como disse antes, não se começa as coisas já das partes difíceis, e acompanhar uma serie de livros não é fácil, até mesmo para quem tem o hábito de ler diariamente. Todo mundo tem uma vida, um trabalho, filhos e amigos, outras coisas para fazer, além de ler livros.

E convenhamos, começar a acompanhar uma série e largar pela metade é o mesmo que começar a varrer uma casa e deixar a sujeira de baixo do tapete. No momento pode parecer tudo bem, mas você sabe que tem algo lá escondido esperando para ser resolvido. Por isso, quando começar uma série de livros seja honesto quanto à sua disposição, disponibilidade e vontade em ler.

 

A arte de saber o que ler e quando ler

 

Obviamente, falarei, enaltecerei e idolatrarei Harry Potter (quem não gosta sai da sala agora!), o melhor exemplo do universo das séries (bem imparcial). A saga tem um auto apelo didático e os primeiros livros são um tanto “infantiloides” (os que mais amo), porém é a melhor série para se ler. J. K. Rowling dá a oportunidade de, ao longo dos livros, você se desafiar a evoluir sua leitura de duas maneiras: lendo livros em série e com mais de 400 páginas (já que eles vão aumentando ao longo do tempo).

 

HQ também é leitura

Minhas primeiras HQs eram gibis (claro!). Li muitos gibis quando criança e simplesmente amava (ainda amo). Enquanto minha irmã desfilava pela casa com sua coleção Vagalume, eu me exibia com meus gibis. Porém você cresce, e os gibis dão lugar às HQs, obras que possuem personagens e histórias tão deslumbrantes quanto livros. Costumo ler HQs quando cansado, buscando soluções fáceis, com foco maior em entreter e distrair. As vezes é normal se cansar de apenas ver palavras na frente dos olhos, HQs usam da leitura como uma arte de observação.

 

A arte de saber o que ler e quando ler

 

Piada Mortal é uma boa pedida. Fácil, dinâmica, uma história conhecida, de personagens icônicos, distribuída em volume especial e único. Acho que Watchmen também é ótima (fiz um artigo aqui sobre o tema), mas acredito que algumas pessoas se assustariam com o volume.

 

Todo mundo tem um dia ruim/livro ruim

Experiências ruins sempre existirão. Todo mundo já teve um encontro ruim, um dia ruim ou um beijo ruim e foram essas coisas que acabaram ajudando a moldar nossas personalidades. Por isso, ao longo da vida, os livros aparecerão, contudo o que pode ser ruim para você pode ser bom para outro (tudo tem dois lados). Cabe aceitar e entender o que não gosta, e seguir em frente.

Certo dia vi Pedro Bial falando algo parecido com isso em uma conversa no programa Saia Justa: “as vezes você precisa se empenhar a ler um livro até o fim, mas também saber se desapegar se chegou a vigésima página e não está bom“.

 

A arte de saber o que ler e quando ler

 

Meu primeiro livro ruim foi tão ruim que quando falava dele tentava justificar com, “não é tão ruim é que é complicado entender o propósito do autor”. Alguns livros são assim, tão ruins que você tenta achar desculpas para você mesmo que tem um porquê de ser assim. A sensação é a mesma de quando você fica muito tempo em um relacionamento ruim e tenta achar desculpas do porquê está com a pessoa. Você lista algumas “verdades”, mas sozinho, antes de dormir, você sente que não são tão “verdadeiras” assim.

O Mundo de Sofia foi minha pior experiência. Li quinhentas páginas para a trama terminar de uma maneira que… MEU DEUS ODEIO SÓ DE LEMBRAR! Há quem goste, mas particularmente carrego um ranço até hoje.

 

Clássicos não são chatos. Nós que os classificamos assim

O problema dos clássicos é o fato de sempre serem apresentados nas listas de livros obrigatórios durante o ensino médio e a faculdade. A intensão é excelente, no entanto quem determina essas obrigações não entende (ou esquece) do instinto de rebeldia da juventude. Quando se tem por volta de uns 15 anos, normalmente você não gostará de um livro que foi obrigado a ler, unicamente pelo fato de ter sido obrigado. Isso gera um desconforto, muito antes de iniciar as primeiras páginas.

Por isso sou contra a apresentação de clássicos a primeiros leitores. existe um peso que deve ser tirado deles antes de serem apresentados.

 

A arte de saber o que ler e quando ler

 

Li outros clássicos antes desse que destaco, no entanto foi Hamlet que fez eliminar totalmente meu preconceito quanto a eles. Li Hamlet apenas porque vi uma edição linda com capa de tecido (coleção da Editora Abril). Roubei da estante da minha irmã certo de que iria detestar. A verdade é que a edição não voltou para a estante dela nunca mais, e está na minha como um dos meus xodós. Meu principal receio era com o tipo de texto, mas o envolvimento com a peça teatral é tão grande que aos poucos o autor suga você para o universo que criou. Hamlet conseguiu se tornar um grande amor na minha vida e depois desse livro tenho dificuldade em encontrar personagens tão complexos, completos e humanos quanto o protagonista.

 

A verdade é que, durante minha vida (até agora) ouvi muitos professores falarem “leiam, o poder da leitura transforma” ou “leiam qualquer coisa, mas leiam“. No entanto, ninguém explicava o porquê disso, o motivo da insistência e ênfase nesse tipo de frase. Parece um conselho dado apenas porque alguém deu e disse que daria muito certo.

E sei lá! Acho que ninguém dá muito valor a algo sem saber o porquê, sem entender com propriedade os benefícios do assunto. Afinal de contas, a leitura tem o poder de enriquecer nosso vocabulário. Com ela descobrimos palavras que nem achávamos que existiam e isso é ótimo em um mundo de “mesmices” que vivemos. Desenvolvemos um poder argumentativo, dissertativo e interpretativo. As coisas não são o que são porque são, existem fundamentos científicos e bibliográficos em nossas falas. Se torna muito mais fácil desenvolver diálogos com outras pessoas, já que aprendemos sobre muito mais coisas. O mundo parece ser mais claro e, as vezes, coisas que para muitos parecem “bichos de sete cabeças” para quem lê é algo apenas a ser analisado.

A leitura nos dá poder de concentração, imersão, imaginação, aprendemos a estimular nossa empatia, a sistematizar as coisas e colocar cada ponto em seu lugar. O hábito de ler nos transforma em pessoas mais vívidas, prontas para troca de experiências, menos amedrontadas e mais seguras de pensamentos e princípios. Exercitamos nosso cérebro constantemente, além de tornarmos socialmente inclusos dentro dos contextos do meio em que vivemos. Ou seja, a leitura nos dá o poder de argumentar mais e “xingar” menos.