A cineasta portuguesa Pedro Costa retorna com Vitalina Varela (2019), uma obra profundamente emocional e visualmente marcante, que explora as complexidades da dor, da perda e da identidade em um contexto migrante.
O filme segue a história de Vitalina Varela, uma mulher cabo-verdiana que chega a Lisboa para enterrar seu marido, apenas para descobrir que ele faleceu antes de sua chegada.
Este momento de luto, junto com as questões existenciais que surgem após a morte, torna o filme uma reflexão sensível sobre a solidão e a busca por um novo sentido em um ambiente urbano desolado.
Vitalina Varela é um filme que se destaca não apenas pela sua trama, mas pela sua estética única, com uma cinematografia intensa e contemplativa que leva o espectador a se imergir no universo interno de seus personagens.
A obra não é apenas um retrato da experiência migratória, mas também um estudo sobre a construção da identidade e a busca de significado dentro da dor e da perda.
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Sinopse: A Jornada de Luto e Reconfiguração

O filme segue Vitalina Varela (interpretada por Vitalina Varela), uma mulher cabo-verdiana que, após perder seu marido, chega a Lisboa com a esperança de realizar o funeral de sua alma gêmea.
No entanto, quando ela chega à cidade, descobre que seu marido faleceu dias antes de sua chegada. Esse acontecimento transforma sua jornada em uma busca por respostas, mas também em um processo de autodescoberta e solidão.
Em uma cidade grande e estranha, Vitalina vaga pelas ruas, lidando com os fantasmas do passado e tentando encontrar um sentido para sua vida, enquanto interage com outros migrantes e se confronta com as dificuldades da vida urbana.
A narrativa de Vitalina Varela é introspectiva, com uma atenção meticulosa aos detalhes, refletindo o vazio e a distância emocional que permeiam a jornada da protagonista.
A perda de seu marido, somada à descoberta de que ele tinha uma vida separada e repleta de segredos, obriga Vitalina a confrontar a fragilidade dos laços familiares e a dureza da imigração.
Ao mesmo tempo, ela é forçada a redefinir sua própria existência e lugar no mundo, enfrentando questões de identidade e pertencimento.
A Direção de Pedro Costa: Estética e Reflexão Contemplativa
Uma Abordagem Contemplativa e Intensa
Pedro Costa, renomado por seu estilo cinematográfico minimalista e altamente contemplativo, utiliza em Vitalina Varela as características que marcaram sua carreira, como a imersão nos aspectos humanos mais profundos e a busca por momentos de silêncio e introspecção.
A narrativa do filme, lenta e introspectiva, é uma exploração profunda da psique de Vitalina, onde a ação externa é muitas vezes secundária ao desenvolvimento interno da personagem.
Costa também se destaca pela fotografia de Vitalina Varela, que é um dos principais pilares do filme. A câmera fixa e contemplativa permite que o espectador se conecte intimamente com as emoções e os dilemas da protagonista.
A luz suave e as sombras intensas criam uma atmosfera melancólica, que é perfeita para o tema de luto e solidão.
O uso de espaços escuros e quase claustrofóbicos na maioria das cenas confere uma sensação de aprisionamento, simbolizando a jornada interior de Vitalina, que parece estar presa tanto ao seu luto quanto ao seu novo ambiente.
O Enfrentamento com a Morte e a Busca pela Identidade
O filme também faz um confronto com a morte e a perda, onde a ausência de seu marido é sentida de maneira tangível em cada passo que Vitalina dá.
Sua chegada à cidade e o processo de lidar com a morte de um ente querido tornam-se uma metáfora para os desafios emocionais da imigração, a estranheza de um novo lugar, e a busca por identidade em um contexto de exclusão social.
O Silêncio como Forma de Expressão
Pedro Costa utiliza o silêncio como uma ferramenta narrativa fundamental. As longas pausas e os momentos sem diálogos são muito mais do que uma escolha estilística — eles representam o vazio interior da personagem e a maneira como ela lida com o peso de sua própria história.
O silêncio é, portanto, um personagem à parte, um espaço em que a dor e as lembranças de Vitalina se manifestam sem palavras, tornando o filme uma experiência sensorial.
A Personagem de Vitalina: Uma Mulher de Força e Vulnerabilidade
A Performática de Vitalina Varela: Intensa e Real
A interpretação de Vitalina Varela, que também é a protagonista da história, é um dos maiores pontos fortes do filme.
Sua atuação é simples, mas profundamente intensa, capturando as camadas emocionais de uma mulher que é forçada a lidar com um mundo novo e cruel, enquanto carrega o peso de seu próprio luto.
Varela consegue transmitir, de maneira quase silenciosa, as emoções complexas de sua personagem, tornando-a uma figura profunda, complexa e cheia de humanidade.
A personagem de Vitalina é uma mulher marcada pela dor da perda, pela solidão, e pela necessidade de reconstrução pessoal.
A força de sua interpretação reside justamente na sua capacidade de mostrar as complexidades dessa mulher, que, mesmo diante de tudo o que a vida lhe impõe, se mantém firme e resiliente.
A Complexidade da Mulher Migrante
O filme também aborda a condição da mulher migrante, que, ao chegar em Lisboa, não encontra as esperanças que idealizou.
Vitalina não é apenas uma vítima das circunstâncias, mas uma mulher que luta, com suas próprias forças e limitações, para lidar com os fantasmas de seu passado e tentar reconstruir sua vida.
Ela se vê não apenas como uma migrante, mas como uma mulher que se desliga de seu passado para buscar um novo significado.
A Temática da Imigração: Reflexão Sobre a Condição Humana
A Dureza da Vida dos Imigrantes
A jornada de Vitalina, além de ser uma história de luto, é também um comentário sobre as dificuldades da imigração.
Em Lisboa, ela encontra uma cidade fria, que pouco se importa com sua presença e com as necessidades dos migrantes. Ela é tratada como uma estranha em um ambiente que, apesar de ser urbano e cosmopolita, não oferece acolhimento aos que chegam em busca de uma vida melhor.
Esse contexto é mais um ponto de crítica no filme, que expõe as dificuldades de adaptação e as marginalizações que muitas vezes os migrantes enfrentam ao tentar construir uma nova vida longe de casa.
Conclusão: Vitalina Varela como uma Obra de Dor, Solidão e Redefinição

Vitalina Varela é um filme profundamente emocional e introspectivo que oferece uma visão intensa sobre a dor da perda e os desafios da imigração.
Através da perspectiva única de Pedro Costa, o filme transcende a simples narrativa de luto para se tornar uma reflexão poderosa sobre identidade, pertencimento e resiliência.
A interpretação impressionante de Vitalina Varela e a fotografia poética do filme tornam-no uma obra imperdível para os amantes do cinema autoral e para aqueles que buscam uma experiência cinematográfica mais profunda.
Assista ao trailer de “Vitalina Varela”
No Brasil, “Vitalina Varela” não está disponível para streaming. No entanto, você encontra a obra na Apple TV, dependendo da região.