Victoria (2015) – Um suspense eletrizante filmado em um único plano-sequência, onde uma noite comum se torna um pesadelo
Poucos filmes conseguem proporcionar ao espectador uma sensação tão intensa de imersão quanto Victoria (2015).
Dirigido por Sebastian Schipper, esse thriller alemão se diferencia ao ser inteiramente filmado em um único plano-sequência de 134 minutos, sem cortes, acompanhando a protagonista ao longo de uma noite que começa com diversão e espontaneidade, mas rapidamente se transforma em um pesadelo.
A cinematografia ousada e a atuação naturalista fazem de Victoria um marco no cinema independente, provando que é possível criar uma obra vibrante e eletrizante sem recorrer a cortes convencionais ou truques de edição.
Neste artigo, exploramos a trama, a técnica impressionante do filme e seu impacto no gênero de suspense.
Saiba mais:
Cães Selvagens (2016): Um thriller caótico sobre três criminosos em uma missão suicida
Mad Dogs (2011): Um suspense britânico onde uma viagem entre amigos se transforma em um pesadelo
Sinopse: Uma noite que foge do controle
A história segue Victoria (Laia Costa), uma jovem espanhola que vive em Berlim e trabalha em um café durante o dia. Sem muitos amigos e buscando diversão, ela sai sozinha para uma boate, onde acaba conhecendo Sonne (Frederick Lau) e seus amigos.
Os rapazes, carismáticos e aparentemente inofensivos, convidam Victoria para passear pela cidade. Ela aceita, animada com a possibilidade de uma aventura espontânea.
No entanto, conforme a noite avança, ela descobre que o grupo tem dívidas com um criminoso perigoso e precisa realizar um assalto a banco para pagá-lo.
Sem saída, Victoria se vê forçada a participar do crime, e o que era um flerte inocente rapidamente se transforma em uma corrida desesperada para escapar da polícia e da violência do submundo de Berlim.
A grandiosidade do plano-sequência de 134 minutos
O que torna Victoria uma obra-prima técnica é sua execução: o filme foi filmado em tempo real, sem cortes, em uma única tomada contínua que se estende por duas horas e quatorze minutos.
1. Como o plano-sequência foi realizado?
Sebastian Schipper e sua equipe tiveram apenas três tentativas para filmar o longa. Com um roteiro reduzido a apenas 12 páginas, a maior parte dos diálogos foi improvisada pelos atores, exigindo um nível altíssimo de sincronização entre elenco, equipe técnica e operadores de câmera.
A versão final do filme é a terceira tomada, filmada sem interrupções nas ruas de Berlim durante a madrugada. O diretor rejeitou qualquer tipo de edição posterior, garantindo que tudo o que vemos na tela aconteceu exatamente como foi capturado.
2. O impacto do plano-sequência na experiência do espectador
Ao eliminar cortes, Victoria coloca o público diretamente dentro da história. Em vez de acompanhar os eventos de uma perspectiva distante, o espectador vive cada momento junto com a protagonista, sentindo a adrenalina e a tensão conforme a noite se desenrola.
A cinematografia de Sturla Brandth Grøvlen, que ganhou o Urso de Prata de Contribuição Artística Excepcional no Festival de Berlim, faz um trabalho magistral ao guiar a câmera de forma orgânica e fluida, garantindo que a ação nunca perca o ritmo.
Atuações realistas e envolventes
Para um filme baseado em improvisação e que exige total entrega do elenco, as atuações em Victoria são surpreendentemente naturais e autênticas.
- Laia Costa (Victoria) entrega uma performance brilhante, capturando perfeitamente a transformação de sua personagem de uma jovem ingênua e aventureira para uma mulher presa em uma situação de vida ou morte.
- Frederick Lau (Sonne) interpreta um jovem carismático e impulsivo, cuja boa intenção não é suficiente para evitar o desastre. Sua química com Victoria faz com que o início do filme pareça um romance, aumentando o impacto da virada para o suspense.
- Os amigos de Sonne (Franz Rogowski e Burak Yiğit) também adicionam camadas à narrativa, criando personagens complexos e críveis que oscilam entre o cômico e o trágico.
A naturalidade dos diálogos e das interações reforça a sensação de espontaneidade e realismo, fazendo com que o espectador acredite que realmente está acompanhando um evento acontecendo ao vivo.
Temas centrais: O acaso e a fragilidade das escolhas
Embora seja um thriller eletrizante, Victoria também aborda temas profundos sobre o acaso e como pequenas decisões podem mudar vidas para sempre.
1. A ilusão do controle
Victoria começa a noite acreditando que está apenas se divertindo, mas logo percebe que não tem controle sobre os acontecimentos. O filme mostra como uma simples escolha – sair com um grupo de estranhos – pode levá-la a um ponto sem retorno.
2. A empolgação do desconhecido vs. a dura realidade
No início, a protagonista é atraída pela espontaneidade de Sonne e seus amigos, representando o desejo de liberdade e aventura. No entanto, o filme faz um contraponto entre essa fantasia e a realidade brutal do submundo do crime, onde decisões erradas podem ter consequências fatais.
3. O peso da culpa e da responsabilidade
Conforme a trama avança, Victoria se torna cada vez mais envolvida na situação e precisa lidar com a culpa e as consequências de suas ações. O filme questiona até que ponto somos responsáveis por escolhas feitas sob pressão.
Recepção e legado de Victoria
O filme foi amplamente elogiado pela crítica, especialmente por sua técnica inovadora e abordagem imersiva.
- Festival de Berlim: Venceu o Urso de Prata pela cinematografia de Sturla Brandth Grøvlen.
- German Film Awards: Levou seis prêmios, incluindo Melhor Filme e Melhor Direção.
- Rotten Tomatoes: 82% de aprovação da crítica.
Aclamado como um dos filmes mais inovadores da década, Victoria influenciou outras produções a experimentarem com planos-sequência longos e improvisação, consolidando-se como um marco do cinema independente europeu.
Conclusão: Um filme que redefine o suspense
Victoria não é apenas um thriller eletrizante – é uma experiência cinematográfica única que coloca o espectador dentro da ação como poucos filmes conseguem. Seu plano-sequência ininterrupto cria uma imersão total, tornando cada momento mais intenso e imprevisível.
Para quem busca um filme diferente, emocionante e tecnicamente desafiador, Victoria é imperdível. É uma prova de que o cinema ainda tem espaço para inovação e que, quando feito com paixão e coragem, pode levar o público a um novo nível de envolvimento emocional.
Assista ao trailer de “Victoria”
No Brasil, “Victoria” está disponível na Amazon Prime Video e Apple TV+.