Thelma: suspense sobrenatural norueguês que explora desejos, medos e telecinese

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Thelma (2017), dirigido por Joachim Trier, é um filme norueguês que mistura elementos de suspense, drama psicológico e fantasia.

A obra se destaca por sua atmosfera tensa e cheia de mistério, enquanto acompanha a jornada de uma jovem que descobre possuir poderes telecinéticos, tudo isso em meio a um cenário de repressão emocional e autoaceitação.

A trama envolve a personagem-título, Thelma, uma jovem que sai do interior da Noruega para estudar em Oslo. À medida que ela começa a se apaixonar por uma colega de classe, ela descobre uma habilidade sobrenatural capaz de transformar sua vida em um pesadelo.

O filme, com sua carga emocional densa e um enredo envolvente, se tornou um dos maiores sucessos de crítica de 2017, conquistando prêmios e aclamação internacional.

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A trama de Thelma: entre a descoberta e o medo

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Imagem: The Movie Database

Thelma e seu segredo sobrenatural

O filme começa com Thelma (interpretada por Eili Harboe) deixando sua cidade natal para estudar biologia em Oslo. Ela foi criada em um ambiente rígido, com pais extremamente religiosos e controladores, que a incentivam a reprimir seus próprios desejos e emoções.

A jovem tenta seguir uma vida de conformidade, até que algo acontece: ao se apaixonar por Anja (Kaya Wilkins), uma colega de classe, Thelma começa a manifestar habilidades telecinéticas.

A princípio, seus poderes se manifestam de forma sutil, mas logo se tornam incontroláveis. Ela tem visões intensas e começa a perceber que suas emoções podem afetar fisicamente o mundo à sua volta.

Esse processo de descoberta ocorre ao mesmo tempo em que Thelma lida com o crescente desejo por Anja, o que a coloca em um dilema existencial: seria esse poder uma maldição ou uma expressão de sua verdadeira identidade?

A repressão como tema central

Ao longo da narrativa, o filme faz um paralelo entre o crescimento emocional e a repressão dos desejos. Thelma, criada em um ambiente opressor, está em uma luta constante entre seus sentimentos por Anja e os ensinamentos religiosos e morais impostos por seus pais.

A tensão entre querer ser quem ela é e temer as consequências de seus sentimentos se torna um conflito central do filme.

Essa luta interna se materializa não apenas nas escolhas da personagem, mas também na manifestação de seus poderes sobrenaturais. Cada ato de “libertação” emocional parece causar consequências físicas aterradoras, o que torna o controle sobre si mesma um desafio angustiante.

O clima atmosférico e a tensão visual de Thelma

Suspense psicológico e visual

Thelma não é apenas um filme sobre telecinese, mas uma experiência cinematográfica profundamente atmosférica.

A direção de Joachim Trier é cuidadosa ao construir o suspense e a tensão, utilizando uma paleta de cores sombrias e uma cinematografia minimalista para amplificar o desconforto emocional da protagonista.

A câmera se aproxima de Thelma de maneira quase voyeurista, capturando sua vulnerabilidade e incerteza em momentos silenciosos e introspectivos.

As cenas de suspense, em que seus poderes começam a se manifestar de forma visível, são meticulosamente filmadas para aumentar a sensação de incerteza e desconforto. Trier também se utiliza de longos planos de silêncio, que criam um ambiente denso e inquietante.

A relação entre a protagonista e o ambiente

A paisagem norueguesa, com suas montanhas geladas e vastas florestas, serve como um contraponto perfeito para a jornada interna de Thelma. O frio e a vastidão do ambiente refletem a solidão e a alienação que ela sente ao tentar entender sua identidade e lidar com seus poderes.

Além disso, o filme utiliza essas paisagens para criar uma sensação de confinamento, sugerindo que, assim como a protagonista, a própria Noruega parece cercá-la, reforçando a ideia de isolamento e repressão.

A sexualidade e a identidade em Thelma

O despertar da sexualidade e os conflitos internos

Uma das camadas mais fascinantes de Thelma é a exploração do despertar da sexualidade da protagonista.

O filme não se limita a ser uma história de terror ou um thriller sobrenatural; ele também é um estudo sobre a descoberta da identidade sexual e a maneira como essa descoberta pode ser vista como um pecado ou algo “errado” quando reprimido.

À medida que Thelma desenvolve sentimentos por Anja, ela é confrontada com a culpabilidade por esses sentimentos. O processo de autoconhecimento se mistura com o medo e a confusão sobre como seu amor por outra mulher pode ser entendido pelos outros, especialmente pelos seus pais.

A relação de Thelma com Anja também é representada de forma ambígua. Anja, que parece ser a personificação da liberdade para Thelma, também se torna um objeto de sua obsessão.

Ela pode ser vista como uma fonte de desejo e desejo reprimido, mas também uma personificação do que a protagonista teme e tenta controlar.

Os temas sobrenaturais e a telecinese como metáforas

Poderes telecinéticos como expressão emocional

A habilidade de Thelma de mover objetos com a mente é mais do que uma característica sobrenatural: ela é uma metáfora para os sentimentos reprimidos que ela não consegue controlar.

O poder de mover objetos fisicamente é um reflexo de como suas emoções intensas — especialmente o amor e o desejo — podem “explodir” para fora de seu corpo de maneiras que ela não consegue controlar.

A telecinese, portanto, não é apenas um recurso para criar tensão e suspense, mas uma forma de visualizar os conflitos internos de Thelma. Quanto mais ela tenta suprimir seus sentimentos, mais destrutivas suas ações se tornam.

O sobrenatural e a repressão como elementos interligados

O filme sugere que o sobrenatural está intrinsecamente ligado à repressão psicológica e emocional. Assim como a sociedade tenta suprimir o comportamento de Thelma e ela mesma tenta controlar sua natureza, seus poderes aumentam em intensidade.

A telecinese, portanto, não é apenas um dom, mas também uma metáfora para os limites impostos pela sociedade, especialmente no que diz respeito à sexualidade e à autoexpressão.

Atuações marcantes

Eili Harboe como Thelma

A jovem atriz Eili Harboe entrega uma performance impressionante como Thelma. Sua capacidade de transmitir os conflitos internos da personagem, suas inseguranças e sua crescente compreensão de seus poderes, faz dela o coração do filme.

Harboe consegue equilibrar momentos de fragilidade com explosões emocionais intensas, o que torna sua interpretação cativante e cheia de camadas.

Kaya Wilkins como Anja

A atriz Kaya Wilkins tem um papel fundamental como Anja. Sua personagem é a representação da liberdade e da sensualidade que Thelma deseja, mas também a catalisadora de suas reações mais intensas.

A atuação de Wilkins é delicada e cheia de nuances, fazendo com que Anja pareça ao mesmo tempo uma fonte de desejo e um objeto de obsessão.

Recepção e legado de Thelma

Crítica positiva e reconhecimento internacional

Thelma foi amplamente elogiado pela crítica, sendo considerado um dos melhores filmes de 2017.

A forma como o filme mistura o suspense psicológico com uma reflexão sobre identidade e repressão foi particularmente destacada. A recepção do público foi igualmente positiva, com muitos considerando a obra um exemplo de cinema que transcende as fronteiras do gênero de terror.

O filme também foi indicado ao Prêmio de Melhor Filme Estrangeiro no Satellite Awards e ao Prêmio de Melhor Filme Europeu no European Film Awards.

Por que assistir Thelma em 2025?

1. Para uma história de autodescoberta profunda

Se você está em busca de um filme que explore não apenas o sobrenatural, mas também temas como repressão, identidade e desejo, Thelma é uma escolha essencial.

A jornada emocional da protagonista é universal, e a maneira como o filme lida com o despertar da sexualidade é feita com sensibilidade e inteligência.

2. Porque o suspense psicológico nunca envelhece

A habilidade de Joachim Trier de criar uma atmosfera densa e angustiante continua a ser relevante. Mesmo anos após seu lançamento, o filme mantém a tensão e o mistério, proporcionando uma experiência cinematográfica única.

3. Pela atuação impressionante de Eili Harboe

A performance de Eili Harboe como Thelma é, sem dúvida, um dos grandes destaques do filme. Sua habilidade de expressar a luta interna da personagem em um nível emocional profundo é o que torna Thelma um filme verdadeiramente inesquecível.

Conclusão

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Imagem: The Movie Database

Thelma é um thriller psicológico que vai além de suas premissas sobrenaturais. Através da jornada de uma jovem em busca de autoaceitação, o filme propõe uma reflexão sobre desejos, repressões e as consequências emocionais de não ser capaz de controlar o próprio corpo e as próprias emoções.

Se você busca uma obra que combine mistério, tensão psicológica e uma poderosa mensagem sobre identidade e sexualidade, Thelma é, sem dúvida, uma experiência cinematográfica inesquecível.

Assista ao trailer de “Thelma”

No Brasil, “Thelma” está disponível para streaming na Amazon Prime Video.