Em uma era de séries rápidas, diálogos inteligentes e estruturas inovadoras, State of the Union se destaca como uma joia compacta, afiada e emocionalmente ressonante.
Criada por Nick Hornby (autor de Alta Fidelidade e Um Grande Garoto) e dirigida por Stephen Frears, essa comédia dramática estreou em 2019 e conquistou reconhecimento internacional com sua proposta simples, mas profunda: mostrar casais se encontrando por 10 minutos antes de suas sessões semanais de terapia de casal.
Cada episódio se passa em um pub, sempre antes da consulta, e funciona como um mini-retrato de um relacionamento em crise — e em transformação.
Com duas temporadas até agora, e episódios curtos que não ultrapassam os 10 minutos, State of the Union prova que profundidade emocional não exige longas durações, apenas boa escrita, grandes atuações e um tema universal: o desafio de amar e ser amado.
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Premissa Inovadora: Conversas Antes da Terapia de Casal

O grande trunfo da série é seu formato: um casal, uma conversa, um pub. Cada episódio se passa no mesmo local — uma espécie de zona neutra, informal e segura — e se desenrola pouco antes da sessão de terapia de casal do casal em questão.
Nesses poucos minutos, eles discutem o que vão dizer, relembram mágoas, trocam acusações, confidências e até risadas.
Ao longo dos episódios, o espectador é levado a montar o quebra-cabeça emocional daquele relacionamento, peça por peça.
Nada é entregue de forma didática: tudo é revelado organicamente, por meio de diálogos afiados, cômicos e melancólicos. É um verdadeiro estudo sobre a linguagem do amor — suas contradições, fragilidades e potências.
Temporada 1: Tom e Louise
A primeira temporada (2019) apresenta Tom (Chris O’Dowd) e Louise (Rosamund Pike), um casal de quarentões que está enfrentando uma crise conjugal. Louise teve um caso extraconjugal, Tom deixou de lado suas ambições profissionais, e ambos parecem presos em um ciclo de ressentimento silencioso.
A química entre O’Dowd e Pike é magnética. Seus personagens estão claramente feridos, mas também ainda profundamente conectados.
As conversas, embora tensas, são pontuadas por ironia e afeição, revelando a complexidade do amor maduro — aquele que sobrevive a traições, frustrações e expectativas quebradas.
Temas abordados:
- Infidelidade
- Comunicação falha
- Rotina conjugal
- Autoconhecimento
- Culpabilidade e perdão
Temporada 2: Scott e Ellen
A segunda temporada (2022) traz novos personagens: Scott (Brendan Gleeson) e Ellen (Patricia Clarkson), um casal mais velho, com visões de mundo completamente diferentes. Scott é um sindicalista de esquerda aposentado; Ellen, uma musicista sofisticada que valoriza experiências e liberdade.
O contraste de valores é evidente desde o primeiro episódio, o que gera uma tensão cômica irresistível. Os debates vão de política a estilo de vida, mas o pano de fundo é o mesmo: dois indivíduos tentando entender se ainda existe “nós” dentro de suas individualidades.
A atuação de Gleeson e Clarkson é uma verdadeira aula de timing dramático e cômico. Com interpretações cheias de nuances, eles mostram que a vulnerabilidade e o senso de humor não têm idade.
Diálogos como Ferramenta de Autópsia Emocional
Um dos maiores méritos de State of the Union é o uso dos diálogos como espelho do relacionamento. Cada linha revela algo escondido — um ressentimento antigo, um desejo reprimido, uma falha de escuta.
Não há grandes reviravoltas, trilhas sonoras emotivas ou cenários elaborados. A série aposta tudo no texto — e acerta em cheio.
O humor, muitas vezes ácido, serve não para aliviar o drama, mas para dar profundidade a ele. As piadas não escondem a dor — escancaram-na, tornando-a mais real e mais humana.
Terapia de Casal: Um Tema Universal
A escolha do tema terapia de casal é especialmente relevante num mundo onde relacionamentos são, ao mesmo tempo, mais livres e mais frágeis.
State of the Union não idealiza a terapia — pelo contrário, mostra como ela é desconfortável, reveladora e, às vezes, frustrante. Mas também mostra seu valor transformador.
Ao acompanhar casais em crise, a série levanta questões que ecoam em qualquer relação:
- Como manter o diálogo quando tudo parece dito (ou engasgado)?
- Como reconstruir a intimidade depois da mágoa?
- Quando vale a pena insistir?
- É possível mudar sem se perder?
Reconhecimento e Prêmios
State of the Union foi aclamada pela crítica e venceu diversos prêmios, incluindo três Emmy Awards em 2019 (Melhor Série Curta, Melhor Ator e Melhor Atriz).
Aclamada por sua economia narrativa e profundidade emocional, a série se tornou um exemplo de como o formato curto pode ser tão impactante quanto séries longas.
Por Que Assistir State of the Union?
Episódios Curtos e Envolventes
Ideal para quem quer conteúdo de qualidade sem se comprometer com longas maratonas.
Atuações de Alto Nível
Elencos premiados e atuações refinadas tornam cada conversa envolvente e memorável.
Reflexão Sobre o Amor Adulto
State of the Union não romantiza os relacionamentos — ela os humaniza, com tudo que isso implica.
Escrita Brilhante
Nick Hornby oferece diálogos rápidos, naturais e cheios de camadas — como a vida real.
Conclusão: State of the Union é Sobre a Coragem de Continuar Conversando

Mais do que uma série sobre terapia de casal, State of the Union é uma celebração do diálogo — mesmo quando ele é difícil. Mesmo quando ele dói. Mesmo quando parece não haver mais nada a dizer.
Em tempos de relações líquidas e desconexões constantes, a série lembra que manter uma conversa é, talvez, o maior ato de amor. Porque, no fim, os casais que continuam conversando — mesmo no pub, mesmo entre alfinetadas — ainda estão tentando. E tentar já é muito.
Assista ao trailer de “State of the Union”
No Brasil, “State of the Union” não está disponível para streaming. No entanto, você encontra a obra na Apple TV, dependendo da região.