Série Profit: O anti-herói corporativo que antecipou o cinismo do século XXI
Lançada em 1996 e cancelada após poucos episódios, a série Profit se tornou uma das produções mais cultuadas e controversas da televisão americana.
Com apenas oito episódios, o drama de suspense corporativo criado por David Greenwalt e John McNamara apresentou um personagem central fascinante e perturbador: Jim Profit, um executivo sociopata que usa manipulação, chantagem e sabotagem para ascender em uma gigante multinacional.
Apesar de sua curta duração, a série deixou um legado, sendo frequentemente lembrada como uma produção visionária — muito à frente de seu tempo — e precursora de personagens moralmente ambíguos que hoje dominam as telas, como Walter White (Breaking Bad) e Tony Soprano (The Sopranos).
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A trama central de Profit: Ambição sem limites

A série Profit acompanha Jim Profit (interpretado por Adrian Pasdar), um jovem executivo recém-promovido na poderosa corporação Gracen & Gracen. Por trás de sua fachada carismática e eficiente, Profit é um manipulador frio, capaz de qualquer coisa para garantir seu avanço na empresa.
Desde extorsão e espionagem até assassinato, Profit emprega uma gama de táticas antiéticas com calma calculada. Seu apartamento contém uma parede inteira de monitores que espiona colegas e rivais, refletindo seu controle constante sobre todos ao redor.
Mas o aspecto mais chocante da série talvez seja sua habilidade de fazer o público torcer por ele, mesmo sabendo de sua natureza destrutiva.
A construção do anti-herói corporativo
A série Profit foi revolucionária por colocar no centro da narrativa um protagonista sem nenhuma bússola moral.
Diferente dos vilões clássicos, Jim Profit não age por vingança ou trauma visível — embora seu passado tenha traços sombrios — mas sim por uma sede insaciável de poder e controle. Sua infância traumática, marcada por abuso e negligência, é revelada aos poucos, oferecendo nuances à sua personalidade.
Ele não apenas conhece os mecanismos do poder corporativo: ele os domina. Profit sabe como jogar com a vaidade dos chefes, o medo dos subordinados e as fragilidades pessoais de cada colega. Para ele, o mundo dos negócios é uma selva, e ele é o predador máximo.
Estilo visual e narrativa inovadora
A série Profit não se destacou apenas por sua temática ousada, mas também pelo estilo visual arrojado. A direção de arte aposta em tons escuros, espelhos e enquadramentos que reforçam a duplicidade do protagonista.
As cenas em que Profit fala diretamente com o público — rompendo a quarta parede — foram especialmente impactantes, antecipando estratégias narrativas que se tornariam populares décadas depois em séries como House of Cards.
Além disso, a ambientação corporativa ganha tons quase góticos, com escritórios frios e corredores labirínticos que espelham a teia de manipulações do personagem principal. A trilha sonora, discreta e tensa, contribui para o clima de constante ameaça.
Temas centrais da série Profit
Ambição desenfreada
No coração da série Profit está a ambição como força destrutiva. Jim não quer apenas subir na hierarquia: ele quer dominar tudo ao seu redor. A série propõe uma reflexão sobre os limites éticos do sucesso, especialmente em ambientes corporativos onde a meritocracia é frequentemente uma fachada.
Sociopatia e controle emocional
Jim Profit não sente culpa, arrependimento ou empatia — e isso é mostrado com uma frieza quase científica. O espectador acompanha, com certo fascínio mórbido, como alguém sem escrúpulos consegue se infiltrar em ambientes onde ética e imagem são pilares.
Crítica ao corporativismo
A Gracen & Gracen não é apenas um cenário. Ela é uma metáfora do capitalismo corporativo, onde aparências importam mais do que valores, e onde segredos são moeda de troca.
A série Profit questiona se o verdadeiro vilão é Jim ou o próprio sistema que permite (e até recompensa) comportamentos como o dele.
Por que a série Profit foi cancelada?
Apesar de elogios da crítica e uma base de fãs leal, a série Profit foi cancelada após a exibição de apenas quatro episódios.
O motivo? Principalmente a reação negativa do público e de patrocinadores. Muitos telespectadores consideraram o personagem principal “diabólico demais” para protagonizar uma série em horário nobre.
Em uma época dominada por heróis tradicionais e sitcoms familiares, Profit chocou ao inverter os papéis. Em vez de um herói enfrentando um vilão, o vilão era o herói — e ele vencia. Executivos da FOX, temendo a rejeição ampla do público, encerraram a série prematuramente.
O renascimento como série cult
Com o passar dos anos, Profit passou a ser reconhecida como uma série à frente de seu tempo. Foi relançada em DVD, ganhou retrospectivas e artigos que a colocam entre os marcos da televisão moderna. A série Profit é hoje estudada como precursora de narrativas centradas em anti-heróis, como:
- Dexter (2006–2013)
- Mad Men (2007–2015)
- Breaking Bad (2008–2013)
- House of Cards (2013–2018)
Essas produções caminharam por trilhas abertas por Profit, com protagonistas ambíguos, manipulação emocional e críticas incisivas a instituições sociais.
A atuação de Adrian Pasdar
O desempenho de Adrian Pasdar como Jim Profit foi essencial para o impacto da série. Ele equilibra charme, frieza e inteligência com precisão, criando um personagem que é ao mesmo tempo repulsivo e hipnotizante.
Pasdar construiu um vilão tão carismático que, em muitos momentos, o espectador torce por ele — mesmo contra a própria razão.
A performance foi tão marcante que influenciou o tipo de papéis oferecidos ao ator no futuro e se tornou referência para intérpretes de personagens similares em séries posteriores.
A importância da série Profit no contexto atual
Mais de 25 anos depois, os temas abordados em Profit se tornaram ainda mais relevantes. Em um mundo dominado por escândalos corporativos, CEOs bilionários e algoritmos que manipulam comportamentos, o perfil de Jim Profit parece mais real do que nunca.
A série Profit também dialoga com questões contemporâneas sobre saúde mental, abuso infantil, e os limites da ambição profissional — tornando-a uma obra que merece ser redescoberta e discutida.
Conclusão: Por que assistir à série Profit hoje

Revisitar a série Profit em 2025 é mais do que uma curiosidade nostálgica. É uma oportunidade de explorar uma narrativa ousada que desafiou as convenções da TV americana muito antes de seu tempo.
Com um protagonista inesquecível, crítica mordaz ao corporativismo e estilo visual inovador, Profit é uma pérola obscura que merece ser redescoberta por novas gerações.
Assista ao trailer de “Profit”
No Brasil, “Profit” não está disponível para streaming. No entanto, você encontra a obra na Amazon Prime Video, dependendo da região.