Hollywood (2020): Como a Série de Ryan Murphy Reinventa a História de Hollywood
A série Hollywood, lançada em 2020 pela Netflix e criada por Ryan Murphy, oferece uma abordagem ousada e revisionista à história do cinema americano.
Em vez de seguir as regras rígidas e as convenções históricas sobre o apogeu de Hollywood após a Segunda Guerra Mundial, a produção propõe uma versão alternativa.
A história segue como a indústria cinematográfica poderia ter sido, com uma abordagem mais inclusiva, onde figuras marginalizadas e minorias têm a chance de alcançar o estrelato e romper barreiras que na vida real levaram décadas para ser superadas.
Ambientada no final dos anos 1940, Hollywood mistura elementos de drama histórico com um toque de ficção e fantasia, colocando uma lente crítica sobre as questões de racismo, sexismo e homofobia que dominaram o sistema de estúdios da época.
A série não só mostra como as oportunidades eram escassas para pessoas não-brancas e para a comunidade LGBTQIA+ em Hollywood, mas também faz uma reinterpretação de como a indústria poderia ter sido se as regras fossem diferentes.
Neste artigo, exploraremos a trama de Hollywood, seus personagens, os temas centrais que são discutidos e o impacto cultural que a série teve ao apresentar uma versão alternativa do cinema clássico.
Saiba mais:
Bates Motel: A Jornada Sombria e Psicológica de Norman Bates
Lie to Me (2009): Decodificando Mentiras com a Linguagem Corporal
A Premissa de Hollywood: Uma História Alternativa

O Contexto Histórico e o Mundo do Cinema nos Anos 40
Hollywood se passa no final da Segunda Guerra Mundial e nos primeiros anos da década de 1940, período em que o cinema estava no auge de sua popularidade, mas também enfrentava uma série de questões sociais e culturais, como segregação racial, preconceito de gênero e homofobia.
Na trama, a série foca em um grupo de aspirantes a estrelas e profissionais da indústria cinematográfica que, ao tentar alcançar seus sonhos, enfrentam as dificuldades impostas por um sistema altamente conservador e discriminatório.
O criador Ryan Murphy, conhecido por suas produções ousadas e provocativas, como Glee e American Horror Story, usa Hollywood para questionar as normas históricas e repensar a história da indústria do entretenimento, especialmente no que diz respeito à representação de minorias.
A Alternativa Proposta pela Série
O ponto de partida de Hollywood é um mundo onde as pessoas podem criar suas próprias histórias e superar os obstáculos sociais que existiam de fato.
A série propõe que, se a indústria cinematográfica tivesse sido mais aberta e inclusiva nos anos 40, muitas histórias poderiam ter sido diferentes, inclusive em relação aos grandes ícones da época.
Por exemplo, a série introduz a ideia de uma atriz negra sendo a grande estrela de um filme épico, ou um roteirista gay conseguindo escrever o sucesso que ele merecia, coisas que, na realidade, eram praticamente impossíveis na época, dada a opressão estrutural da Hollywood pós-guerra.
Personagens Centrais e Suas Jornadas
Jack Costello: O Sonhador Ambicioso
Jack Costello, interpretado por David Corenswet, é um jovem ator que sonha em se tornar uma estrela em Hollywood.
Ele começa como um simples motorista de um estúdio, mas à medida que se envolve no mundo do cinema, ele começa a perceber as barreiras e as desigualdades que existem, especialmente no que diz respeito à sua classe social e ao seu status como homem branco heterossexual.
Jack, no entanto, busca uma carreira dentro do sistema e, ao longo da série, ele se torna uma figura-chave na luta contra a desigualdade.
Ele representa o sonho americano de “ir de zero a herói”, mas também as dificuldades que até mesmo um homem branco e com o privilégio de ser heterossexual enfrenta para encontrar sucesso no cenário altamente competitivo de Hollywood.
Camille Washington: A Estrela Injustiçada
Camille Washington (Laura Harrier) é uma atriz negra com grande talento, mas limitada pelas barreiras raciais e pela segregação dentro da indústria.
Na realidade, na década de 1940, Hollywood era um lugar onde as oportunidades para atores negros eram extremamente limitadas, frequentemente relegados a papéis estereotipados e sem grande visibilidade.
Em Hollywood, a personagem de Camille quebra essas barreiras e se torna a grande estrela de um filme épico que muda sua vida e sua carreira.
Sua história é uma das representações mais poderosas da série, destacando como a indústria cinematográfica poderia ter sido diferente se a luta contra o racismo tivesse sido travada de forma mais eficaz e direta no passado.
Rock Hudson: O Ícone Que Não Pode Ser Quem Realmente É
Um dos personagens mais intrigantes de Hollywood é Rock Hudson, interpretado por Jake Picking. Hudson é um dos maiores ícones do cinema clássico de Hollywood, mas a série reimagina sua jornada como um homem gay que precisa esconder sua verdadeira identidade para alcançar o sucesso.
O ator vive um dilema moral constante, em que precisa esconder sua sexualidade para se tornar um dos maiores astros da década.
A escolha de incluir Hudson como um personagem fictício com uma vida secreta reflete a realidade que muitos artistas LGBTQIA+ vivenciaram em Hollywood durante essa época, quando a homossexualidade era amplamente estigmatizada.
Eleonora “Eleanor” Roosevelt: A Força Por Trás da Mudança
Eleanor Roosevelt (interpretada por Maude Apatow), é um personagem inspirador que representa as vozes mais progressistas de sua época. Embora a série tome liberdades criativas ao apresentar Eleanor, ela é essencial para moldar a narrativa de resistência e luta pela inclusão que perpassa Hollywood.
Como uma defensora das minorias e das causas sociais, ela simboliza a tentativa de criar um mundo mais igualitário dentro de um sistema profundamente corrompido.
Temas Centrais de Hollywood
A Luta Pela Diversidade e Representatividade
Um dos temas centrais de Hollywood é a luta pela diversidade e representatividade dentro da indústria cinematográfica. A série faz uma crítica explícita à forma como Hollywood, na vida real, frequentemente ignorou o talento e as vozes de minorias, dando espaço apenas a uma elite branca e privilegiada.
Através dos personagens como Camille Washington e Rock Hudson, Hollywood imagina um mundo onde a verdadeira diversidade poderia ter sido mais amplamente celebrada e respeitada.
Ao fazer isso, a série oferece uma visão alternativa e mais otimista, onde o talento é o que determina o sucesso, e não a raça, o sexo ou a orientação sexual.
Embora se trate de uma reinterpretação ficcional, essa visão mais inclusiva ressoa com as atuais discussões sobre representatividade no cinema e na televisão, oferecendo uma perspectiva de como o futuro da indústria pode ser mais justo e igualitário.
Glamour vs. Realidade
Em Hollywood, a série também critica o glamour superficial associado à indústria cinematográfica. Embora a produção retrate o brilho e o fascínio de Hollywood, ela também mergulha nas sombras, revelando o custo emocional e pessoal de alcançar o sucesso no meio de uma indústria tão impiedosa.
A série mostra as dores de quem está por trás da cortina do glamour e revela os sacrifícios feitos por aqueles que buscam, a todo custo, o estrelato.
O conflito entre a fantasia do glamour de Hollywood e a realidade dura dos bastidores é um tema recorrente na série, refletindo tanto as dificuldades reais da indústria quanto o impacto negativo que o desejo por fama e poder pode ter na vida das pessoas.
O Impacto de Hollywood na Cultura Pop
Uma Reflexão sobre o Passado e o Futuro da Indústria
Hollywood não é apenas uma série sobre a indústria cinematográfica; é uma reflexão profunda sobre as lutas sociais e culturais que ainda afetam a sociedade atual.
Em um momento em que o cinema e a televisão estão cada vez mais atentos à necessidade de inclusão e diversidade, Hollywood oferece uma espécie de “futuro alternativo”, onde as oportunidades para minorias são mais abundantes e acessíveis.
A série também inspira discussões sobre a forma como a indústria do entretenimento pode melhorar, aprendendo com os erros do passado e, ao mesmo tempo, criando espaço para uma representatividade mais autêntica e poderosa no presente.
Conclusão

Hollywood é uma produção audaciosa e inovadora que mistura elementos de ficção histórica com um olhar crítico sobre as questões sociais que dominaram e continuam a dominar a indústria cinematográfica.
Com personagens complexos, uma narrativa envolvente e temas poderosos como a luta por justiça social e a inclusão, a série se destaca como uma reinvenção da história da indústria do cinema, imaginando um Hollywood onde o talento de todos poderia ter sido reconhecido sem os preconceitos.
Com a visão de Ryan Murphy, Hollywood nos leva a refletir sobre o impacto que a representatividade e a inclusão podem ter em um setor tão icônico e influente quanto o cinema.
A série não é apenas uma reinterpretação do passado, mas uma visão do que poderíamos alcançar se os princípios de igualdade e justiça fossem mais prevalentes no mundo do entretenimento.
Assista ao trailer de “Hollywood”
No Brasil, “Hollywood” está disponível na Netflix.