Será que Matrix 4 realmente é necessário?

Com essa era de remakes, reboots e continuações diretas de filmes dos anos 80 e 90, fica a dúvida: até que ponto é realmente necessário revisitarmos esses mundos e universos? E agora é justamente isso que Matrix está sofrendo.

Matrix foi lançado originalmente dia 31 de março de 1999 nos Estados Unidos, foi dirigido por Lilly e Lana Wachowski, mais Conhecidas como Irmãs Wachowski, e foi distribuído pela Warner Brothers. O filme foi um marco para o cinema, trazendo uma história que mistura, ação, romance, conceitos filosóficos e religiosos, inspirações aos mais diversos tipos de obras e por último mas não menos importante, coreografias feitas com primor e uma dedicação inigualável para a época.

O filme teve ainda duas continuações que não tiveram o mesmo impacto do primeiro filme. Mas que ainda assim conseguem expandir o universo apresentado e trazer novos personagens que são lembrados até hoje, como Merovingian e o Arquiteto. Além dos dois longas, também foram feitos uma coletânea de animações que adicionaram ainda mais ao universo de Matrix.

Não tem como negar que Matrix é uma verdadeira obra prima, assim como serviu de inspiração pra toda uma geração de cineastas e de fãs. No entanto, seu retorno para as telas de cinema com um quarto filme não pode ser tão benéfico assim para esse universo tão amado.

O que realmente tornou Matrix ser o que realmente é:

Mas afinal, Matrix é um dos grandes filmes dos últimos tempos por qual motivo? Como já foi dito, o filme conseguiu de maneira magistral trabalhar tantos fatores diferentes, mas que mesmo assim funcionam e fazem sentido em seu universo, porém existe outro fator importante.

Esse fator é justamente o fato de o primeiro Matrix ser o grande trabalho das Irmãs Wachowski, como já foi dito pelas duas diretoras, o filme de 1999, é a grande obras das duas. O filme que trouxe a amálgama das referências das duas irmãs é um dos, se não o maior, fator que levou Matrix a ser o que ele realmente é.

No entanto, Matrix 4 irá contar apenas com a produção de Lana Wachowski, apesar de Lilly Wachowski já ter dito o porquê de não estar presente no novo filme, não tem como pensar como isso pode afetar negativamente o quarto filme. Afinal, uma obra que foi feita com duas cabeças pensantes que trabalharam juntas para formar ela, não parece ter a possibilidade de realmente ter o mesmo impacto quando somente uma parte retornar para dar prosseguimento à essa mesma obra.

Se você quiser extrapolar para fora do cinema, imagine o universo de Duna. O livro escrito por Frank Herbert lançado em 1965 é considerado uma das maiores ficções cientificas já feitas. No entanto, após o falecimento do autor em 1986, o universo de Duna foi continuado Brian Herbert e Kevin J. Anderson, com livros que tinham como objetivo expandir esse universo.

E mesmo com esses novos livros que foram escritos baseados em manuscritos e rascunhos feitos por Frank Herbert, eles não foram tão bem aceitos pelos fãs. Os livros que foram lançados entre 1999 até 2014, foram considerados apenas uma forma do herdeiro do autor de continuar ganhando dinheiro em cima dessa obra, chegando até mesmo à alguns fãs dizerem que esses novos livros foram uma forma de estragar tudo o que foi feito anteriormente.

Olhando por esse lado não tem como imaginar que Matrix 4 é um filme apenas com a intenção de ser mais uma forma de lucrar em cima dessa franquia tão conhecida.

Matrix foi um filme feito na época certa:

Quando lembramos a época que o primeiro filme foi lançado é importante salientar alguns pontos.

O primeiro deles é o fato que grande parte da terra estava começando a ter um acesso decente à internet, basicamente a Idade dos Metais da internet. Em um paralelo com a humanidade da pré-história, a humanidade da década de 90 início dos anos 2000 estava conhecendo e adaptando (e também se adaptando) ao novo meio de comunicação e entretenimento que era a internet. E esse foi um período um tanto quanto fértil para que a imaginação corresse solta e novas histórias fossem criadas a partir disso, e logicamente Matrix se aproveitou disso.

O segundo ponto é a forma que o filme se adaptou para trazer todos os efeitos visuais e coreografias envolvidas. Não tem como negar que os efeitos visuais desse filme não estão ultrapassados mesmo que tenha sido feito há mais de 20 anos.

A produção de Matrix literalmente misturou técnicas analógicas com tecnologias digitais para poder criar algumas das cenas que hoje em dia são consideradas clássicas. Vamos pegar por exemplo esse cena:

Essa técnica que ficou conhecida posteriormente como Bullet Time, ou Tempo de Bala em uma tradução livre, a técnica já tinha sido usada anteriormente em outros filmes antes de Matrix, mas foi no filme das Irmãs Wachowski que o Bullet Time ficou famoso. A técnica que se baseia em reproduzir uma cena que é gravada em uma espécie de “carrossel” e que é reproduzida em Slow Motion para capturar o máximo de detalhes possível.

Inclusive, se você tem curiosidade de saber como a cena foi feita para o filme de 1999, o vídeo abaixo traz um resumo de como foi feita:

Além do Bullet Time, Matrix trouxe uma coreografia impecável para suas cenas de ação.

Seja na cena inicial com Trinity, a personagem de Carrie-Anne Moss, lutando e derrotando os policias, ou as cenas de luta de Neo, Morpheus e outros personagens, todas elas foram ensaiadas pelos atores e reproduzidas em grande parte pelos mesmos.

Claro que tudo isso foi feito com ajuda de cabos suspensos entre outras tantas técnicas, que foram reutilizadas em outros filmes após Matrix, mas essas técnicas e aparatos só serviram de apoio para que a ambição das diretoras e sua equipe de produção fosse alcançada.

E o terceiro, mas não menos importante ponto, é o fato de como Matrix conseguiu abordar filosofia e religião em meio a tanta ação. Desde a relação com a Alegoria da Caverna de Platão, as referências ao Jardim do Éden e até mesmo a Jornada do Herói, Matrix aborda tudo isso com uma precisão cirúrgica, o que torna um filme para diversos públicos.

Todas essas referências filosóficas, religiosas e etc. são responsáveis por trazer ao público mais leigo uma forma de diferente de assistir e consumir uma obra. Assim como, funciona como uma excelente obra pra quem procura discussões infinitas sobre realidade, razão e sobre onde e como nós vivemos.

Especulações a partir do 1° trailer de Matrix 4:

Quando foi anunciado, Matrix 4 trouxe o retorno de Keanu Reeves e Carrie-Anne Moss, ou mais conhecidos como Neo e Trinity do filme original, no entanto, alguns personagens importantes não vão retornar, pelo menos não a versão que conhecemos. Laurence Fishburne e Hugo Weaving, o Morpheus e o Agente Smith respectivamente, não estão no elenco do novo filme, mas qual o problema disso?

Tanto Morpheus e o Agente Smith são dois pilares importantes da história desse universo, enquanto Morpheus é responsável por revelar a verdade para Neo e ser seu mestre durante toda a jornada, o Agente Smith é o grande contraponto de Neo dentro do programa. E aparentemente esses dois personagens serão trocados por versões mais novas ou por personagens que são inspirados neles.

Enquanto Morpheus será apresentado como uma versão mais nova interpretada por Yahya Abdul-Mateen II, e o Agente Smith será substituído pelo Agente Johnson, que apareceu no primeiro filme sendo interpretado por Daniel Bernhardt. Não querendo criticar os dois atores, mas a dúvida que fica é o porquê de não trazer os atores dos filmes anteriores, já que a ideia desse filme parece ser um grande retorno do elenco original.

Afinal, com tudo que foi revelado até agora, Matrix 4 aparenta ser um filme que trará Neo reinserido na simulação e sendo tratado como uma pessoa que sofre de problemas psicológicos devido aos seus sonhos com um passado que não existe. E isso parece ser uma escolha um tanto quanto estranha, porém as respostas de o porquê foram feitas essas escolhas só serão respondidas quando assistirmos o filme.

Outro ponto importante a se lembrar é o fato de que esse filme, apesar de ser uma continuação direta aos filmes anteriores, também parece ser uma espécie de remake, parecido com o que foi feito em Star Wars: O Despertar da Força. Em Star Wars: O Despertar da Força vemos um filme que é uma continuação, mas que também é uma releitura de Star Wars: Uma Nova Esperança, apesar de ser um ótimo filme, não trouxe novidades para a saga Star Wars.

E infelizmente Matrix parece estar seguindo por esse rumo, e isso pode acabar afundando essa saga por mais alguns bons anos.

Um quase resumo desse texto:

Para tentar resumir ao máximo o porquê da dúvida se Matrix 4 é realmente necessário ou não, devemos levar em conta que esse novo filme parece ser uma decisão totalmente com o foco de se explorar mais desse universo que tem tantos fãs e que é tão querido.

Apesar de Matrix ser um filme que marcou sua época, e que não envelheceu de forma alguma, assim como Matrix é um marco na história do cinema, revelou novas formas de ser fazer cenas de ação e mudou também a forma de se fazer uma história que consiga abordar tantos temas sem se perder em uma salada mista de informações e ideias.

E aparentemente, a ideia de trazer um novo filme é uma grande oportunidade da Warner Brothers de estragar o que já foi apresentado anteriormente. Apesar disso tudo, só nos resta esperar que Matrix 4 ou Matrix Ressurrections seja um filme que faça todo esse texto ser apenas um breve delírio, e que seja um ótimo filme que traga novidades no universo de Matrix, e quem sabe até trazer uma nova leva de produções que façam jus ao primeiro filme.

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