Pure: Uma Jornada Íntima e Honesta Sobre TOC e Pensamentos Sexuais Intrusivos

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Em um mar de séries que exploram saúde mental com superficialidade ou sensacionalismo, Pure chega como uma lufada de ar fresco.

Lançada em 2019 pela Channel 4 no Reino Unido, essa comédia dramática baseada no livro autobiográfico de Rose Cartwright oferece uma representação inédita, honesta e profundamente humana do TOC com obsessões sexuais intrusivas, uma forma pouco discutida do transtorno obsessivo-compulsivo.

Com apenas seis episódios, Pure conquistou respeito da crítica e de comunidades de saúde mental por tratar de um tema tão delicado com sensibilidade, humor e verdade emocional.

A série é centrada em Marnie, uma jovem de 24 anos que, ao ser consumida por pensamentos sexuais obsessivos e incontroláveis, decide fugir de sua cidade natal na Escócia e começar uma nova vida em Londres — em busca de um diagnóstico, compreensão e, acima de tudo, paz.

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TOC e Pensamentos Sexuais Intrusivos: Um Tema Raro e Mal Compreendido

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Imagem: The Movie Database

A grande força de Pure é jogar luz sobre um dos tipos mais estigmatizados e incompreendidos de TOC: aquele em que os sintomas se manifestam por meio de pensamentos sexuais indesejados e obsessivos.

Marnie não é promíscua, pervertida ou “estranha”, mas é exatamente assim que ela se sente — e como teme ser julgada.

Esse subtipo de TOC é chamado informalmente de “Pure O” (Obsessivo Puro), caracterizado por obsessões mentais sem compulsões visíveis.

São pensamentos intrusivos que causam intenso sofrimento — no caso de Marnie, imagens e ideias de teor sexual que aparecem contra sua vontade, mesmo em momentos inapropriados, envolvendo familiares, desconhecidos e amigos.

A série não apenas representa isso com precisão clínica, mas também retrata o impacto emocional profundo, a vergonha e o isolamento que acompanham quem sofre em silêncio. Ao fazer isso, Pure amplia a conversa sobre saúde mental de forma corajosa e educativa.

Marnie: Uma Protagonista Corajosa e Real

Interpretada com grande empatia por Charly Clive, Marnie é uma protagonista ao mesmo tempo engraçada, frágil, determinada e confusa.

Ela não entende o que está acontecendo com sua mente, mas sabe que não pode mais viver fingindo que está tudo bem. Sua ida a Londres é tanto uma fuga quanto uma busca — por respostas, por um diagnóstico, por uma comunidade que não a julgue.

Ao longo da série, Marnie tenta levar uma vida normal: conseguir emprego, fazer amizades, descobrir sua sexualidade e manter sua sanidade mental.

Tudo isso enquanto enfrenta os pensamentos invasivos e autodepreciativos que aparecem a todo instante. A atuação de Charly Clive é sincera, vulnerável e cativante — fundamental para o impacto da narrativa.

O Grupo de Apoio: Humor, Diversidade e Acolhimento

Um dos pontos altos da série é o grupo de apoio que Marnie encontra. Cada integrante traz à tona uma faceta diferente dos transtornos mentais, o que transforma o grupo em um espaço de alívio cômico, mas também de acolhimento.

Entre os destaques está Shereen, uma mulher espirituosa e direta que rapidamente se torna amiga e conselheira de Marnie. Também conhecemos personagens como Charlie, com fobias intensas, e Joe, que lida com compulsões.

Esses personagens oferecem camadas de diversidade — tanto em termos de saúde mental quanto de representação racial, de gênero e de orientação sexual — tornando Pure uma série inclusiva e atual.

O grupo simboliza algo essencial: ninguém está sozinho, e não há vergonha em buscar ajuda.

Abordagem Visual e Narrativa: TOC Como Ele É Sentido

A série se destaca pela maneira como representa visualmente os episódios de TOC e pensamentos sexuais intrusivos.

Ao invés de evitar ou suavizar os pensamentos de Marnie, Pure os coloca na tela — de forma crua, explícita, mas sempre com contexto. Isso ajuda o espectador a entender a invasão psicológica que o TOC representa.

A narrativa é pontuada por monólogos internos, quebra da quarta parede e cenas que misturam imaginação e realidade. Esse estilo criativo reforça o aspecto subjetivo do transtorno, aproximando o público do mundo interno de Marnie.

Uma Série Necessária: Educação, Empatia e Quebra de Estigmas

Ao tratar abertamente sobre TOC e pensamentos sexuais intrusivos, Pure realiza algo que raramente se vê na televisão: educa sem moralizar, informa sem julgar, emociona sem explorar o sofrimento.

A série mostra que:

  • Nem todo pensamento representa um desejo real.
  • TOC é uma condição neuropsiquiátrica tratável.
  • Vergonha e silêncio só aumentam o sofrimento.
  • Falar abertamente sobre saúde mental é um ato de coragem.

Essas mensagens são passadas sem didatismo, mas com naturalidade e leveza — reforçando que comédia e drama podem (e devem) andar juntos quando falamos de temas sensíveis.

Recepção e Legado

Apesar de ter apenas uma temporada, Pure foi amplamente elogiada por psicólogos, críticos e espectadores.

Muitos reconheceram o valor da representação fiel do TOC e a forma respeitosa como a série trata o assunto. A decisão da Channel 4 de não renovar a série gerou críticas, mas sua importância cultural e educacional permanece.

Ela se tornou uma referência para quem busca entender mais sobre TOC e pensamentos sexuais intrusivos — especialmente por mostrar que nem todo sintoma é visível, e que saúde mental é uma questão urgente.

Conclusão: Pure é Muito Mais do Que Uma Série Sobre TOC

Imagem: IMDb

Pure é uma série sobre crescer, aceitar-se, aprender a viver com a mente que temos — mesmo quando ela nos desafia. É sobre quebrar o silêncio, desmistificar o tabu em torno dos pensamentos sexuais intrusivos, e dizer em voz alta que está tudo bem pedir ajuda.

Com apenas seis episódios, Pure entrega uma experiência que mistura riso e lágrima, desconforto e empatia, dor e alívio. É uma obra que toca fundo — especialmente para quem já se sentiu “quebrado” por dentro.

Assista ao trailer de “Pure”

No Brasil, “Pure” não está disponível para streaming. No entanto, você encontra a obra na Amazon Prime Video, dependendo da região.