Pequena Mamãe (2021) – A Magia e a Delicadeza de um Conto de Fadas Contemporâneo
Em 2021, a cineasta Céline Sciamma apresentou ao público Pequena Mamãe (Petite Maman), um filme encantador e introspectivo que mistura os elementos do conto de fadas com uma narrativa profunda sobre o luto, o crescimento e as relações familiares.
Com uma direção sensível e um toque de magia, Sciamma constrói uma história que cativa tanto crianças quanto adultos, ao abordar de forma delicada temas como a amizade, a perda e a continuidade das gerações.
Seguimos a jornada de Nelly, uma garota de 8 anos que acaba de perder a avó e, ao explorar a antiga casa de campo da família, encontra uma amiga com o mesmo nome que o seu, desencadeando uma série de eventos que a farão lidar com questões emocionais profundas de maneira lúdica e mágica.
O filme é uma reflexão encantadora sobre o vínculo entre as gerações e sobre como a infância pode revelar verdades sobre a vida adulta.
Neste artigo, vamos explorar Pequena Mamãe como um conto de fadas moderno e introspectivo, que utiliza elementos mágicos para tratar de questões universais e emocionais de forma envolvente e sensível.
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A História de Pequena Mamãe: Amizade, Magia e o Passado

O Encontro Mágico de Nelly e a Outra “Pequena Mamãe”
A história de Pequena Mamãe começa com Nelly (interpretada por Joséphine Sanz), uma jovem garota que está lidando com a perda de sua avó. Ela e seus pais vão para a casa de campo onde sua avó morava, um lugar cheio de memórias e emoções complexas.
Ao explorar a casa, Nelly conhece uma menina chamada Marion, que tem o mesmo nome que ela e, mais impressionante ainda, parece viver na mesma casa em um tempo diferente.
Esse encontro mágico entre as duas “Pequenas Mamães” serve como o ponto de partida para uma história que mistura o real com o fantástico de maneira sutil e tocante.
As duas garotas desenvolvem uma amizade instantânea, e juntas exploram o espaço e suas próprias emoções de maneira silenciosa, mas profundamente significativa.
A relação entre Nelly e Marion não é apenas encantadora, mas também cheia de simbolismo. A amizade delas é um reflexo do processo de descoberta de Nelly sobre o passado de sua família, sobre sua mãe e sobre a complexidade das relações entre as gerações.
Ao se conectar com Marion, Nelly começa a entender melhor sua mãe, seu próprio lugar no mundo e a natureza da perda.
A Perda e a Relação com a Mãe
Outro aspecto central de Pequena Mamãe é a relação de Nelly com sua mãe (interpretada por Nina Meurisse). Embora o filme não trate explicitamente da dor de sua mãe pela morte da avó, há uma série de gestos e olhares que transmitem o luto silencioso que ela está vivendo.
Nelly, por outro lado, se dedica a explorar o espaço da casa, e sua amizade com Marion torna-se uma forma de ela lidar com a tristeza e entender melhor os sentimentos que, até aquele momento, pareciam impenetráveis.
A conexão entre Nelly e sua mãe é explorada de maneira suave e tocante.
A presença de Marion, que parece atuar como uma chave para que Nelly possa compreender melhor os mistérios do passado e da família, é também uma forma de aproximação emocional entre as duas.
Isso acontece já que Nelly começa a perceber as camadas de experiência que sua mãe possui e as complexidades que a vida adulta envolve.
O Conto de Fadas Moderno: Como Pequena Mamãe Mistura Magia e Realidade
A Magia nas Coisas Simples
Embora Pequena Mamãe seja, sem dúvida, uma obra cinematográfica mágica, a magia não se manifesta de maneira extravagante ou fantasiosa.
Ao contrário, Sciamma faz com que o extraordinário se insira nas pequenas coisas do cotidiano. O encontro entre Nelly e Marion é apresentado como um acontecimento simples e silencioso, mas que, para as duas meninas, carrega um significado profundo.
Essa abordagem de magia discreta é característica dos melhores contos de fadas, onde o extraordinário não precisa ser algo grandioso ou surreal. Em Pequena Mamãe, a magia reside no olhar puro da infância, que consegue ver o mundo de uma maneira que os adultos, muitas vezes, perdem.
O filme celebra a beleza da infância e a maneira como as crianças podem conectar elementos do mundo real e do imaginário de forma fluida e intuitiva.
A Casa como um Espaço Mágico
A casa onde Nelly e sua família estão hospedados desempenha um papel fundamental na construção da magia do filme. A casa da avó não é apenas um lugar físico, mas um espaço carregado de memórias e significados, uma espécie de portal para o passado e para a descoberta.
O filme não recorre a grandes efeitos visuais ou cenários fantásticos, mas utiliza a simplicidade do cenário para criar um ambiente carregado de significado e emoção.
A casa se torna, assim, um lugar mágico, onde o passado e o presente se encontram. A interação entre Nelly e Marion na casa é uma metáfora para a forma como, às vezes, precisamos de uma conexão com o passado para compreender o presente e o futuro.
A casa, com seus corredores e segredos, é um personagem por si só, ajudando as meninas a descobrir mais sobre a vida e a morte, sobre o luto e sobre o crescimento.
A Infância como um Refúgio de Magia e Percepção
A Infância e a Percepção do Tempo
Uma das principais características de Pequena Mamãe é a maneira como o filme lida com a percepção do tempo. Para Nelly, a amizade com Marion não apenas oferece conforto, mas também a oportunidade de revisitar momentos do passado de sua mãe e avó.
A narrativa, embora simples, aborda de forma sensível como as crianças têm uma forma única de lidar com o tempo e a memória, muito diferente da dos adultos.
Enquanto os adultos veem o tempo como algo linear, as crianças podem experimentá-lo de maneira mais fluida, em um movimento constante entre o presente e o passado, como uma troca de experiências.
O encontro de Nelly com Marion é um reflexo disso, pois permite que ela mergulhe em um mundo onde a linha entre os tempos é tênue e cheia de significado.
O Luto e a Magia da Infância
Em Pequena Mamãe, o luto não é apresentado de forma dramática ou trágica. Em vez disso, ele é tratado de maneira sensível, através da magia da infância e da capacidade das crianças de, muitas vezes, lidar com as emoções de forma mais direta e pura.
A amizade entre Nelly e Marion, que parece um simples jogo de infância, torna-se uma maneira de Nelly confrontar a morte e entender melhor os sentimentos de saudade, perda e memória.
O filme nos lembra que, na infância, o luto e a dor não são algo a ser temido, mas sim algo a ser compreendido e integrado, muitas vezes através de experiências simples e mágicas como a amizade.
Conclusão: Pequena Mamãe Como um Conto de Fadas Moderno e Sensível

Pequena Mamãe é um filme que combina o encanto dos contos de fadas com uma reflexão sensível sobre a infância, a perda e as relações familiares.
Céline Sciamma, com sua direção delicada e sua habilidade de capturar a beleza nas pequenas coisas, cria uma obra cinematográfica que é ao mesmo tempo mágica e profundamente humana.
Através da jornada de Nelly e sua amizade com Marion, o filme oferece uma meditação sobre o tempo, a memória e a continuidade das gerações, tudo isso contado de maneira íntima e tocante.
Pequena Mamãe é uma história que ressoa com todos aqueles que já passaram pela experiência de crescer, de perder e de encontrar novas formas de entender o mundo.
Assista ao trailer de “Pequena Mamãe”
No Brasil, “Pequena Mamãe” está disponível na Max, Amazon Prime Video e YouTube Filmes.