Pachinko: A saga familiar que entrelaça história, identidade e resiliência na Coreia e Japão do século XX
Lançada em 2022 pela Apple TV+, Pachinko é uma série dramática que se destaca não apenas por sua produção luxuosa e sua narrativa envolvente, mas também por sua importância histórica e cultural.
Baseada no best-seller homônimo da autora coreano-americana Min Jin Lee, a produção acompanha a trajetória de uma família coreana ao longo de quatro gerações.
A obra atravessa o período da ocupação japonesa da Coreia, a Segunda Guerra Mundial, o pós-guerra e as transformações sociais e identitárias de imigrantes coreanos no Japão.
Com uma narrativa sensível, alternando diferentes tempos e línguas (coreano, japonês e inglês), Pachinko é muito mais do que uma saga familiar: é um espelho de como a história molda o destino de indivíduos e comunidades — e como a resistência pessoal pode ser um ato de afirmação cultural e identidade.
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A origem de Pachinko: do romance à adaptação televisiva

A obra literária
O romance Pachinko, publicado em 2017, tornou-se um sucesso mundial e foi finalista de diversos prêmios literários. Min Jin Lee passou décadas pesquisando a história dos coreanos no Japão, um grupo marginalizado, muitas vezes invisível nas narrativas ocidentais e até mesmo na própria Ásia.
O título faz referência ao jogo popular japonês de mesmo nome, que é usado como metáfora para o destino incerto e o sistema injusto que rege a vida dos imigrantes.
A adaptação para a TV
A série foi adaptada por Soo Hugh e é uma coprodução internacional que une talentos coreanos, japoneses e americanos.
Dirigida por Kogonada e Justin Chon, Pachinko é uma das mais ambiciosas produções da Apple TV+, não apenas pela escala temporal da história, mas também por sua estética cinematográfica e compromisso com a fidelidade cultural.
A trama de Pachinko
A protagonista: Sunja
No centro da narrativa está Sunja, uma jovem que cresce na Coreia durante a ocupação japonesa. Após engravidar de um rico comerciante casado, ela aceita a proposta de um pastor cristão doente para se casar e emigrar para o Japão, onde espera recomeçar a vida.
A história de Sunja se desdobra ao longo das décadas, revelando as dificuldades enfrentadas por ela, seus filhos e netos em um país que os trata como estrangeiros — mesmo após gerações.
Linha temporal dupla
A série se estrutura em duas linhas temporais principais: a juventude de Sunja na Coreia, nos anos 1910–1930, e a vida de seu neto, Solomon, um jovem ambicioso nos anos 1980 que trabalha em Tóquio em um banco americano.
Essa escolha narrativa permite que Pachinko explore os ecos geracionais do trauma, da discriminação e da busca por pertencimento.
Temas centrais de Pachinko
Identidade e deslocamento
A série trata com profundidade o tema da identidade cultural em contextos coloniais e pós-coloniais. Ser coreano no Japão significa viver à margem, mesmo tendo nascido e crescido no país.
Personagens de Pachinko são constantemente lembrados de que pertencem a uma nação que foi colonizada, e que, mesmo após a independência da Coreia, continua sendo vista com preconceito.
Família e herança
A força de Pachinko reside também em seu retrato multigeracional. A série mostra como decisões tomadas no passado ressoam no futuro.
A resiliência de Sunja se reflete na luta de seus descendentes por dignidade, prosperidade e reconhecimento. O peso do passado não é esquecido, mas transformado em força.
Amor e sacrifício
Os relacionamentos retratados em Pachinko são marcados por sacrifícios silenciosos.
Sunja, ao aceitar se casar com um homem que não ama para fugir da vergonha social; o pastor Baek, que se oferece como marido mesmo com saúde debilitada; Solomon, que luta entre seu desejo de sucesso e sua conexão com as raízes — todos enfrentam escolhas difíceis que desafiam as convenções sociais.
A produção e a estética de Pachinko
Qualidade cinematográfica
Pachinko se destaca como uma das séries mais belas da década. Cada episódio é construído com cuidado artesanal, utilizando luz natural, enquadramentos simbólicos e uma paleta de cores que varia conforme a linha temporal.
A direção de Kogonada e Justin Chon valoriza o silêncio e o tempo, permitindo que a emoção emerja de forma orgânica.
Trilha sonora e abertura icônica
A música também é parte fundamental da experiência. A abertura da série, ao som de “Let’s Live for Today”, com os personagens dançando em uma casa de pachinko, tornou-se icônica por seu contraste com o tom geral da série: uma celebração efêmera da vida em meio à dor.
A recepção crítica de Pachinko
Aclamação internacional
Desde sua estreia, Pachinko tem sido amplamente aclamada pela crítica, sendo elogiada por sua complexidade narrativa, autenticidade histórica e excelência técnica. A série apareceu nas listas de melhores do ano de veículos como The New York Times, Variety, IndieWire e Rolling Stone.
Indicações e prêmios
A produção recebeu diversas indicações a prêmios, incluindo o Critics Choice e o Gotham Awards, e foi especialmente reconhecida por sua representatividade e contribuição para o reconhecimento da história coreano-japonesa, muitas vezes negligenciada no Ocidente.
Representatividade e impacto cultural
Uma história rara na TV ocidental
Pachinko é uma das raríssimas produções televisivas a tratar da experiência dos zainichi — coreanos que vivem no Japão, muitas vezes em situação de cidadania ambígua e sujeitos a discriminação institucional. Essa representação dá voz a milhões de pessoas cujas histórias foram historicamente silenciadas.
Um passo além na diversidade
Diferentemente de produções que tratam de diversidade de forma superficial, Pachinko mergulha profundamente nas contradições, sofrimentos e glórias de um povo oprimido, com respeito e complexidade, sem cair em estereótipos ou simplificações.
O futuro de Pachinko
Segunda temporada confirmada
A Apple TV+ confirmou a segunda temporada de Pachinko, que continuará a explorar as vidas de Sunja e sua família nas décadas seguintes.
Espera-se que novos personagens e eventos históricos sejam introduzidos, ampliando ainda mais o escopo da narrativa e aprofundando a análise das transformações sociais da diáspora coreana.
Conclusão

Pachinko é uma série rara, necessária e profundamente tocante. Sua narrativa abrange décadas e oceanos, mas permanece centrada no que há de mais universal: o desejo de pertencer, amar e sobreviver.
Com uma produção deslumbrante e um roteiro que equilibra o épico com o íntimo, Pachinko marca um novo padrão para o drama histórico contemporâneo.
Para quem busca uma série que emociona, informa e provoca reflexão, Pachinko é imperdível.
Assista ao trailer de “Pachinko”
No Brasil, “Pachinko” está disponível na Apple TV+ e Amazon Prime Video.