O Que Fazemos nas Sombras (2014): Uma comédia de terror que transforma vampiros em colegas de quarto excêntricos
O Que Fazemos nas Sombras (What We Do in the Shadows), dirigido por Jemaine Clement e Taika Waititi, é uma das maiores surpresas da comédia moderna.
Lançado em 2014, o filme neo-zelandês mistura sátira sobrenatural com humor cotidiano ao retratar a vida de um grupo de vampiros imortais que dividem um apartamento em Wellington, Nova Zelândia.
Com uma estética documental e estilo de filmagem que remete a reality shows, a produção transforma o mito do vampiro — geralmente associado ao terror e à sedução — em algo profundamente humano, patético e engraçado.
O resultado é uma comédia de terror única, que conquistou crítica e público ao redor do mundo.
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No centro da história estão Viago (Taika Waititi), Vladislav (Jemaine Clement), Deacon (Jonathan Brugh) e Petyr (Ben Fransham), quatro vampiros com idades que variam entre 183 e 8 mil anos.
Apesar de seus poderes sobrenaturais, eles enfrentam problemas absolutamente banais: discutir quem vai lavar a louça, lidar com o aluguel, aprender a usar a internet e tentar entrar em boates (só podem entrar se forem convidados).
A chegada de um novo vampiro, Nick, recém-transformado por acidente, complica ainda mais a convivência e traz à tona rivalidades, ciúmes e novas interações com humanos — incluindo Stu, um amigo mortal que se torna inesperadamente querido por todos.
Humor inteligente com toque de sangue
A força de O Que Fazemos nas Sombras está na maneira como ele subverte o gênero do terror com um humor seco, absurdo e carismático. A estética de comédia de terror se manifesta no contraste entre os cenários góticos e os dilemas ridiculamente humanos dos protagonistas.
O falso documentário — ou mockumentary — permite que os personagens falem diretamente com a câmera, em confissões hilárias que lembram The Office ou Modern Family, só que com mordidas no pescoço.
O Que Fazemos nas Sombras ri da ideia do vampiro como ser sofisticado e poderoso. Aqui, eles são desajeitados, socialmente deslocados e cheios de traumas centenários.
Vladislav, por exemplo, ainda vive à sombra de “A Besta” — uma ex-namorada. Já Viago sofre porque seu grande amor o deixou após uma falha no transporte internacional de seu caixão.
Taika Waititi e Jemaine Clement: mestres da sátira
A direção e o roteiro são assinados por dois nomes importantes da comédia neozelandesa:
- Taika Waititi, que viria a dirigir Thor: Ragnarok e Jojo Rabbit, imprime ao filme seu estilo característico de humor sensível, nonsense e visualmente expressivo.
- Jemaine Clement, conhecido por Flight of the Conchords, traz sua veia cômica mais sarcástica e cerebral, equilibrando o tom da narrativa.
Juntos, eles criam um universo rico, com personagens caricatos e profundos ao mesmo tempo — algo raro em filmes do gênero comédia de terror.
Elementos visuais e efeitos surpreendentes
Apesar de ser uma produção de orçamento modesto, o filme impressiona pelo cuidado técnico. Os efeitos visuais são criativos e eficientes, como nas cenas de voo, transformações ou confrontos entre vampiros e lobisomens (sim, eles também aparecem, em uma das cenas mais memoráveis).
O design de produção mistura o velho e o novo: castelos decadentes, roupas vitorianas e tapetes mofados convivem com celulares, computadores e festas em casas noturnas. Tudo isso ajuda a criar o tom inusitado e visualmente marcante da obra.
Satirizando o sobrenatural com autenticidade
O Que Fazemos nas Sombras tira sarro dos clichês do gênero vampírico sem perder o respeito pelo seu universo. Elementos como a aversão à luz solar, o uso de crucifixos, a necessidade de serem convidados a entrar em casas, tudo é usado como fonte de humor — mas também como construção de mundo.
Além disso, há momentos de crítica social disfarçada, como a invisibilidade dos vampiros nas redes sociais (literalmente não aparecem em fotos) ou a resistência deles às mudanças tecnológicas e culturais do século XXI.
Crítica e recepção
O Que Fazemos nas Sombras foi aclamado por sua originalidade e escrita afiada. Com mais de 96% de aprovação no Rotten Tomatoes, tornou-se um cult instantâneo e pavimentou o caminho para o sucesso posterior da franquia.
O público também respondeu positivamente, tanto pela novidade da proposta quanto pela leveza com que temas como imortalidade, solidão e amizade são tratados. A comédia funciona tanto para fãs de terror quanto para quem normalmente evita o gênero.
Expansão do universo: série de TV e spin-offs
O sucesso de O Que Fazemos nas Sombras foi tão grande que gerou uma série derivada em 2019, também chamada What We Do in the Shadows, exibida pela FX.
A série mantém o mesmo formato de mockumentary e apresenta novos personagens vivendo nos Estados Unidos, com aparições especiais dos vampiros originais.
Além disso, houve o spin-off Wellington Paranormal, focado em dois policiais da Nova Zelândia que investigam atividades sobrenaturais com completo despreparo — outro exemplo de como o humor do universo criado por Waititi e Clement continua rendendo ótimos frutos.
Conclusão

O Que Fazemos nas Sombras é uma joia rara da comédia de terror, que consegue rir de seus personagens sem nunca ridicularizá-los.
Com uma abordagem original, direção inspirada e um roteiro repleto de tiradas geniais, O Que Fazemos nas Sombras conquista tanto pela forma quanto pelo conteúdo.
Se você procura algo diferente — uma história de vampiros que mistura drama existencial, disputas de tarefas domésticas e piadas sobre discotecas — essa é uma escolha certeira. Afinal, a eternidade pode ser bem mais divertida (e complicada) do que parece.
Assista ao trailer de “O Que Fazemos nas Sombras”
No Brasil, “O Que Fazemos nas Sombras” está disponível na Apple TV e YouTube Filmes.