O Poço: O Suspense Social Que Escancara a Desigualdade em uma Prisão Vertical
Lançado em 2019, O Poço (The Platform), dirigido pelo espanhol Galder Gaztelu-Urrutia, é um suspense distópico que se tornou um fenômeno global com sua estreia na Netflix.
O filme oferece uma poderosa crítica à desigualdade social e à luta por sobrevivência em um sistema que privilegia poucos e negligencia muitos.
Ambientado em uma prisão vertical chamada Centro Vertical de Autogestão, onde os presos são distribuídos em andares e alimentados por uma plataforma que desce de nível em nível, o longa combina horror, filosofia e crítica social em uma narrativa claustrofóbica e instigante.
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Sinopse
O protagonista, Goreng (Iván Massagué), acorda no nível 48 do poço, um local onde os presos vivem em pares, comendo os restos de comida que descem em uma plataforma única. Quanto mais alto o andar, maior a chance de saciar a fome. Nos níveis inferiores, resta o desespero.
A cada mês, os prisioneiros são movidos aleatoriamente para novos andares, forçando-os a experimentar tanto o privilégio quanto a privação.
Goreng entra no poço voluntariamente, com a intenção de ler um livro durante sua estadia e ganhar um certificado, mas logo percebe que o sistema é mais brutal e desumano do que imaginava.
Enquanto Goreng lida com a fome, a violência e dilemas morais, ele forma alianças e confrontos com companheiros como Trimagasi (Zorion Eguileor), um cínico sobrevivente, e Imoguiri (Antonia San Juan), que acredita na redistribuição justa de recursos.
Temas Centrais
1. Desigualdade Social e a Luta por Recursos
A estrutura do poço é uma metáfora clara para a desigualdade social. Os níveis superiores representam os privilegiados, que consomem mais do que precisam, enquanto os inferiores simbolizam os marginalizados, que sobrevivem com as sobras – ou nada.
2. Moralidade Sob Pressão
O filme questiona como a moralidade é testada em situações extremas. Goreng e outros personagens enfrentam dilemas éticos enquanto tentam equilibrar seus instintos de sobrevivência com o desejo de justiça.
3. Sistema e Conformidade
O poço funciona como uma crítica aos sistemas que perpetuam a desigualdade. A falta de colaboração entre os presos reflete como a divisão social impede mudanças significativas.
4. Esperança e Sacrifício
Apesar de toda a brutalidade, O Poço carrega uma mensagem de esperança, simbolizada pela “mensagem” que Goreng e seus aliados tentam enviar aos administradores do poço, sugerindo que a mudança é possível, mas exige sacrifício.
Estilo e Direção
1. Minimalismo e Claustrofobia
Galder Gaztelu-Urrutia utiliza um cenário minimalista e repetitivo para criar uma atmosfera claustrofóbica. A ausência de variação nos andares intensifica a sensação de aprisionamento e desesperança.
2. Violência e Simbolismo
A violência gráfica do filme não é gratuita, mas um elemento crucial para reforçar os temas de desigualdade e sobrevivência. Cada ato de violência reflete as consequências de um sistema desigual.
3. Cinematografia e Paleta de Cores
A cinematografia de Jon D. Domínguez utiliza luzes frias e tons sombrios para criar uma sensação de desolação, enquanto os movimentos de câmera acompanham a plataforma em sua descida, reforçando o tema da hierarquia social.
Personagens e Atuações
1. Goreng (Iván Massagué)
Iván Massagué entrega uma performance intensa como Goreng, um homem idealista que é forçado a confrontar seus limites morais e físicos no poço. Sua transformação ao longo do filme é tanto física quanto emocional.
2. Trimagasi (Zorion Eguileor)
Trimagasi, com sua visão cínica e brutal da vida no poço, serve como o contraponto perfeito para Goreng. Zorion Eguileor traz um carisma perturbador ao personagem, tornando-o memorável.
3. Imoguiri (Antonia San Juan)
Imoguiri, uma ex-funcionária do poço, representa a crença na mudança através da cooperação. Sua presença é essencial para explorar as falhas do sistema e os desafios de implementar soluções justas.
4. A Criança e a Panna Cotta
Embora a criança no nível mais baixo e a panna cotta (uma sobremesa intacta) apareçam brevemente, elas simbolizam esperança e resistência, sugerindo que uma mensagem pode desafiar o status quo.
Episódios Marcantes
1. A Descida da Plataforma
O movimento da plataforma, carregada de comida, é um dos momentos mais impactantes do filme, visualizando a desigualdade de forma brutal e direta.
2. A Relação Entre Goreng e Trimagasi
A dinâmica entre os dois personagens nos primeiros andares é tensa e fascinante, culminando em momentos de traição e sobrevivência.
3. A Jornada Descendente
Quando Goreng decide descer pelos níveis inferiores para distribuir comida e enviar uma mensagem, o filme atinge seu ápice de tensão e brutalidade.
4. O Desfecho Ambíguo
O final aberto, com a criança subindo na plataforma, deixa o espectador refletindo sobre a eficácia da resistência e a possibilidade de mudança.
Comparações com Outras Produções
1. Parasita
Assim como Parasita (2019), O Poço aborda a desigualdade social de forma crítica, embora com uma abordagem mais surreal e violenta.
2. Snowpiercer
Snowpiercer (2013) também utiliza uma metáfora visual (um trem em vez de uma prisão vertical) para explorar hierarquias sociais e a luta de classes.
3. Cube
Cube (1997), outro thriller claustrofóbico, compartilha o conceito de personagens presos em um ambiente opressivo que testa seus limites físicos e emocionais.
Recepção Crítica
Desde sua estreia no Festival de Toronto, O Poço recebeu elogios por sua originalidade e relevância social.
- Rotten Tomatoes: 79% de aprovação, com críticas destacando sua narrativa provocativa.
- Metacritic: 73/100, refletindo críticas positivas.
Os críticos destacaram a direção de Galder Gaztelu-Urrutia e o impacto visual e emocional do filme, embora alguns apontassem para o tom explícito como um elemento divisivo.
Por Que Assistir O Poço?
1. Reflexão Sobre Desigualdade
O filme oferece uma metáfora contundente para questões contemporâneas, como pobreza, privilégio e acesso a recursos.
2. Suspense e Intensidade
Com sua atmosfera claustrofóbica e narrativa tensa, O Poço mantém o espectador preso até o final.
3. Impacto Visual e Temático
A combinação de estética minimalista e mensagens profundas faz de O Poço uma experiência cinematográfica memorável.
Onde Assistir
O Poço está disponível exclusivamente na Netflix, sendo acessível em diversos países.
Conclusão
O Poço é mais do que um suspense; é uma experiência cinematográfica que combina terror, filosofia e crítica social.
Com uma narrativa que explora a desigualdade de forma visceral e personagens que enfrentam dilemas éticos profundos, o filme de Galder Gaztelu-Urrutia desafia o espectador a refletir sobre as injustiças do mundo real e o papel de cada um na busca por um sistema mais justo.
Se você procura um filme que vá além do entretenimento e provoque reflexão, O Poço é indispensável. Prepare-se para descer aos níveis mais profundos – da prisão e da humanidade.