Lançado em 1970, O Conformista (Il Conformista), dirigido por Bernardo Bertolucci, é uma das obras-primas do cinema italiano e um dos filmes mais marcantes da década de 1970.
Com uma combinação única de estilo visual, complexidade psicológica e crítica política, o filme explora as profundezas do conformismo, da moralidade e da identidade em um contexto de opressão fascista.
Baseado no romance homônimo de Alberto Moravia, a obra mergulha na vida de Marcello Clerici, um homem que, em nome da busca por aceitação e conformidade, se envolve em ações que desafiam sua própria humanidade.
Neste artigo, exploraremos o impacto de O Conformista, a genialidade de Bertolucci, a intricada psicologia do protagonista e como o filme permanece uma reflexão poderosa sobre os dilemas morais em tempos de regimes autoritários.
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Marcello Clerici: Um Homem em Busca de Aceitação
A história gira em torno de Marcello Clerici, interpretado por Jean-Louis Trintignant, um homem que, após crescer em um ambiente opressor, busca se encaixar nos ideais do regime fascista italiano.
Ele não é apenas um seguidor passivo; ao contrário, Marcello quer aderir ativamente ao regime, convencido de que, ao fazê-lo, conseguirá a aceitação que sempre procurou.
Esse desejo de conformidade é, em parte, motivado por um trauma de infância, quando ele testemunhou a morte de seu pai, um episódio que o marcou profundamente.
Marcello é recrutado pelo regime para uma missão secreta: matar um professor e filósofo de esquerda, Giovanni Berber, que está em exílio.
A missão o leva a uma jornada que não apenas o coloca em confronto com sua moralidade, mas também com as ideias e o comportamento do próprio regime fascista, ao qual ele se submete.
A Temática do Conformismo e da Moralidade
O filme explora as questões complexas do conformismo social, onde o desejo de aceitação leva um homem a fazer escolhas que vão contra seus próprios princípios.
Marcello não age por ideologia ou convicção pessoal, mas por uma necessidade psicológica de pertencer a algo maior, seja ele certo ou errado. Isso cria um dilema existencial sobre os limites da moralidade individual em tempos de opressão política e ideológica.
A Direção de Bernardo Bertolucci: Estilo Visual e Carregamento Político
Uma Obra Estilisticamente Distinta
Bernardo Bertolucci é um dos cineastas mais influentes da história do cinema, e O Conformista é um excelente exemplo de sua abordagem visual e narrativa inovadora.
O filme é amplamente reconhecido por sua direção estilística que mistura a estética clássica do cinema italiano com uma abordagem moderna de montagem e câmera.
A obra é visualmente deslumbrante, com composições elaboradas e uso de cores vibrantes, especialmente nas cenas externas e nos interiores que retratam a repressão e a claustrofobia de Marcello.
Bertolucci usa a câmera lenta e os ângulos de câmera incomuns para destacar as emoções e o psicológico dos personagens, além de refletir o caráter opressor do regime fascista.
Uma das cenas mais notáveis do filme é a sequência no palácio de Veneza, que se torna um símbolo da distância entre os ideais de Marcello e a realidade opressiva da política fascista.
A Trilha Sonora de O Conformista
A trilha sonora, composta por Georges Delerue, é outro elemento fundamental que complementa o clima de tensão e desespero do filme. A música, muitas vezes melancólica e perturbadora, reflete o conflito interno de Marcello e as forças externas que o empurram para suas escolhas.
A combinação do design sonoro e da música reforça a sensação de isolamento e repressão que Marcello sente em sua tentativa de se conformar com o regime.
A Psicologia de Marcello Clerici: O Homem Que Se Perde na Busca por Identidade
A Psicologia do Conformismo
O personagem de Marcello Clerici é complexo e multifacetado. Ele não é simplesmente um villão ou um herói, mas um homem profundamente perturbado pela necessidade de conformar-se às expectativas sociais.
Essa psicologia do conformismo é explorada de forma brilhante por Bertolucci, que nos mostra como as circunstâncias externas, como o fascismo, podem explorar as fraquezas internas de um indivíduo.
Marcello deseja se integrar ao poder, mas ao mesmo tempo ele é consumido pela dúvida, pela incapacidade de perceber a verdadeira moralidade de suas ações. Sua obediência ao regime não é uma questão de crença, mas de uma necessidade pessoal e psicológica de ser aceito.
No entanto, à medida que avança em sua missão, ele começa a enfrentar o dilema de sua própria identidade, questionando se o conformismo realmente oferece a liberdade que ele busca.
A Relação de Marcello com Outros Personagens
O relacionamento de Marcello com os outros personagens também é uma chave para entender seu psicodrama. Giovanni Berber, o professor que ele deve assassinar, representa a antítese da conformidade, sendo uma figura de resistência ao regime.
Sua interação com Berber e sua esposa, Anna (Dominique Sanda), desafiam a própria visão de Marcello sobre si mesmo e sobre o mundo em que vive. Ao mesmo tempo, ele se vê atraído por Anna, o que traz mais complexidade para o dilema moral de Marcello.
Recepção Crítica e Legado de O Conformista
Aclamado pela Crítica
Desde seu lançamento, O Conformista foi amplamente elogiado pela crítica. O filme é considerado uma das maiores obras do cinema político, tanto pela profundidade psicológica quanto pela sua carga visual e narrativa.
Bertolucci foi aplaudido por sua habilidade de mesclar temas políticos e pessoais, criando uma história que se passa dentro do contexto do fascismo, mas que toca em questões universais sobre identidade, moralidade e poder.
O filme também é reconhecido pela excelência da atuação de Jean-Louis Trintignant, que encarna Marcello com uma sutileza e complexidade raras no cinema. Sua interpretação transmite as inseguranças, as contradições e as angústias de seu personagem com uma profundidade rara.
Legado Cultural
O Conformista é considerado um clássico do cinema italiano e um marco na carreira de Bertolucci. A obra influenciou uma geração de cineastas e é frequentemente citada como uma das melhores representações cinematográficas dos efeitos psicológicos do fascismo sobre o indivíduo.
A combinação de estilo visual único e conteúdo filosófico tornou o filme um exemplo seminal de como o cinema pode abordar questões políticas sem perder a dimensão humana e pessoal da história.
Conclusão: O Conformista – Uma Jornada Psicológica Sob a Sombra do Fascismo

O Conformista (1970) é uma obra-prima de Bernardo Bertolucci que continua a ser relevante por sua profundidade psicológica e sua crítica política.
O filme não apenas questiona os limites da moralidade e do conformismo, mas também explora como os indivíduos podem ser moldados por regimes autoritários, perdendo sua humanidade na busca por aceitação.
Com sua direção visual deslumbrante, trilha sonora envolvente e uma interpretação poderosa de Jean-Louis Trintignant, O Conformista permanece uma obra indispensável para os cinéfilos que buscam uma reflexão profunda sobre a natureza humana e as forças sociais que moldam nossas escolhas.
Assista ao trailer de “O Conformista”
No Brasil, “O Conformista” está disponível na Amazon Prime Video.