Luto e inteligência artificial: a tecnologia que reconecta com os falecidos
O luto e a inteligência artificial
No mundo contemporâneo, a tecnologia se faz presente em todos os pontos de nossas vidas e com o luto não seria diferente. A inteligência artificial (IA) agora promove uma ‘conversa’ com seus entes queridos que se foram.
O novo avanço da IA promete ajudar as pessoas a lidar com a perda de entes queridos. Por outro lado, o artigo levanta questões relacionadas com a ética e emoções. Confira!
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Conforto através da inovação tecnológica
Um dos exemplos sobre o uso da nova realidade é a história de Ana Schultz, que reside em Illinois e ficou viúva recentemente. Assim, ela usa a ferramenta My AI do Snapchat, com a configuração do chatbot para interagir com seu marido falecido.
O marido de Ana adorava cozinhar, então, com a configuração ela consegue uma conexão com ele e isso traz conforto. Já em outro exemplo, um profissional de TI realizou uma clonagem da voz do seu pai falecido através do ElevenLabs. Assim, a ferramenta consegue ler qualquer texto com a voz do seu ente querido.
Tecnologia e ética: uma linha tênue
Apesar da grande evolução, os novos poderes também apresentam responsabilidades. Por exemplo, a tecnologia que permite os reencontros digitais levanta as questões relacionadas com a ética e privacidade.
Para Mark Sample, professor de estudos digitais, as empresas veem nas oportunidades de mercado um certo abuso e má utilização das ferramentas. Assim, a possibilidade dos falecidos ‘falarem’ palavras que nunca disseram ultrapassa os limites e gera uma certa preocupação.
Além disso, a precisão dos modelos de IA depende muito dos dados fornecidos pelos usuários, que podem variar em qualidade e quantidade. De um lado a Replika, que permite desenvolver uma relação com um avatar, e do outro a HereAfter AI, focada em preservar e transmitir história dos que já morreram.
Impacto no processo de luto
Se por um lado a tecnologia oferece um certo conforto, do outro ela pode atrapalhar o processo de aceitação da realidade da morte. Assim, de acordo com uma pesquisadora de luto, Mary-Frances O’Connor, isso pode prolongar o luto de uma forma que não é saudável.
Já para outros, a tecnologia é uma companhia necessária que auxilia no processo de superação do luto. Por exemplo, Danielle Jaconson, da África do Sul, que criou um ‘namorado de IA’ para lidar com a solidão e estresse.
Avanços tecnológicos e futuro do luto digital
De olho nos avanços tecnológicos, as empresas, entre elas Amazon, exploram maneiras de personalizar ainda mais a IA. Assim, a tecnologia pode ser capaz de executar tarefas emocionais, como a voz de um ente querido. Um exemplo é a clonagem de voz de Val Kilmer no longa ‘Top Gun: Maverick’, já que o mesmo não podia falar devido um câncer.
Apesar das opções que a tecnologia oferece, é preciso ter cautela e avançar com cuidado, em respeito a memória dos falecidos e dos vivos que lutam com o luto. Com isso, a linha entre conforto e intrusão ainda é tênue e o debate sobre as implicações éticas segue.
Por fim, a decisão de usar IA para manter contato com entes queridos falecidos é pessoal e depende de cada um. Então, à medida que a tecnologia evolui, o entendimento sobre as nossas vidas e rituais íntimos acompanham.