“Landscapers”, minissérie dramática lançada em 2021, é um exemplo singular de como uma história real pode ser contada com ousadia e sensibilidade artística.
Co-produzida pela HBO (EUA) e Sky Atlantic (Reino Unido), a obra revisita o chocante assassinato cometido por Susan e Christopher Edwards, um casal britânico aparentemente comum que, em 1998, matou os pais dela e enterrou os corpos no jardim da casa.
O caso só veio à tona mais de uma década depois, quando a dupla foi finalmente descoberta.
Com apenas quatro episódios, “Landscapers” consegue prender a atenção do espectador não apenas pelo mistério do crime, mas pela maneira como a narrativa é construída — misturando drama, fantasia, humor negro e uma dose considerável de metalinguagem cinematográfica.
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A história real por trás de “Landscapers”

Quem eram Susan e Christopher Edwards?
Susan e Christopher viviam um casamento tranquilo e reservado, alimentado por uma obsessão por filmes clássicos, em especial os estrelados por Gary Cooper.
Quando os corpos de Patricia e William Wycherley foram encontrados enterrados no jardim da casa da família em Mansfield, Nottinghamshire, a revelação chocou o Reino Unido.
Durante mais de 15 anos, o casal manteve o crime em segredo, forjando correspondências em nome dos falecidos e continuando a coletar pensões e benefícios. O disfarce foi tão bem executado que só em 2013 a polícia chegou até eles, após uma confissão parcial feita por Christopher em um e-mail a seu enteado.
Uma história de amor ou manipulação?
“Landscapers” se aprofunda na relação entre os dois protagonistas, apresentando não apenas os eventos factuais do crime, mas também as motivações emocionais e psicológicas que podem ter levado ao ato.
A série não tenta justificar o assassinato, mas oferece uma perspectiva sensível e, por vezes, empática sobre o isolamento, a fantasia e a negação.
Estilo narrativo: entre o cinema noir e o teatro experimental
Uma direção inovadora
Sob a direção de Will Sharpe, a minissérie se distancia do estilo documental habitual de produções baseadas em crimes reais. Em vez disso, adota uma abordagem altamente estilizada, com mudanças bruscas de cenário, transições teatrais e elementos de cinema clássico inseridos de maneira deliberada.
Efeitos visuais e metalinguagem
Um dos aspectos mais marcantes de “Landscapers” é o uso constante de metalinguagem visual. Cenas são recriadas como se fossem parte de um filme antigo em preto e branco, personagens quebram a quarta parede e os cenários se transformam diante dos olhos do espectador.
Esse recurso aproxima a narrativa da imaginação dos protagonistas — especialmente Susan, cuja fuga da realidade é um dos temas centrais da série.
Elenco e atuações
Olivia Colman como Susan Edwards
A vencedora do Oscar Olivia Colman entrega uma das atuações mais marcantes de sua carreira em “Landscapers”. Sua interpretação da frágil, fantasiosa e emocionalmente complexa Susan é o coração da série. Colman equilibra com maestria a vulnerabilidade e o distanciamento psicológico da personagem.
David Thewlis como Christopher Edwards
Ao lado de Colman, David Thewlis (conhecido por “Harry Potter” e “Fargo”) interpreta Christopher com um tom mais contido, mas igualmente intrigante. Sua lealdade quase cega à esposa levanta questionamentos sobre cumplicidade, amor e responsabilidade.
Roteiro e construção de personagem
Ed Sinclair, o roteirista
O roteiro foi escrito por Ed Sinclair, marido de Olivia Colman, que passou anos pesquisando o caso e desenvolvendo o texto. Sua abordagem não é sensacionalista — pelo contrário, ele foca nos dilemas morais e emocionais, construindo diálogos profundos e, por vezes, desconcertantes.
Recepção da crítica e impacto cultural
Críticas positivas e premiações
“Landscapers” foi amplamente elogiada pela crítica por sua originalidade, atuação e direção. O The Guardian chamou a série de “um triunfo estilístico” e a Variety destacou sua capacidade de “reinventar o gênero true crime”.
A minissérie foi indicada a diversas premiações, incluindo o BAFTA e o Critics Choice Television Awards. Mesmo com sua estética divisiva, o consenso foi que “Landscapers” é uma obra audaciosa e necessária, especialmente em um mercado saturado por séries sobre crimes reais.
Discussão sobre ética e empatia
Além do apelo estético, “Landscapers” também provocou debates sobre a ética da dramatização de crimes reais. A série convida o público a refletir não apenas sobre os atos em si, mas sobre o contexto humano por trás deles.
Comparações com outras obras do gênero
Diferente de “The Staircase” ou “Dahmer”
Enquanto séries como “The Staircase” ou “Dahmer” seguem estruturas mais tradicionais e realistas, “Landscapers” inova ao incorporar elementos teatrais e cinematográficos.
Essa escolha torna a obra menos uma investigação e mais uma interpretação artística do que pode levar pessoas comuns a cometerem atos impensáveis.
Um novo caminho para o true crime?
A minissérie abre espaço para um novo tipo de narrativa criminal: aquela que não busca apenas o choque, mas a compreensão emocional e estética do que realmente significa viver à margem da realidade.
Conclusão: por que assistir “Landscapers”?

“Landscapers” não é apenas uma minissérie sobre um crime real. É uma obra audiovisual que questiona os limites da ficção e da realidade, da arte e da tragédia.
Com performances extraordinárias de Olivia Colman e David Thewlis, direção criativa de Will Sharpe e um roteiro sensível de Ed Sinclair, a série transforma um episódio brutal da vida real em uma meditação profunda sobre amor, culpa e negação.
Se você busca algo além do convencional no universo do true crime, “Landscapers” é, sem dúvida, uma experiência imperdível.
Assista ao trailer de “Landscapers”
No Brasil, “Landscapers” está disponível no Disney+.