Hagazussa (2017) – Um Terror Folclórico Sobre Isolamento, Loucura e Superstição

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O terror folclórico tem ganhado destaque nos últimos anos, com filmes como A Bruxa (2015) e Midsommar (2019) explorando superstições ancestrais e o medo do desconhecido.

Dentro desse subgênero, Hagazussa (2017) se destaca como uma experiência cinematográfica sombria e hipnótica, que mistura horror psicológico, drama e mitologia europeia.

Dirigido pelo austríaco Lukas Feigelfeld, Hagazussa se passa no século XV, nos Alpes austríacos, e acompanha Albrun, uma mulher solitária que vive reclusa após ser rejeitada pela sociedade sob a acusação de bruxaria.

O filme é um estudo profundo sobre a loucura causada pelo isolamento, a influência da superstição e a fragilidade da mente humana diante da opressão social.

Com poucos diálogos e uma cinematografia impressionante, Hagazussa não se apoia em sustos ou violência explícita, mas sim na construção de um clima de horror atmosférico, que prende o espectador em uma jornada sombria e perturbadora.

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Sinopse: A Jornada Sombria de Albrun

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Imagem: The Movie Database

A história de Hagazussa é dividida em quatro capítulos: Sombra, Chifre, Sangue e Fogo, cada um representando um estágio da deterioração mental da protagonista.

1. A Infância de Albrun (Sombra)

A trama começa quando Albrun ainda é uma criança, vivendo com sua mãe em uma cabana isolada nas montanhas. Desde cedo, ela percebe que são temidas e odiadas pelos aldeões, que as chamam de bruxas.

A superstição se intensifica quando sua mãe adoece misteriosamente e começa a agir de maneira estranha. Em uma das cenas mais perturbadoras do filme, Albrun assiste à morte agonizante da mãe, um evento que marcará sua psique para sempre.

2. O Isolamento e a Rejeição (Chifre)

Anos depois, já adulta e vivendo sozinha, Albrun tenta se conectar com os aldeões, mas continua sendo vista como uma pária. Margarathe, uma mulher da vila, se aproxima dela de maneira aparentemente amigável, mas suas intenções logo se revelam cruéis.

Conforme sua solidão se intensifica, Albrun começa a ouvir vozes e ter visões perturbadoras. O filme sugere que a linha entre realidade e delírio começa a se desfazer, e que Albrun pode estar de fato herdando o suposto legado de bruxaria de sua mãe.

3. O Ritual de Sangue e a Loucura (Sangue)

No ápice do filme, Albrun passa por um ritual bizarro e perturbador, envolvendo elementos de canibalismo, necrofilia e magia primitiva. Esse evento selará sua transformação final, à medida que ela abraça a identidade de bruxa imposta a ela pela sociedade.

4. A Purificação Pelo Fogo (Fogo)

O desfecho é trágico e brutal, com Albrun finalmente sucumbindo à loucura e ao destino que lhe foi imposto. A simbologia do fogo representa a destruição e a purificação, encerrando sua jornada de sofrimento de maneira intensa e visceral.

A Direção e a Atmosfera Hipnótica do Filme

1. A Fotografia Como Elemento de Horror

A cinematografia de Mariel Baqueiro é um dos aspectos mais marcantes do filme. Utilizando iluminação natural e paisagens desoladas, Hagazussa cria um sentimento constante de isolamento e opressão.

A natureza é tanto um refúgio quanto uma prisão, destacando a insignificância de Albrun diante do ambiente hostil.
O uso de sombras e névoa reforça o tom sobrenatural da narrativa, deixando o espectador sempre na dúvida entre realidade e alucinação.

2. A Trilha Sonora e o Som Como Construção de Medo

A trilha sonora de MMMD (Mohammad) contribui para a atmosfera do filme com sons experimentais e rituais, criando um efeito sufocante e inquietante.

Músicas de tons graves e repetitivos reforçam a sensação de paranoia.
Sons da natureza, como o vento e o farfalhar das árvores, são amplificados, tornando-se ameaçadores.

Esses elementos fazem de Hagazussa uma experiência sensorial, onde o horror não está apenas na história, mas na forma como o filme é sentido pelo espectador.

Temas Centrais: O Que Hagazussa Realmente Explora?

1. Isolamento e a Desintegração da Mente

O filme explora como o isolamento extremo pode levar à loucura.

Albrun cresce sem apoio social, sendo constantemente perseguida e desprezada.
A falta de contato humano e o trauma da infância a levam a um estado de completa alienação da realidade.

2. A Força da Superstição e o Medo da Bruxaria

Em uma época de ignorância e medo, qualquer mulher que fugisse dos padrões sociais poderia ser considerada bruxa.

O filme critica como a sociedade cria seus próprios monstros, forçando Albrun a aceitar o papel de bruxa simplesmente porque sempre foi tratada como tal.
A paranoia coletiva leva à opressão de mulheres, especialmente aquelas que viviam à margem da sociedade.

3. A Relação Entre Natureza e Espiritualidade

Diferente de filmes convencionais de bruxaria, Hagazussa sugere que a conexão com a natureza pode ser tanto libertadora quanto destrutiva.

A montanha e a floresta são refúgios para Albrun, mas também amplificam seu isolamento e loucura.
O filme sugere que a verdadeira bruxaria pode estar na mente humana – e não em feitiços ou magia literal.

Recepção e Impacto: Um Filme Para Poucos?

No Rotten Tomatoes, Hagazussa tem 93% de aprovação, sendo elogiado por sua estética e atmosfera intensa.
✔ Comparado a A Bruxa (2015), mas com um ritmo ainda mais contemplativo e abstrato.
✔ Dividiu o público: alguns consideram uma obra-prima do horror folclórico, enquanto outros acham lento e excessivamente experimental.

Conclusão: Um Terror Atmosférico e Hipnotizante

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Imagem: The Movie Database

Hagazussa não é um filme de terror convencional. Ele é um pesadelo psicológico e visual, que leva o espectador a uma jornada lenta e angustiante pelo declínio mental de sua protagonista.

Se você gosta de filmes de terror folclórico, este é um prato cheio.
Se prefere sustos rápidos e narrativas lineares, talvez seja uma experiência desafiadora.

Ao final, a grande pergunta que fica é:

Albrun era uma bruxa de verdade – ou apenas o produto de uma sociedade que a condenou desde o início? 🌙🔥

Assista ao trailer de “Hagazussa”

No Brasil, “Hagazussa” está disponível na Amazon Prime Video e YouTube Filmes.