Green Book: O Guia (2018): Uma História de Amizade e Superação no Sul Segregado dos EUA
Lançado em 2018 e vencedor do Oscar de Melhor Filme, Green Book: O Guia é uma produção que mistura drama e comédia para contar uma história real e profundamente comovente.
Ambientado nos anos 60, o filme retrata a improvável amizade entre dois homens de origens e estilos de vida completamente distintos, unidos por uma jornada transformadora pelo sul dos Estados Unidos — em pleno contexto de segregação racial.
Dirigido por Peter Farrelly, o longa se inspira na relação entre Don Shirley, um refinado pianista negro, e Tony Vallelonga, um segurança ítalo-americano com poucos filtros e muitos preconceitos.
Green Book é mais do que um road movie: é uma reflexão sobre racismo, empatia, humanidade e, acima de tudo, superação.
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Sinopse: Uma Viagem Pelo Sul Profundamente Dividido

Green Book começa quando Tony “Lip” Vallelonga (Viggo Mortensen) se vê temporariamente desempregado após o fechamento do clube noturno onde trabalhava como segurança.
Ele aceita um trabalho inusitado: ser o motorista e assistente pessoal do renomado pianista Don Shirley (Mahershala Ali), durante uma turnê de concertos pelos estados do sul dos EUA — uma região ainda profundamente marcada por leis segregacionistas.
A viagem é feita com o auxílio do “Green Book”, um guia de viagem real, publicado na época para ajudar motoristas negros a encontrarem hotéis e restaurantes que os aceitassem.
A partir daí, o filme conduz o espectador por uma série de situações onde a elegância e talento de Don contrastam com o racismo institucionalizado, enquanto Tony aprende, aos poucos, a enxergar o mundo de outra forma.
Green Book e o Guia de Sobrevivência Real
O título do filme faz referência ao verdadeiro “The Negro Motorist Green Book”, um guia publicado anualmente entre 1936 e 1966 por Victor Hugo Green. Ele listava estabelecimentos nos Estados Unidos onde viajantes negros poderiam se hospedar e comer com segurança durante a era Jim Crow.
Esse detalhe histórico é central para a narrativa de Green Book, pois simboliza as limitações impostas a afro-americanos mesmo com prestígio, riqueza ou talento. Ao mesmo tempo, representa a resiliência e resistência da comunidade negra frente à opressão sistêmica.
Personagens Principais
Don Shirley – Elegância e Solidão
Don Shirley é um músico excepcional, educado em algumas das instituições mais prestigiadas da Europa. Apesar de seu status, enfrenta racismo e exclusão social por sua cor.
Interpretado magistralmente por Mahershala Ali (Oscar de Melhor Ator Coadjuvante), Shirley é um homem refinado e introspectivo, que carrega um sentimento de deslocamento — não sendo plenamente aceito nem entre brancos, nem entre os negros da época.
Tony “Lip” Vallelonga – Ignorância e Transformação
Viggo Mortensen interpreta Tony com uma energia vibrante e um carisma bruto. Inicialmente retratado como um homem de atitudes racistas e limitadas, sua jornada ao lado de Shirley o força a confrontar seus próprios preconceitos. Com o tempo, ele se transforma em um aliado inesperado e amigo leal.
A interação entre os dois não apenas gera momentos cômicos, mas também profundas reflexões sobre classe, privilégio e humanidade.
Amizade, Conflito e Crescimento
O coração de Green Book é a amizade que se desenvolve entre Tony e Don. Inicialmente distantes e desconfiados um do outro, eles acabam se conectando por meio das dificuldades compartilhadas ao longo da viagem.
Cada parada é marcada por algum tipo de humilhação sofrida por Don, que expõe a brutalidade do racismo cotidiano. Tony, apesar de sua visão limitada, começa a entender a profundidade dessas experiências.
A transformação de ambos é gradual. Tony aprende sobre empatia e respeito, enquanto Don descobre que pode confiar e se abrir, mesmo para alguém tão diferente dele. Essa relação simbólica representa um possível caminho para o entendimento entre diferentes culturas e histórias.
Direção, Roteiro e Trilha Sonora
Dirigido por Peter Farrelly, conhecido até então por comédias como Quem Vai Ficar com Mary?, Green Book marca uma virada na carreira do cineasta. A direção é sensível e evita cair em melodramas fáceis, equilibrando humor e emoção com eficiência.
O roteiro, coescrito por Nick Vallelonga (filho de Tony), Brian Currie e Farrelly, foi alvo de algumas controvérsias — incluindo críticas de familiares de Don Shirley, que alegaram que a amizade foi romantizada demais. Apesar disso, o roteiro foi premiado com o Oscar de Melhor Roteiro Original.
A trilha sonora é um destaque à parte, com músicas clássicas executadas por Don Shirley e composições que evocam a atmosfera da época.
Reconhecimento e Controvérsias
Green Book foi o grande vencedor do Oscar de 2019, levando as estatuetas de Melhor Filme, Melhor Roteiro Original e Melhor Ator Coadjuvante para Mahershala Ali. Também recebeu diversos prêmios no Globo de Ouro e no BAFTA.
No entanto, não escapou de críticas. Muitos questionaram a perspectiva adotada — centrada em Tony, um homem branco — e a forma como o racismo foi representado. Outros argumentaram que o filme suaviza a realidade da segregação para torná-la mais “palatável” ao público.
Ainda assim, para muitos espectadores, Green Book cumpriu um papel importante ao reacender debates sobre preconceito, inclusão e memória histórica.
Conclusão

Green Book é um filme que consegue emocionar, provocar e entreter ao mesmo tempo. Ao contar a história real de uma amizade improvável, ele mostra que mudanças de perspectiva são possíveis — mesmo nos contextos mais adversos.
Através da jornada de Tony e Don, o filme convida o público a refletir sobre o passado para compreender melhor os desafios do presente.
Mesmo com suas polêmicas, Green Book permanece relevante como obra que tenta promover empatia em tempos de polarização.
Assista ao trailer de “Green Book: O Guia”
No Brasil, “Green Book: O Guia” está disponível na Amazon Prime Video, YouTube Filmes e Apple TV.