“Broker”: Um Filme Sul-Coreano Sensível sobre Família, Afeto e Redenção
Lançado em 2022 e dirigido pelo cineasta japonês Hirokazu Kore-eda, Broker é um filme sul-coreano que trata de temas complexos com delicadeza e profundidade emocional.
Ambientado na Coreia do Sul, o longa retrata a trajetória de personagens envolvidos em um esquema ilegal de adoção de bebês, que acabam formando uma família improvisada — e profundamente humana.
Apesar da premissa delicada, o diretor conduz a narrativa com seu estilo característico: olhar contemplativo, empatia pelos personagens e uma investigação silenciosa sobre o que nos torna uma família.
O filme é estrelado por grandes nomes do cinema sul-coreano, como Song Kang-ho (vencedor de Melhor Ator em Cannes por este papel), Gang Dong-won, Doona Bae, e Lee Ji-eun (IU).
Saiba mais:
“Três Homens em Conflito”: O Faroeste Épico que Definiu um Gênero
“Terra de Deus”: Uma Jornada Visual e Espiritual Pela Islândia do Século XIX
A trama – Vidas conectadas por um bebê abandonado
A história começa com uma jovem mãe, So-young (IU), que abandona seu bebê em uma “caixa para bebês” — um recurso real existente na Coreia do Sul para mães que não podem ou não querem criar seus filhos.
Dois homens, Sang-hyun (Song Kang-ho) e Dong-soo (Gang Dong-won), operam secretamente um esquema de intermediação de adoções ilegais, tentando encontrar novos pais para o bebê.
No entanto, quando So-young retorna inesperadamente e descobre o plano dos dois, ela decide se juntar à jornada para garantir que seu filho tenha um bom lar.
O trio, com o bebê nos braços, embarca em uma viagem inesperada, onde laços de afeto e solidariedade começam a surgir. Paralelamente, duas detetives da polícia seguem os passos do grupo, complicando ainda mais a trajetória dos personagens.
Um filme sul-coreano com alma japonesa
Embora seja um filme sul-coreano, Broker é dirigido por um dos cineastas mais respeitados do Japão contemporâneo, Hirokazu Kore-eda, conhecido por obras como Assunto de Família (Palma de Ouro em Cannes 2018).
Em Broker, Kore-eda mergulha na cultura coreana, mas mantém sua abordagem humanista, centrada nas relações interpessoais e na ideia de família não convencional.
A união entre o realismo emocional japonês e o melodrama sutil coreano resulta em um filme equilibrado, comovente e profundamente reflexivo.
A direção evita julgamentos morais e se concentra nas motivações e na dor de cada personagem, fazendo de Broker um filme sul-coreano universal em sua linguagem emocional.
Song Kang-ho e o elenco impecável
Song Kang-ho – A alma do filme
Conhecido por seu trabalho em Parasita e Memórias de um Assassino, Song Kang-ho interpreta Sang-hyun, um homem de passado difícil que busca algum sentido em sua vida ao ajudar bebês a encontrarem novos lares — ainda que de maneira ilegal.
Sua performance é discreta, mas cheia de nuances, e lhe rendeu o prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes 2022.
IU (Lee Ji-eun) – Revelação dramática
A cantora e atriz IU, mais conhecida por seus trabalhos no k-pop e em dramas televisivos, entrega uma performance surpreendente como So-young. Sua personagem, uma jovem mãe cheia de culpa, raiva e ternura reprimida, é o fio emocional da história. IU mostra grande maturidade artística ao interpretar uma mulher fragmentada, mas disposta a fazer o que acredita ser melhor para seu filho.
Gang Dong-won e Doona Bae – A sustentação emocional
Gang Dong-won, como o órfão Dong-soo, e Doona Bae, como a policial investigadora, completam o elenco principal com atuações sólidas, que equilibram o realismo e a empatia.
Cada personagem traz uma bagagem emocional que contribui para o retrato coletivo de uma sociedade que falha com os seus mais vulneráveis.
Família além do sangue
Um tema recorrente no cinema asiático
A construção de famílias não convencionais é um tema frequente nos filmes de Hirokazu Kore-eda, e em Broker essa ideia ganha contornos ainda mais delicados por envolver crianças, ilegalidade e abandono.
O filme questiona os limites entre o certo e o errado, e mostra que laços afetivos podem nascer das circunstâncias mais improváveis.
O filme sul-coreano aborda a ideia de família como algo fluido, que pode surgir da necessidade, da compaixão e da convivência. Broker não glorifica os atos dos protagonistas, mas também não os condena. Ele convida o espectador a entender as camadas que compõem cada escolha.
Adoção e abandono em debate
A Coreia do Sul tem um histórico complexo com o tema da adoção, incluindo leis rigorosas e um número elevado de adoções internacionais nas últimas décadas.
Broker traz esse debate à tona de forma sensível, expondo como o sistema pode empurrar mães para decisões extremas e como o desejo de “fazer o bem” pode colidir com a realidade legal e moral.
A estética da gentileza
Uma fotografia suave e acolhedora
A direção de fotografia aposta em tons suaves, com paisagens calmas e closes intimistas, que contribuem para a sensação de proximidade entre os personagens.
A câmera de Kore-eda acompanha os protagonistas de forma respeitosa, sem sensacionalismo, permitindo que o público se conecte com suas emoções reais.
Trilha sonora discreta e emocional
A música, composta por Jung Jae-il (também responsável pelas trilhas de Parasita e Round 6), é contida e sutil, reforçando os momentos de afeto e tensão sem jamais se sobrepor às cenas.
A trilha guia emocionalmente a jornada do grupo, refletindo a dualidade entre tristeza e esperança que permeia todo o filme.
Reconhecimento internacional
Broker estreou no Festival de Cannes 2022, onde recebeu aclamação da crítica e venceu o prêmio de Melhor Ator.
O filme também foi selecionado como representante da Coreia do Sul para o Oscar de Melhor Filme Internacional, consolidando-se como um dos grandes destaques do cinema asiático recente.
Com esse filme sul-coreano, Hirokazu Kore-eda reafirma seu talento como contador de histórias humanas, atravessando fronteiras linguísticas e culturais com uma narrativa universal sobre pertencimento e empatia.
Conclusão – Um filme sul-coreano de profunda humanidade
Broker é um filme sul-coreano que emociona por sua simplicidade, pela força dos laços humanos improváveis e pela sensibilidade com que trata temas delicados como adoção, abandono e reconstrução familiar.
Com um elenco extraordinário, direção precisa e um roteiro tocante, o longa é um lembrete de que, mesmo à margem da sociedade, é possível encontrar laços genuínos e afetos verdadeiros.
Kore-eda oferece um olhar amoroso sobre personagens muitas vezes invisíveis, reforçando a ideia de que família é aquilo que construímos, e não apenas o que herdamos.
Assista ao trailer de “Broker”
No Brasil, “Broker” está disponível na Amazon Prime Video, Apple TV+ e YouTube Filmes.