“O Sétimo Selo” (1957): A Partida de Xadrez com a Morte no Clássico Existencial de Ingmar Bergman
Lançado em 1957, “O Sétimo Selo” (Det sjunde inseglet), de Ingmar Bergman, é considerado um dos pilares do cinema mundial.
Com uma estética marcante, diálogos filosóficos profundos e uma abordagem existencialista, o filme narra a jornada de um cavaleiro medieval que retorna das Cruzadas e encontra um país devastado pela peste.
No centro dessa alegoria está uma das cenas mais emblemáticas da história do cinema: uma partida de xadrez entre o cavaleiro e a própria Morte.
“O Sétimo Selo” não é apenas um filme, mas um tratado visual sobre fé, dúvida, mortalidade e a busca por sentido em um mundo silencioso diante do sofrimento humano.
A obra consolidou Ingmar Bergman como um dos maiores autores cinematográficos do século XX e influenciou gerações de cineastas, de Woody Allen a Andrei Tarkovsky.
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Enredo de “O Sétimo Selo”

A Chegada da Morte: O Cavaleiro e o Tabuleiro
O filme começa com a icônica cena em que o cavaleiro Antonius Block (interpretado por Max von Sydow) encontra a Morte (personificada por Bengt Ekerot) em uma praia deserta.
Block desafia-a para uma partida de xadrez, acreditando que, enquanto o jogo durar, poderá adiar sua morte e encontrar respostas para suas angústias existenciais.
De volta à Suécia após anos nas Cruzadas, o cavaleiro encontra um país assolado pela peste bubônica, com a população mergulhada em medo, fanatismo religioso e violência.
Junto de seu escudeiro cínico, Jöns, Block embarca em uma jornada através de vilarejos e florestas sombrias, cruzando com diversos personagens que representam diferentes respostas à crise espiritual da época.
Personagens e Simbolismos
Antonius Block: O Cavaleiro em Busca de Fé
Block é o arquétipo do homem moderno em crise espiritual. Mesmo sendo um cavaleiro cristão, ele retorna das Cruzadas sem fé, questionando a existência de Deus e o silêncio do divino diante da dor humana.
Sua busca por respostas transforma a narrativa em uma meditação sobre a espiritualidade e a dúvida em tempos de desespero.
Jöns: O Escudeiro Cético
Enquanto Block é atormentado por questões metafísicas, Jöns é a voz do ceticismo e da razão. Irônico e desencantado, ele representa uma resposta mais pragmática ao caos — sobrevivência e racionalidade, sem ilusões sobre o além.
A Morte: Fria, Inevitable e Persuasiva
A personificação da Morte é um dos elementos mais impactantes de “O Sétimo Selo”. Com sua túnica escura, rosto pálido e fala tranquila, ela não é monstruosa, mas implacável.
O jogo de xadrez simboliza a tentativa humana de adiar o inevitável — e talvez, enganar o destino por mais alguns momentos de lucidez ou esperança.
O Casal de Saltimbancos: Esperança e Inocência
Entre as figuras mais tocantes do filme estão Jof e Mia, artistas ambulantes que representam a beleza simples da vida.
Enquanto Block questiona o valor da existência, o casal encontra alegria nas pequenas coisas — o riso do filho, a partilha de morangos — oferecendo ao cavaleiro talvez seu único momento de verdadeira paz.
Temas Centrais de “O Sétimo Selo”
Fé vs. Dúvida
A principal tensão do filme é entre fé e dúvida. Block clama por respostas de Deus, mas só encontra silêncio. Em contraponto, os personagens que aceitam a vida como ela é (como Jof, Mia e o escudeiro Jöns) parecem mais serenos, mesmo diante da tragédia.
Morte e o Sentido da Vida
A inevitabilidade da morte é um tema constante. Ao aceitar jogar com a Morte, Block tenta dar sentido ao tempo que lhe resta. O filme questiona: como viver quando sabemos que vamos morrer? Como agir em um mundo onde o sofrimento parece não ter razão?
Fanatismo e Moralidade
Em meio à peste, surgem freiras flagelantes, padres aterrorizados e multidões em pânico. Bergman critica o fanatismo religioso e a maneira como ele oprime ao invés de confortar. A fé institucionalizada falha em dar sentido à dor, e o caos moral se instala.
Arte como Redenção
A presença do casal de artistas não é apenas um alívio cômico ou poético — é uma sugestão de que a arte pode ser uma forma de transcendência. Ao contemplar a simplicidade do amor e da beleza cotidiana, Block encontra uma breve redenção, mesmo sem fé.
Estética e Direção
Fotografia: O Preto e Branco como Existência e Ausência
Filmado em preto e branco por Gunnar Fischer, o visual de “O Sétimo Selo” é profundamente simbólico. A luz e a sombra se tornam extensões do estado interior dos personagens. O contraste forte entre claro e escuro representa os dilemas entre fé e dúvida, vida e morte.
Narrativa Alegórica
Bergman constrói uma narrativa simbólica e, ao mesmo tempo, realista. Cada personagem e situação possui uma função quase arquetípica. O roteiro, escrito pelo próprio Bergman, alterna diálogos filosóficos com momentos de lirismo, sátira e silêncio contemplativo.
O Legado de “O Sétimo Selo”
Um Ícone do Cinema Mundial
“O Sétimo Selo” é uma das obras mais influentes do cinema. Sua famosa cena do jogo de xadrez com a Morte já foi parodiada e homenageada dezenas de vezes (de Woody Allen a Monty Python), mas sua força permanece intacta.
É uma obra que transcende o tempo, dialogando com qualquer época em que a humanidade enfrente o caos e a incerteza.
Bergman e o Cinema Filosófico
Com este filme, Ingmar Bergman inaugurou uma fase de seu cinema dedicada à metafísica, consolidando-se como um dos cineastas mais intelectuais e profundos do século XX.
“O Sétimo Selo” é, acima de tudo, um convite à introspecção — uma jornada pela escuridão que busca a luz, mesmo sem a garantia de encontrá-la.
Conclusão

“O Sétimo Selo” continua sendo um dos filmes mais impactantes já feitos. Com sua narrativa filosófica, suas imagens icônicas e sua discussão sobre a vida e a morte, Bergman nos presenteia com uma obra que ainda provoca, emociona e questiona.
É um clássico eterno que não oferece respostas fáceis, mas nos convida a encarar a pergunta fundamental: como viver diante da certeza da morte?
Assista ao trailer de “O Sétimo Selo”
No Brasil, “O Sétimo Selo” não está disponível para streaming. No entanto, você encontra a obra na Amazon Prime Video, dependendo da região.