Asas do Desejo (1987): A Obra-Prima de Wim Wenders sobre Anjos, Existência e o Desejo Humano

Asas do Desejo (1987), também conhecido pelo título original Der Himmel über Berlin, é uma das obras mais marcantes do cineasta alemão Wim Wenders. Este filme poético e filosófico explora a vida humana através dos olhos de anjos, que observam e interagem com as pessoas em uma Berlim dividida.

A obra não apenas apresenta uma perspectiva única sobre a cidade e a condição humana, mas também reflete sobre temas universais como o sentido da existência, a solidão, o amor e o desejo de experimentar a vida.

Wenders cria uma atmosfera introspectiva e sensível, onde a jornada dos personagens é acompanhada por uma reflexão profunda sobre a essência da vida.

Em Asas do Desejo, o diretor combina a beleza estética com uma narrativa filosófica, tornando o filme um clássico do cinema contemporâneo e uma das maiores expressões do cinema alemão pós-guerra.

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Quem é Wim Wenders?

Wim Wenders, nascido em Düsseldorf, Alemanha, em 1945, é um dos cineastas mais importantes da segunda metade do século XX.

Inicialmente influenciado pelo cinema neorrealista italiano e pelos movimentos de vanguarda do cinema europeu, Wenders se destacou por seu estilo visual lírico e por suas reflexões existenciais.

Sua carreira inclui uma diversidade de gêneros e temas, mas sempre com uma preocupação central com a condição humana e suas complexidades.

Além de Asas do Desejo, Wenders é conhecido por filmes como Paris, Texas (1984), que explora o abandono e o reencontro, e Caminhos no Mundo (2000), um documentário sobre os refugiados.

Sua obra é marcada por uma sensibilidade estética e por um estilo narrativo que permite ao público uma profunda imersão nas questões existenciais e filosóficas que ele propõe.

O Contexto de Produção de Asas do Desejo

Asas do Desejo foi produzido em um momento crítico da história da Alemanha.

O filme foi lançado no final da década de 1980, em pleno período da Guerra Fria, com a Alemanha ainda dividida entre o Leste e o Oeste. A Berlim dividida é um dos cenários mais emblemáticos do filme, simbolizando a separação não apenas geopolítica, mas também emocional e psicológica da humanidade.

A escolha de Wenders por essa cidade como pano de fundo é crucial para a mensagem do filme, já que Berlim se torna um reflexo das tensões internas e da busca por unidade, tanto no nível político quanto pessoal.

Enredo: Anjos Observando a Vida Humana

A Perspectiva dos Anjos

Asas do Desejo segue dois anjos, Damiel (Bruno Ganz) e Cassiel (Otto Sander), que flutuam acima de Berlim, observando silenciosamente as vidas das pessoas.

Os anjos, imortais e distantes, não podem interagir diretamente com os seres humanos, mas são capazes de perceber seus pensamentos, sentimentos e a dor emocional que carregam.

Eles ouvem as conversas internas de todos ao seu redor, mas permanecem apartados, sem conseguir experimentar o mundo físico ou afetar a vida das pessoas.

A principal temática do filme gira em torno do desejo de Damiel de experimentar a vida humana. Ele começa a questionar o sentido de sua existência como um observador passivo, sem a capacidade de tocar, sentir, ou participar diretamente da vida das pessoas.

Sua jornada é marcada pela tensão entre o desejo de continuar como anjo e a curiosidade irresistível de viver como ser humano.

A Decisão de Damiel: Tornar-se Humano

A trama central do filme se concentra na luta interna de Damiel. Ele se apaixona por Marion (Solveig Dommartin), uma trapezista de circo que vive em Berlim Ocidental.

Quando Damiel presencia o sofrimento e a solidão de Marion, ele começa a considerar a possibilidade de se tornar humano para poder experimentar a vida de uma forma mais plena e concreta.

Essa decisão de Damiel, que passa a buscar a experiência humana, simboliza a eterna busca por significado e conexão.

Ao longo do filme, o anjo se torna cada vez mais ciente de sua necessidade de sentir a vida em suas diversas formas — do prazer à dor, da alegria à tristeza.

O filme, assim, lida com a ideia de que a experiência humana, com todas as suas imperfeições, é essencial para o entendimento de si mesmo e do mundo.

O Estilo Visual e Sonoro de Asas do Desejo

Fotografia e Estética: Berlim como Personagem

A cinematografia de Asas do Desejo, assinada por Henri Alekan, é um dos elementos que mais contribui para a atmosfera única do filme. O uso de preto e branco nas primeiras partes do filme representa a perspectiva dos anjos, um mundo etéreo e distante da realidade concreta dos seres humanos.

O contraste entre as cenas em preto e branco, que representam o olhar dos anjos, e as cenas coloridas, que representam o mundo humano, reforça a separação entre os dois mundos e a transformação de Damiel.

A cidade de Berlim, com seus edifícios modernistas e paisagens desoladas, é filmada de maneira poética, com a câmera de Wenders capturando a beleza melancólica e quieta da cidade dividida.

As imagens da cidade são compostas de forma a ressaltar a solidão e o vazio existencial das ruas, criando um contraste com as emoções intensas dos personagens humanos.

A Trilha Sonora: Música como Expansão Emocional

A trilha sonora de Asas do Desejo é outro aspecto fundamental para a construção da atmosfera do filme. A música é composta por diversos artistas, com destaque para o cantor Nick Cave e a banda The Bad Seeds, cujas músicas adicionam uma camada de melancolia e intensidade emocional ao filme.

A música de Cave, em particular, complementa perfeitamente o tema do filme, enfatizando a transição de Damiel de um ser distante e imortal para um ser humano com suas vulnerabilidades.

Além disso, a música também serve como um reflexo das emoções internas de Damiel e Marion, ajudando a aprofundar a conexão do público com os personagens e suas jornadas emocionais.

O Impacto de Asas do Desejo no Cinema

Um Filme Filosófico e Existencial

Asas do Desejo é, acima de tudo, um filme existencial. Ao tratar de temas como o desejo de experimentar a vida, a busca por significado e a interconexão entre os seres humanos, o filme estabelece um diálogo profundo com a filosofia e a literatura.

A presença dos anjos como observadores impassíveis da vida humana torna a experiência de cada personagem ainda mais significativa, já que eles testemunham, mas não podem intervir.

A transição de Damiel de anjo para humano também traz uma reflexão sobre a importância de viver plenamente, com todas as suas imperfeições, e sobre a beleza da condição humana.

A busca por experiência, amor e conexão são os motores que movem o filme, e essas questões ressoam até hoje como algumas das mais fundamentais na vida de qualquer ser humano.

O Legado do Filme

Lançado no final da década de 1980, Asas do Desejo não só consolidou Wim Wenders como um dos maiores cineastas da sua geração, mas também ajudou a definir o cinema alemão contemporâneo.

O filme teve uma enorme influência em diretores ao redor do mundo e é frequentemente citado como uma das maiores obras do cinema moderno.

A obra inspirou uma sequência, Cidade dos Anjos (1998), dirigida por Brad Silberling, que trouxe o conceito dos anjos para o cenário de Los Angeles, embora com uma abordagem mais mainstream e romântica.

No entanto, a versão original de Wenders permanece uma das mais poderosas meditações cinematográficas sobre a vida humana.

Conclusão: A Beleza de Viver em Asas do Desejo

Asas do Desejo é mais do que apenas um filme sobre anjos. É uma reflexão profunda sobre a vida, a morte, o amor e a busca por significado.

Através da jornada de Damiel e dos outros personagens, Wim Wenders nos apresenta uma visão sensível e poética da condição humana, onde o desejo de viver, com todas as suas complexidades, se torna a força motriz da existência.

Com sua estética única e sua abordagem filosófica, Asas do Desejo continua a ser um filme essencial para aqueles que buscam uma meditação cinematográfica sobre o que significa ser humano.

Assista ao trailer de “Asas do Desejo”

No Brasil, “Asas do Desejo” está disponível na Amazon Prime Video.