Em Nome do Céu: Minissérie policial mergulha em crime real e fanatismo religioso nos EUA
Lançada em 2022, a minissérie Em Nome do Céu (Under the Banner of Heaven, no original) rapidamente conquistou o público e a crítica com sua abordagem ousada sobre crime, fé e extremismo religioso.
Baseada no livro homônimo de Jon Krakauer, a produção é uma reconstrução dramática de um assassinato brutal ocorrido em uma comunidade mórmon fundamentalista nos Estados Unidos, nos anos 1980.
Protagonizada por Andrew Garfield, a série é uma co-produção do canal FX e da Hulu, com distribuição internacional via plataformas de streaming, como Star+.
Mais do que uma simples narrativa policial, Em Nome do Céu é um mergulho psicológico e social em uma estrutura religiosa que, quando levada ao extremo, pode justificar o inominável.
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A história real por trás de Em Nome do Céu

O assassinato de Brenda e Erica Lafferty
A minissérie Em Nome do Céu se baseia em eventos reais ocorridos em 1984, quando Brenda Lafferty, uma jovem mórmon, e sua filha de 15 meses, Erica, foram brutalmente assassinadas em sua casa no estado de Utah, EUA.
Os responsáveis pelo crime? Os irmãos Ron e Dan Lafferty, cunhados da vítima, que afirmaram ter recebido “revelações divinas” ordenando os assassinatos.
O caso chocou o país e despertou questionamentos sobre as ramificações extremistas dentro da religião mórmon, especialmente nos grupos dissidentes que não reconhecem a liderança oficial da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
Jon Krakauer e a investigação profunda
O livro de Krakauer, publicado em 2003, entrelaça a história do crime com a trajetória da fé mórmon nos Estados Unidos, traçando paralelos entre o nascimento da religião e o surgimento de interpretações violentas e literais de seus textos sagrados.
A adaptação televisiva mantém esse fio narrativo, ampliando as implicações do crime e o contexto histórico da religião.
Andrew Garfield como o detetive de fé abalada
Uma atuação elogiada e comovente
Na série, Andrew Garfield interpreta Jeb Pyre, um detetive mórmon fictício designado para investigar o assassinato.
Ao longo da investigação, Pyre se vê diante de horrores que colocam sua fé, sua comunidade e até sua própria identidade em xeque. Garfield entrega uma atuação contida e poderosa, equilibrando sensibilidade, choque e conflito interno.
Seu personagem, embora não seja real, funciona como representação da tensão entre a doutrina religiosa tradicional e a dureza do mundo real — especialmente quando a religião é usada como justificativa para a violência.
Um conflito interno que guia a trama
A construção de Pyre é um dos pilares emocionais da minissérie. Membro devoto da igreja, casado e pai de duas filhas, ele começa a questionar tudo o que acreditava à medida que se depara com as motivações por trás do crime.
A série explora o custo psicológico dessa jornada e como a verdade pode ser incompatível com a fé cega.
O fundamentalismo religioso como pano de fundo
Muito além do crime: uma crítica à radicalização da fé
Em Nome do Céu não se limita ao gênero policial. A minissérie mergulha fundo na história da fé mórmon, revelando suas origens polêmicas, a poligamia, os conflitos com o governo dos EUA e o surgimento de seitas fundamentalistas dissidentes.
Os irmãos Lafferty, por exemplo, faziam parte de uma dessas vertentes mais radicais, que pregavam a volta à “doutrina original” revelada a Joseph Smith.
A série não ataca a religião em si, mas alerta para os perigos da interpretação literal de textos sagrados, da hierarquia incontestável e da doutrinação que afasta a razão. A fé, nesse contexto, é mostrada como força de construção — mas também de destruição.
Flashbacks históricos intensificam a narrativa
Ao longo dos episódios, a minissérie intercala a investigação atual com flashbacks históricos da fundação do movimento mórmon no século XIX.
Essa abordagem enriquece a trama ao mostrar como a fé pode ser moldada, manipulada e reinterpretada de geração em geração — e como o poder espiritual, quando aliado ao político, pode se tornar explosivo.
Direção, roteiro e atmosfera da minissérie
Roteiro de Dustin Lance Black
O criador da série, Dustin Lance Black (vencedor do Oscar por Milk), é ex-mórmon e traz conhecimento íntimo da religião para o roteiro.
Seu texto é cuidadoso, informativo e impactante. A série respeita a complexidade dos personagens, não os reduz a vilões ou santos, e dá espaço para diferentes visões de mundo.
Atmosfera sombria e tensa
Com direção de David Mackenzie (A Qualquer Custo) e Courtney Hunt (Rio Congelado), os episódios têm uma atmosfera sombria, silenciosa e carregada de tensão.
A fotografia aposta em tons frios e ambientes isolados para refletir a solidão espiritual dos personagens. A trilha sonora, discreta, reforça o peso emocional de cada revelação.
Outros destaques do elenco
- Daisy Edgar-Jones como Brenda Lafferty, a jovem mulher assassinada, que desafia os costumes conservadores da família;
- Sam Worthington como Ron Lafferty, o irmão mais velho fanático, intenso e imprevisível;
- Wyatt Russell como Dan Lafferty, ainda mais radical que o irmão, defensor do retorno à poligamia e da violência como instrumento divino;
- Chloe Pirrie e Gil Birmingham completam o elenco com atuações marcantes, oferecendo diferentes perspectivas sociais e religiosas.
Repercussão e impacto de Em Nome do Céu
Recepção da crítica
Em Nome do Céu foi amplamente elogiada por seu roteiro, atuações e coragem temática. A série mantém uma avaliação superior a 85% no Rotten Tomatoes e foi indicada ao Emmy nas categorias de Melhor Ator (Andrew Garfield) e Melhor Roteiro.
Muitos críticos apontaram a produção como uma das minisséries mais densas e impactantes de 2022.
Reações da comunidade mórmon
A minissérie gerou reações mistas entre membros da comunidade mórmon. Enquanto alguns agradeceram a abordagem honesta e cuidadosa, outros criticaram o que consideraram uma generalização ou exagero dos aspectos mais obscuros da religião.
No entanto, a série deixa claro que seu alvo não é a fé, mas o fanatismo.
Conclusão: Por que assistir Em Nome do Céu?

Em Nome do Céu é muito mais do que uma série policial. É uma reflexão contundente sobre o que acontece quando a fé é distorcida, quando o poder espiritual se torna absoluto e quando a justiça entra em conflito com a doutrina. É uma obra poderosa, bem escrita, lindamente atuada e dolorosamente atual.
Se você se interessa por histórias reais, crimes complexos, questões religiosas e narrativas bem construídas, Em Nome do Céu é uma minissérie imperdível.
Assista ao trailer de “Em Nome do Céu”
No Brasil, “Em Nome do Céu” está disponível no Disney+.