“E o Vento Levou”: Um Clássico que o Tempo Não Apagou – Amor, Guerra e História no Cinema
Poucos filmes conseguiram atravessar o tempo com a mesma força simbólica e impacto cultural de E o Vento Levou. Lançado em 1939, o longa dirigido por Victor Fleming transformou-se em um dos maiores marcos da história do cinema.
Baseado no romance de Margaret Mitchell, publicado em 1936, o filme conta a história de Scarlett O’Hara, uma jovem da aristocracia sulista americana, durante e após a Guerra Civil dos Estados Unidos.
Com uma narrativa que mistura drama, romance, tragédia e crítica social, E o Vento Levou tornou-se um símbolo não apenas da chamada “Era de Ouro de Hollywood”, mas também da maneira como o cinema constrói memórias, mitos e controvérsias.
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O Enredo de “E o Vento Levou”: Amor em Tempos de Guerra

O ponto central de E o Vento Levou é a personagem Scarlett O’Hara, interpretada magistralmente por Vivien Leigh. Orgulhosa, vaidosa, impulsiva, mas incrivelmente resiliente, Scarlett vive sua trajetória durante o colapso do Velho Sul.
O pano de fundo do filme é a Guerra Civil Americana (1861–1865), conflito que dividiu o país entre estados do norte, abolicionistas, e estados do sul, escravocratas.
Enquanto as plantações de algodão viram cinzas e a sociedade sulista entra em colapso, Scarlett faz o impossível para sobreviver, reconstruir sua vida e proteger sua terra: Tara. Ao longo dessa jornada, ela vive uma relação intensa e instável com Rhett Butler, um homem tão imprevisível e obstinado quanto ela.
Uma Produção Monumental
Quando foi lançado, E o Vento Levou representou a maior superprodução de seu tempo. Foram anos de desenvolvimento, testes exaustivos com atrizes para encontrar a intérprete ideal para Scarlett e uma produção orçada em mais de 4 milhões de dólares — um valor impressionante para a época.
A utilização do Technicolor, a trilha sonora grandiosa composta por Max Steiner, os cenários detalhados e a direção de arte meticulosa transformaram o filme em um espetáculo visual e emocional.
Reconhecimento Crítico e Premiações Históricas
E o Vento Levou recebeu 13 indicações ao Oscar e conquistou 8 estatuetas, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Atriz. Mas talvez o prêmio mais significativo tenha sido o Oscar concedido a Hattie McDaniel, que interpretou Mammy.
Ela se tornou a primeira pessoa negra a ganhar um Oscar, em um momento de segregação racial nos Estados Unidos.
A vitória de McDaniel foi histórica, mas também simbólica: sua personagem, uma escravizada leal e maternal, foi alvo de inúmeras críticas nas décadas seguintes por reforçar estereótipos raciais. Isso revela uma das principais tensões que cercam o legado de E o Vento Levou.
As Polêmicas de “E o Vento Levou” no Século XXI
Apesar de ser um clássico aclamado, E o Vento Levou passou a ser amplamente debatido no século XXI por conta de sua visão romantizada do sul escravocrata e sua abordagem superficial sobre a escravidão.
Em 2020, em meio às discussões sobre racismo nos Estados Unidos, o filme foi temporariamente retirado do catálogo da HBO Max. Posteriormente, retornou à plataforma com uma introdução educativa que contextualiza os aspectos históricos e os preconceitos presentes na obra.
Críticos apontam que E o Vento Levou, ao retratar com nostalgia o sul antebellum, perpetua mitos sobre a escravidão e a vida dos afro-americanos.
A ausência de protagonismo negro real e a exaltação de figuras brancas privilegiadas são pontos sensíveis que tornaram o filme um exemplo claro de como o cinema pode ajudar a reforçar ou questionar narrativas dominantes.
O Impacto Cultural Duradouro
Mesmo com suas polêmicas, o impacto cultural de E o Vento Levou é indiscutível. O filme é constantemente listado entre os melhores de todos os tempos por críticos e cinéfilos.
A frase de Rhett Butler — “Frankly, my dear, I don’t give a damn” — tornou-se uma das citações mais memoráveis da história do cinema.
Além disso, E o Vento Levou é, até hoje, uma referência para cineastas, estudiosos e roteiristas que buscam entender como o cinema pode refletir, distorcer ou embelezar a realidade histórica.
Personagens Imortais
O filme não seria o que é sem seus personagens complexos. Scarlett O’Hara é, até hoje, um dos arquétipos femininos mais fortes do cinema.
Ela representa o embate entre o desejo e o dever, entre a paixão e a sobrevivência. Rhett Butler, por sua vez, é o anti-herói por excelência: charmoso, sarcástico, ambíguo.
Outros personagens, como Melanie Hamilton e Ashley Wilkes, reforçam o contraste entre idealismo e realidade. Já Mammy, apesar de sua representação problemática, é uma figura que impõe autoridade e oferece comentários incisivos, muitas vezes mais lúcidos que os dos brancos ao seu redor.
O Legado Cinematográfico de “E o Vento Levou”
A influência de E o Vento Levou pode ser sentida em diversos níveis: na forma como o cinema retrata guerras, em como constrói heroínas ambíguas, ou mesmo no uso da trilha sonora para intensificar a emoção de cenas-chave.
Sua importância vai além da nostalgia: é um documento visual sobre como os Estados Unidos, e Hollywood, encaravam o passado.
Conclusão: Um Clássico com Múltiplas Camadas

E o Vento Levou é, ao mesmo tempo, uma obra-prima técnica, uma narrativa poderosa e um espelho das contradições sociais do século XX.
Ao revisitar esse filme, não se trata apenas de celebrar seu valor artístico, mas também de compreender suas lacunas, seus contextos e seu papel na perpetuação de certos discursos.
Clássicos como E o Vento Levou sobrevivem não apenas por serem bem-feitos, mas por abrirem espaço para o debate. E nesse sentido, o filme continua relevante: tanto para ser admirado quanto para ser criticado. Afinal, os grandes filmes não morrem — eles continuam a nos desafiar.
Assista ao trailer de “E o Vento Levou”
No Brasil, “E o Vento Levou” está disponível na Max e Amazon Prime Video, Apple TV e YouTube Filmes.