Deixe a Luz do Sol Entrar (2017): Amor, Solidão e Desejo no Cinema Francês Contemporâneo

0

Lançado em 2017, Deixe a Luz do Sol Entrar (Let the Sunshine In) é uma comédia dramática francesa dirigida por Claire Denis, uma das cineastas mais aclamadas da França.

O filme oferece uma abordagem íntima, sutil e profundamente humana sobre os dilemas amorosos de uma mulher de meia-idade em busca de conexões verdadeiras.

Com Juliette Binoche no papel principal, a obra é um retrato lúcido e por vezes irônico da busca por amor, prazer e sentido nos relacionamentos contemporâneos.

Mais do que uma simples história de encontros amorosos, Deixe a Luz do Sol Entrar propõe uma reflexão sobre o desejo feminino, a liberdade, as inseguranças e os jogos de poder afetivos, tudo isso permeado por diálogos perspicazes e a estética elegante típica do cinema francês.

Leia mais:

Em Prantos (2018): Minissérie Australiana de Drama e Suspense sobre o Desaparecimento de um Bebê​

Uma Noite de 12 Anos (2018): O Drama Brutal e Poético da Resistência Política no Uruguai

Enredo: Em Busca do Amor, em Meio ao Caos

e40S4AcjGT9gBcE6evWtv6JzNh5
Imagem: The Movie Database

A protagonista de Deixe a Luz do Sol Entrar é Isabelle, uma artista plástica e mãe divorciada, vivida com brilhantismo por Juliette Binoche.

Ela está em constante busca pelo amor verdadeiro, envolvida em uma série de encontros com homens de diferentes perfis: casados, inseguros, apaixonados, manipuladores ou emocionalmente distantes.

O filme não apresenta uma estrutura narrativa convencional.

Em vez disso, constrói uma colagem de momentos — encontros, diálogos, frustrações e esperanças — que revelam os conflitos internos da personagem. Isabelle é vulnerável, mas também assertiva; romântica, mas cínica; livre, mas profundamente solitária.

Essa fragmentação narrativa reflete a própria natureza dos relacionamentos na vida adulta: erráticos, incertos, por vezes repetitivos. Em Deixe a Luz do Sol Entrar, o que está em jogo não é apenas o amor, mas a possibilidade (ou impossibilidade) de realmente se conectar com o outro.

Juliette Binoche em Performance Brilhante

O sucesso emocional de Deixe a Luz do Sol Entrar repousa, em grande parte, na atuação de Juliette Binoche, uma das maiores atrizes do cinema europeu. Sua Isabelle é ao mesmo tempo magnética e melancólica, uma mulher em constante tensão entre desejo e decepção.

Binoche interpreta os altos e baixos emocionais de sua personagem com naturalidade impressionante. Seja em momentos de sedução, frustração ou autossabotagem, a atriz oferece um retrato nu e honesto de uma mulher que se recusa a se conformar com relações vazias, mas que também teme ficar sozinha.

Claire Denis: Direção Íntima e Inteligente

Conhecida por obras como Beau Travail e 35 Doses de Rum, Claire Denis sempre explorou temas como desejo, deslocamento e intimidade. Em Deixe a Luz do Sol Entrar, ela mergulha no universo das relações amorosas com sua abordagem característica: delicada, sensível e sem julgamentos.

Denis evita o didatismo e recusa clichês românticos. Em vez de criar uma narrativa com início, meio e fim tradicionais, ela aposta na fluidez dos encontros e nas nuances emocionais da protagonista.

A câmera observa Isabelle de perto, mas sem invadir; o foco está nos pequenos gestos, nas hesitações, nas pausas — o que não é dito muitas vezes diz mais do que as palavras.

Um Filme Francês sobre Amor Adulto

Deixe a Luz do Sol Entrar é também uma carta de amor (e ironia) ao cinema francês que não tem medo de tratar do amor adulto, com suas contradições, carências e desejos.

Ao contrário das comédias românticas hollywoodianas, o filme abraça a complexidade emocional de suas personagens sem buscar finais felizes ou resoluções simplistas.

Ao mostrar uma mulher de meia-idade como protagonista de sua própria história amorosa — com sensualidade, inteligência e autonomia —, o filme desafia estereótipos e celebra uma feminilidade plena, mas nada idealizada.

Diálogos Afiados e Humor Sutil

Embora carregado de drama emocional, Deixe a Luz do Sol Entrar também tem momentos de humor fino. Os diálogos são carregados de ironia, sutilezas e contradições humanas.

Muitas vezes, o público se vê rindo não por piadas explícitas, mas por reconhecer o absurdo de certas situações amorosas — ou a franqueza dolorosa com que os personagens se expõem.

O tom da narrativa oscila entre o cômico e o trágico com naturalidade, tornando a experiência ao mesmo tempo leve e profunda.

Destaque Final: A Cena com Gérard Depardieu

O filme se encerra com uma das cenas mais curiosas — e comentadas — da obra: a conversa entre Isabelle e um “médium” interpretado por Gérard Depardieu.

A sequência funciona como uma espécie de epílogo ou comentário metalinguístico sobre as buscas emocionais da personagem — e também sobre a condição humana.

É um final inesperado, simbólico e aberto, que convida o espectador a refletir sobre o que realmente significa “deixar o sol entrar” na vida de alguém.

Conclusão

vKRnFF0ZdbsUiy7QSy2ZbvspvUh
Imagem: The Movie Database

Deixe a Luz do Sol Entrar é uma joia do cinema francês moderno. Dirigido com sensibilidade por Claire Denis e protagonizado de forma magistral por Juliette Binoche, o filme se destaca por sua abordagem honesta e sofisticada do amor, do desejo e da solidão na vida adulta.

Ao evitar fórmulas prontas e apostar na complexidade emocional de seus personagens, Deixe a Luz do Sol Entrar oferece uma experiência íntima, encantadora e muitas vezes desconcertante — como o próprio amor.

Assista ao trailer de “Deixe a Luz do Sol Entrar”

No Brasil, “Deixe a Luz do Sol Entrar” está disponível na Amazon Prime Video.