Benedetta (2021) é um filme que une provocação, controvérsia e uma reflexão sobre o poder da fé em tempos de repressão.
Dirigido pelo renomado cineasta Paul Verhoeven, conhecido por sua abordagem ousada e sem censura, o filme traz à tona um conto baseado em fatos reais, mas imerso em uma narrativa de desejo, poder e religião.
Situado no século XVII, em uma Itália marcada pela Inquisição, Benedetta apresenta a vida de Benedetta Carlini, uma freira italiana que experimenta visões místicas e desenvolve um intenso relacionamento romântico com outra mulher, desafiando as convenções religiosas e sociais da época.
Este artigo explora a controversa obra de Verhoeven, discutindo sua trama, os elementos que causaram polêmica e seu impacto no cinema contemporâneo.
Vamos entender como Benedetta não é apenas um filme sobre religião e desejo, mas também uma crítica às estruturas de poder que moldam as instituições religiosas e sociais.
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A História de Benedetta: Fé, Visões e Paixão Proibida

A Vida de Benedetta Carlini: Fé e Misticismo no Século XVII
Benedetta segue a vida de Benedetta Carlini (interpretada por Virginie Efira), uma freira italiana do século XVII que, desde jovem, demonstra uma conexão especial com o divino.
Ela começa a experimentar visões religiosas e místicas, nas quais é guiada por uma figura celestial. Inicialmente, essas visões são vistas como sinais de sua santidade, e ela é reverenciada pelas outras freiras e pela comunidade religiosa.
A história se desenrola em um convento isolado, onde Benedetta se torna uma figura central, inicialmente apreciada por suas visões e sua devoção à fé.
No entanto, à medida que a narrativa avança, a história de Benedetta toma um rumo inesperado e controverso, quando ela se envolve em um relacionamento apaixonado com outra freira, Bartolomea (interpretada por Daphne Patakia).
Esse romance proibido é marcado por uma dinâmica intensa de desejo e poder, que desafia as regras da igreja e ameaça desestabilizar a autoridade religiosa que vigia o convento.
A Relação Lésbica e a Repressão Religiosa
O ponto de maior controvérsia de Benedetta é, sem dúvida, o relacionamento lésbico entre as duas freiras. Enquanto Benedetta é tida como uma mulher mística e “divina”, sua relação com Bartolomea é um reflexo do desejo humano que se opõe aos dogmas da igreja católica.
Verhoeven, ao retratar este relacionamento, explora a tensão entre o desejo e a repressão, a santidade e a sexualidade, criando um embate entre o poder da religião e a liberdade individual.
A relação entre as duas mulheres é não apenas uma expressão de paixão, mas também uma transgressão direta contra a moralidade religiosa do período.
No entanto, o filme não apenas se foca na sexualidade, mas também critica a hipocrisia das instituições religiosas que, ao mesmo tempo em que pregam a pureza, muitas vezes reprimem e controlam os impulsos naturais dos indivíduos.
O Estilo de Direção de Paul Verhoeven: Provocação e Realismo
A Abordagem Audaciosa de Verhoeven
Paul Verhoeven, famoso por suas abordagens ousadas e muitas vezes controversas em filmes como Instinto Selvagem (1992) e Robocop (1987), mantém sua marca registrada em Benedetta. O diretor não tem medo de explorar temas tabu e desafiadores, e Benedetta não é exceção.
Com uma mistura de sensualidade explícita e uma análise crítica da instituição religiosa, Verhoeven cria um filme que, embora baseado em uma história verdadeira, busca provocar reflexão sobre a moralidade, o poder e a subversão das normas sociais.
A forma como Verhoeven retrata a sexualidade no filme, sem hesitação, é uma maneira de criticar as contradições das instituições religiosas, que frequentemente reprimem o desejo humano, enquanto muitos de seus líderes estão envolvidos em comportamentos contraditórios.
A abordagem do diretor questiona a ideia de pureza, mostrando que a linha entre santidade e pecado nem sempre é clara, especialmente em um contexto de repressão.
O Uso da Violência e da Sensualidade
Além de sua abordagem sobre o desejo e o poder, Verhoeven também não foge da violência que muitas vezes acompanha as instituições religiosas. Em Benedetta, há cenas explícitas de tortura e punição, especialmente à medida que a freira é acusada de transgressão e heresia.
A violência é usada não apenas para mostrar as consequências de desafiar as normas, mas também para destacar o controle implacável das autoridades religiosas sobre os corpos e as mentes das pessoas.
Por outro lado, a sensualidade do filme não é apenas uma ferramenta para chocar, mas também uma maneira de ilustrar a complexidade do relacionamento entre as freiras.
A paixão entre Benedetta e Bartolomea, embora carregada de tensão sexual, também é uma forma de resistência à autoridade da igreja, uma maneira de se afirmar diante de uma estrutura que tenta silenciar e controlar os desejos das mulheres.
A Relevância de Benedetta no Contexto Atual
Crítica à Igreja e ao Poder Institucional
Benedetta oferece uma reflexão profunda sobre a relação entre fé e poder.
Ao explorar a vida de uma freira que desafia as normas religiosas através de suas visões e seu relacionamento amoroso, o filme se coloca contra a hipocrisia das instituições religiosas, que historicamente têm exercido grande controle sobre os indivíduos.
A crítica a essa dinâmica é uma das razões pelas quais Benedetta provocou tanta controvérsia, especialmente entre aqueles que veem a igreja como uma instituição intocável.
No entanto, Verhoeven não faz um ataque direto à fé em si, mas sim às estruturas de poder que distorcem e utilizam a religião para o controle social.
O filme questiona como as normas religiosas podem ser usadas para subjugar e punir aqueles que não se conformam, especialmente mulheres, que ao longo da história foram frequentemente vítimas de uma moralidade dominada pela igreja.
O Desafio ao Estigma sobre a Sexualidade Feminina
Outro aspecto importante de Benedetta é a forma como ele lida com a sexualidade feminina, algo que raramente é abordado de maneira tão direta e sem censura no cinema.
Ao retratar o desejo de Benedetta e Bartolomea, Verhoeven desafia o estigma em torno da sexualidade lésbica, especialmente em um contexto histórico em que tais relações eram condenadas e invisibilizadas.
O filme oferece um espaço para que o desejo entre mulheres seja mostrado sem julgamento, um passo importante para a representação mais inclusiva e honesta no cinema.
Conclusão: Benedetta Como um Filme de Subversão e Reflexão

Benedetta (2021) é uma obra cinematográfica ousada e subversiva, que explora a interseção entre fé, poder e desejo de uma maneira profundamente provocadora.
Paul Verhoeven, fiel ao seu estilo provocador, cria um filme que não apenas conta a história de uma freira do século XVII, mas também questiona as estruturas de poder que, ao longo da história, tentaram controlar a sexualidade e a liberdade das mulheres.
A obra não é apenas uma crítica à igreja, mas também um convite a refletir sobre as complexas dinâmicas de poder e repressão que moldam as nossas instituições.
Benedetta é um filme que, apesar de sua controvérsia, oferece uma reflexão crítica e necessária sobre temas universais de liberdade, desejo e controle.
Assista ao trailer de “Benedetta”
No Brasil, “Benedetta” está disponível no YouTube Filmes e Apple TV.