Bait (2019): A Elegância do Cinema Experimental em Preto e Branco
Lançado em 2019, Bait é um drama britânico que se destaca por sua abordagem experimental e estética em preto e branco.
Dirigido por Mark Jenkin, o filme explora as tensões sociais em uma vila pesqueira da Cornualha, abordando temas como gentrificação e conflito de classes. Sua produção artesanal e estilo visual único renderam aclamação da crítica e diversos prêmios no circuito cinematográfico.
Saiba mais:
Luz de Inverno (1963): O Drama Existencial de Ingmar Bergman sobre Fé e Dúvida
Cães Errantes (2013): O Poema Visual de Tsai Ming-liang sobre a Existência Humana
Sinopse
Bait acompanha Martin Ward (interpretado por Edward Rowe), um pescador tradicional que enfrenta dificuldades após seu irmão, Steven (interpretado por Giles King), converter o barco da família em uma embarcação turística.
Com a casa de infância transformada em residência de veraneio por uma família abastada de Londres, Martin se vê deslocado e luta para manter viva a herança pesqueira em meio às mudanças impostas pelo turismo e pela modernização.
Elenco e Personagens
- Edward Rowe como Martin Ward: Um pescador tradicional determinado a preservar seu modo de vida diante das mudanças impostas pelo turismo.
- Mary Woodvine como Sandra Leigh: Representante da família de turistas que adquire a antiga casa de Martin, simbolizando a invasão cultural na comunidade.
- Simon Shepherd como Tim Leigh: Marido de Sandra, cuja presença intensifica as tensões sociais na vila.
- Giles King como Steven Ward: O irmão de Martin, que se adapta às mudanças e vê no turismo uma forma de sobrevivência econômica, mesmo que isso signifique abandonar suas raízes.
- Isaac Woodvine como Neil Ward: O sobrinho de Martin, que se encontra dividido entre os valores tradicionais de seu tio e a visão mais prática de seu pai.
Direção e Estilo Visual
A Técnica de Filmagem
Mark Jenkin optou por uma abordagem singular ao utilizar uma câmera Bolex de 16mm, operada manualmente, e filmar em preto e branco.
O diretor também processou manualmente a película, resultando em uma estética granulada e repleta de imperfeições que remetem ao cinema das primeiras décadas do século XX.
Essa escolha confere ao filme uma textura única, evocando uma sensação de atemporalidade e autenticidade.
Som e Pós-Produção
Devido às limitações da câmera utilizada, o som não pôde ser captado durante as filmagens. Todo o áudio, incluindo diálogos e efeitos sonoros, foi adicionado posteriormente, criando uma atmosfera sonora que complementa a estética visual e intensifica a imersão do espectador na narrativa.
Temas Centrais
Gentrificação e Conflito de Classes
O filme aborda de forma incisiva o impacto da gentrificação em comunidades tradicionais.
A chegada de turistas e a transformação de propriedades locais em residências de veraneio ilustram as tensões entre moradores originais e novos ocupantes, evidenciando a perda de identidade cultural e econômica das comunidades pesqueiras.
Tradição versus Modernidade
A luta de Martin para preservar os métodos tradicionais de pesca contrasta com a adaptação de seu irmão às demandas do turismo.
Essa dicotomia reflete o embate entre tradição e modernidade, questionando os sacrifícios necessários para a sobrevivência econômica e a preservação cultural.
Estilo Experimental e Impacto
O Preto e Branco como Ferramenta Narrativa
O uso da película em preto e branco não é apenas uma escolha estética, mas também narrativa. A granulação e o contraste intensificam o realismo bruto da história, evocando um cinema de outra era.
Essa estética remete ao cinema neorrealista italiano e às obras documentais dos anos 1950 e 1960, destacando a simplicidade visual e as emoções humanas.
A Técnica Artesanal de Mark Jenkin
Mark Jenkin escreveu, dirigiu, editou e processou manualmente o filme, o que confere a Bait uma sensação genuinamente artesanal. A decisão de editar fisicamente o filme e utilizar técnicas antigas reflete o próprio conflito entre tradição e modernidade retratado na trama.
Essa abordagem tornou Bait uma obra singular no cinema contemporâneo, um contraponto aos filmes digitais que dominam o mercado.
Por que Bait é um Filme Imperdível?
1. Um Retrato Sensível e Crítico da Gentrificação
O filme é uma crítica afiada às transformações econômicas e culturais que ameaçam comunidades tradicionais. A luta de Martin é um reflexo universal de muitos povos que enfrentam o deslocamento e a perda de suas identidades.
2. Estética Única e Nostálgica
A fotografia em preto e branco e a textura da película criam uma experiência visual marcante, destacando o poder do cinema experimental.
3. Narrativa Atemporal
Apesar de se passar em uma vila pesqueira britânica contemporânea, os temas abordados são universais: a luta pelo pertencimento, o impacto do progresso e os conflitos entre gerações.
4. Direção e Roteiro Sólidos
Mark Jenkin prova ser um cineasta visionário, capaz de utilizar técnicas rudimentares para criar uma narrativa poderosa e envolvente.
5. Personagens Autênticos
O elenco composto por atores menos conhecidos adiciona naturalidade e humanidade ao filme. Cada personagem carrega camadas de emoção, revelando um microcosmo social complexo e cheio de conflitos.
Recepção Crítica
Bait foi amplamente aclamado pela crítica especializada. No agregador de críticas Rotten Tomatoes, o filme possui uma taxa de aprovação de 100%, baseada em 70 avaliações, com uma classificação média de 8,5/10.
O consenso crítico afirma: “Tão visualmente distinto quanto narrativamente satisfatório, Bait combina uma estética clássica com temas contemporâneos para produzir um drama original e enriquecedor.”
No Metacritic, o filme detém uma pontuação média de 84/100, indicando “aclamação universal”.
Críticos renomados elogiaram a obra. Mark Kermode, do The Observer, descreveu o filme como “um genuíno marco moderno, que estabelece Jenkin como um dos cineastas britânicos mais impressionantes e intrigantes de sua geração”.
Peter Bradshaw, do The Guardian, concedeu quatro estrelas, destacando o filme como “intrigante e inesperadamente cativante”.
Prêmios e Reconhecimentos
Bait recebeu diversos prêmios e indicações, consolidando seu impacto no cenário cinematográfico:
- Prêmio BAFTA: Venceu na categoria de Outstanding Debut by a British Writer, Director or Producer para Mark Jenkin (roteirista/diretor), Kate Byers e Linn Waite (produtores).
- British Independent Film Awards: Venceu na categoria de Breakthrough Producer para Kate Byers e Linn Waite; recebeu indicações para Melhor Diretor (Mark Jenkin), Melhor Filme Independente Britânico e Melhor Edição (Mark Jenkin).
- IndieLisboa International Independent Film Festival: Venceu o Prêmio do Público para Melhor Longa-Metragem.
- Stockholm International Film Festival: Venceu na categoria de Melhor Diretor para Mark Jenkin.
- New Horizons Film Festival: Recebeu o Prêmio do Público para Melhor Filme e o Grand Prix.
Onde Assistir Bait
Bait infelizmente não está disponível para streaming no Brasil.
Conclusão
Bait (2019) é um exemplo brilhante de como o cinema experimental pode oferecer uma experiência visual e emocional profundamente impactante.
A obra de Mark Jenkin vai além de uma narrativa simples sobre uma vila pesqueira: é um retrato poderoso dos efeitos da gentrificação, da luta por tradição e da desconexão entre passado e presente.
Com uma estética única, performances autênticas e uma direção engenhosa, Bait é um filme que resgata a essência do cinema como arte e crítica social. Ele desafia as normas do cinema moderno e oferece uma reflexão atemporal sobre a necessidade de preservar o que nos define.
Se você busca uma experiência cinematográfica fora do convencional, Bait é uma escolha obrigatória — um filme onde a beleza reside nas imperfeições e na verdade crua da condição humana.