Bait (2019): A Elegância do Cinema Experimental em Preto e Branco

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Lançado em 2019, Bait é um drama britânico que se destaca por sua abordagem experimental e estética em preto e branco.

Dirigido por Mark Jenkin, o filme explora as tensões sociais em uma vila pesqueira da Cornualha, abordando temas como gentrificação e conflito de classes. Sua produção artesanal e estilo visual único renderam aclamação da crítica e diversos prêmios no circuito cinematográfico.

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Sinopse

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Imagem: The Movie Database

Bait acompanha Martin Ward (interpretado por Edward Rowe), um pescador tradicional que enfrenta dificuldades após seu irmão, Steven (interpretado por Giles King), converter o barco da família em uma embarcação turística.

Com a casa de infância transformada em residência de veraneio por uma família abastada de Londres, Martin se vê deslocado e luta para manter viva a herança pesqueira em meio às mudanças impostas pelo turismo e pela modernização.

Elenco e Personagens

  • Edward Rowe como Martin Ward: Um pescador tradicional determinado a preservar seu modo de vida diante das mudanças impostas pelo turismo.
  • Mary Woodvine como Sandra Leigh: Representante da família de turistas que adquire a antiga casa de Martin, simbolizando a invasão cultural na comunidade.
  • Simon Shepherd como Tim Leigh: Marido de Sandra, cuja presença intensifica as tensões sociais na vila.
  • Giles King como Steven Ward: O irmão de Martin, que se adapta às mudanças e vê no turismo uma forma de sobrevivência econômica, mesmo que isso signifique abandonar suas raízes.
  • Isaac Woodvine como Neil Ward: O sobrinho de Martin, que se encontra dividido entre os valores tradicionais de seu tio e a visão mais prática de seu pai.

Direção e Estilo Visual

A Técnica de Filmagem

Mark Jenkin optou por uma abordagem singular ao utilizar uma câmera Bolex de 16mm, operada manualmente, e filmar em preto e branco.

O diretor também processou manualmente a película, resultando em uma estética granulada e repleta de imperfeições que remetem ao cinema das primeiras décadas do século XX.

Essa escolha confere ao filme uma textura única, evocando uma sensação de atemporalidade e autenticidade.

Som e Pós-Produção

Devido às limitações da câmera utilizada, o som não pôde ser captado durante as filmagens. Todo o áudio, incluindo diálogos e efeitos sonoros, foi adicionado posteriormente, criando uma atmosfera sonora que complementa a estética visual e intensifica a imersão do espectador na narrativa.

Temas Centrais

Gentrificação e Conflito de Classes

O filme aborda de forma incisiva o impacto da gentrificação em comunidades tradicionais.

A chegada de turistas e a transformação de propriedades locais em residências de veraneio ilustram as tensões entre moradores originais e novos ocupantes, evidenciando a perda de identidade cultural e econômica das comunidades pesqueiras.

Tradição versus Modernidade

A luta de Martin para preservar os métodos tradicionais de pesca contrasta com a adaptação de seu irmão às demandas do turismo.

Essa dicotomia reflete o embate entre tradição e modernidade, questionando os sacrifícios necessários para a sobrevivência econômica e a preservação cultural.

Estilo Experimental e Impacto

O Preto e Branco como Ferramenta Narrativa

O uso da película em preto e branco não é apenas uma escolha estética, mas também narrativa. A granulação e o contraste intensificam o realismo bruto da história, evocando um cinema de outra era.

Essa estética remete ao cinema neorrealista italiano e às obras documentais dos anos 1950 e 1960, destacando a simplicidade visual e as emoções humanas.

A Técnica Artesanal de Mark Jenkin

Mark Jenkin escreveu, dirigiu, editou e processou manualmente o filme, o que confere a Bait uma sensação genuinamente artesanal. A decisão de editar fisicamente o filme e utilizar técnicas antigas reflete o próprio conflito entre tradição e modernidade retratado na trama.

Essa abordagem tornou Bait uma obra singular no cinema contemporâneo, um contraponto aos filmes digitais que dominam o mercado.

Por que Bait é um Filme Imperdível?

1. Um Retrato Sensível e Crítico da Gentrificação

O filme é uma crítica afiada às transformações econômicas e culturais que ameaçam comunidades tradicionais. A luta de Martin é um reflexo universal de muitos povos que enfrentam o deslocamento e a perda de suas identidades.

2. Estética Única e Nostálgica

A fotografia em preto e branco e a textura da película criam uma experiência visual marcante, destacando o poder do cinema experimental.

3. Narrativa Atemporal

Apesar de se passar em uma vila pesqueira britânica contemporânea, os temas abordados são universais: a luta pelo pertencimento, o impacto do progresso e os conflitos entre gerações.

4. Direção e Roteiro Sólidos

Mark Jenkin prova ser um cineasta visionário, capaz de utilizar técnicas rudimentares para criar uma narrativa poderosa e envolvente.

5. Personagens Autênticos

O elenco composto por atores menos conhecidos adiciona naturalidade e humanidade ao filme. Cada personagem carrega camadas de emoção, revelando um microcosmo social complexo e cheio de conflitos.

Recepção Crítica

Bait foi amplamente aclamado pela crítica especializada. No agregador de críticas Rotten Tomatoes, o filme possui uma taxa de aprovação de 100%, baseada em 70 avaliações, com uma classificação média de 8,5/10.

O consenso crítico afirma: “Tão visualmente distinto quanto narrativamente satisfatório, Bait combina uma estética clássica com temas contemporâneos para produzir um drama original e enriquecedor.”

No Metacritic, o filme detém uma pontuação média de 84/100, indicando “aclamação universal”.

Críticos renomados elogiaram a obra. Mark Kermode, do The Observer, descreveu o filme como “um genuíno marco moderno, que estabelece Jenkin como um dos cineastas britânicos mais impressionantes e intrigantes de sua geração”.

Peter Bradshaw, do The Guardian, concedeu quatro estrelas, destacando o filme como “intrigante e inesperadamente cativante”.

Prêmios e Reconhecimentos

Bait recebeu diversos prêmios e indicações, consolidando seu impacto no cenário cinematográfico:

  • Prêmio BAFTA: Venceu na categoria de Outstanding Debut by a British Writer, Director or Producer para Mark Jenkin (roteirista/diretor), Kate Byers e Linn Waite (produtores).
  • British Independent Film Awards: Venceu na categoria de Breakthrough Producer para Kate Byers e Linn Waite; recebeu indicações para Melhor Diretor (Mark Jenkin), Melhor Filme Independente Britânico e Melhor Edição (Mark Jenkin).
  • IndieLisboa International Independent Film Festival: Venceu o Prêmio do Público para Melhor Longa-Metragem.
  • Stockholm International Film Festival: Venceu na categoria de Melhor Diretor para Mark Jenkin.
  • New Horizons Film Festival: Recebeu o Prêmio do Público para Melhor Filme e o Grand Prix.

Onde Assistir Bait

Bait infelizmente não está disponível para streaming no Brasil.

Conclusão

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Imagem: The Movie Database

Bait (2019) é um exemplo brilhante de como o cinema experimental pode oferecer uma experiência visual e emocional profundamente impactante.

A obra de Mark Jenkin vai além de uma narrativa simples sobre uma vila pesqueira: é um retrato poderoso dos efeitos da gentrificação, da luta por tradição e da desconexão entre passado e presente.

Com uma estética única, performances autênticas e uma direção engenhosa, Bait é um filme que resgata a essência do cinema como arte e crítica social. Ele desafia as normas do cinema moderno e oferece uma reflexão atemporal sobre a necessidade de preservar o que nos define.

Se você busca uma experiência cinematográfica fora do convencional, Bait é uma escolha obrigatória — um filme onde a beleza reside nas imperfeições e na verdade crua da condição humana.

Assista ao trailer de “Bait”