As Ondas (2019): Um drama familiar visualmente arrebatador que retrata trauma, culpa e redenção
As Ondas (Waves), dirigido por Trey Edward Shults e lançado em 2019, é um drama familiar intenso, estilizado e emocionalmente arrebatador que narra a trajetória de uma família afro-americana de classe média alta lidando com os efeitos devastadores de uma tragédia.
Combinando narrativa fragmentada, visuais hipnóticos e uma trilha sonora pulsante, o filme se destaca como uma experiência sensorial única e emocionalmente envolvente.
A produção foi aclamada por seu estilo audacioso e pelas atuações comoventes do elenco, especialmente de Kelvin Harrison Jr. e Taylor Russell. As Ondas não apenas conta uma história — ele a faz sentir em cada som, cor e silêncio.
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O filme acompanha Tyler (Kelvin Harrison Jr.), um jovem atleta do ensino médio pressionado pelo pai a alcançar a excelência em tudo o que faz.
Inicialmente, vemos sua vida vibrante e promissora, mas à medida que pressões físicas, emocionais e sociais se acumulam, Tyler comete um erro trágico que afeta para sempre sua família.
A segunda metade do filme muda de foco para Emily (Taylor Russell), sua irmã mais nova, que tenta encontrar paz e reconexão em meio à dor. A estrutura dividida do filme é essencial: uma onda de destruição seguida de outra de reconstrução.
Um drama familiar fragmentado em duas emoções: ruptura e reconciliação
O formato do filme reflete sua mensagem central: a fragilidade das relações humanas diante de traumas intensos.
A primeira parte é frenética, caótica, com cores saturadas, câmeras giratórias e trilha sonora intensa. A segunda parte desacelera, adota tons mais frios, paisagens silenciosas e músicas mais contemplativas.
Essa divisão narrativa permite ao drama familiar explorar não só o impacto da tragédia, mas o lento e difícil processo de cura. O contraste entre as duas metades ressalta o poder do perdão, da escuta e do amor — mesmo em meio a cicatrizes profundas.
Fotografia e trilha sonora: estética como emoção
A cinematografia de As Ondas, assinada por Drew Daniels, é uma das maiores virtudes do filme. A câmera acompanha os personagens com intimidade, às vezes girando em 360 graus, às vezes colada aos rostos, como se estivéssemos dentro de suas mentes.
As cores são intensas e vivas nos momentos de euforia, e se tornam frias e suaves à medida que a história mergulha na dor. O formato da tela muda ao longo do filme, fechando-se em momentos de opressão emocional e se abrindo quando há espaço para esperança.
A trilha sonora é quase um personagem à parte. Com músicas de Frank Ocean, Kanye West, Radiohead e outros, a música traduz o estado emocional dos personagens de forma visceral, muitas vezes substituindo os diálogos. Ela pulsa, grita e silencia conforme a narrativa exige.
Elenco e atuações comoventes
Kelvin Harrison Jr. como Tyler
Harrison entrega uma performance explosiva e vulnerável como o jovem sob pressão constante. Sua atuação transmite a sensação de estar à beira de um colapso iminente, com uma intensidade comovente.
Taylor Russell como Emily
A revelação do filme, Taylor Russell interpreta Emily com doçura, profundidade e contenção. Sua jornada de autodescoberta e perdão é o coração emocional do filme. Ela equilibra o luto e a esperança com uma naturalidade rara.
Sterling K. Brown como o pai
O vencedor do Emmy interpreta Ronald, o pai exigente, com uma mistura de força e rigidez. Sua trajetória — de pai controlador a homem quebrado em busca de reconexão — é uma das mais impactantes do filme.
Temas centrais: masculinidade tóxica, trauma e redenção
As Ondas aborda temas complexos que dialogam com a realidade de muitas famílias:
- Pressão familiar e social: Tyler vive em uma bolha de expectativas, onde errar não é uma opção.
- Masculinidade tóxica: O filme questiona a ideia de força como ausência de vulnerabilidade, mostrando as consequências devastadoras desse modelo.
- Racismo estrutural velado: Sem ser panfletário, o filme contextualiza as pressões adicionais que famílias negras enfrentam em ambientes privilegiados.
- Perdão e cura: A jornada de Emily é um lembrete poderoso de que a cura é possível — ainda que demorada, silenciosa e dolorosa.
Crítica e recepção
Recebido com entusiasmo pela crítica, As Ondas foi considerado um dos filmes mais ambiciosos e originais de 2019. Destacou-se em premiações independentes e foi incluído em diversas listas de melhores do ano.
A crítica elogiou especialmente:
- A direção ousada de Trey Edward Shults
- A estética cinematográfica única
- A intensidade emocional das performances
- A trilha sonora imersiva
Apesar de não ter tido um grande sucesso de bilheteria, o filme conquistou status de cult moderno entre apreciadores de dramas intimistas e cinema autoral.
Conclusão

As Ondas é um drama familiar de tirar o fôlego — não apenas pela tragédia que retrata, mas pelo modo sensível e corajoso com que mergulha nas emoções humanas mais complexas. Sua estética vibrante, trilha sonora poderosa e estrutura narrativa dividida fazem dele uma experiência cinematográfica única.
Mais do que uma história sobre perda, é um filme sobre a possibilidade de reconstrução, sobre como mesmo as ondas mais destrutivas podem dar lugar a mares calmos — se houver espaço para o amor, o perdão e o recomeço.
Assista ao trailer de “As Ondas”
No Brasil, “As Ondas” está disponível na Amazon Prime Video, Globoplay e YouTube Filmes.