Ajuste Final (1990): Um filme noir sofisticado e atmosférico dos irmãos Coen
Ajunte Final (Miller’s Crossing, no original) é uma obra cinematográfica lançada em 1990 pelos irmãos Coen, uma das duplas mais notáveis do cinema americano.
Com um estilo que mistura o melhor do gênero noir com a peculiaridade única dos Coen, o filme se tornou um clássico cult, reverenciado por fãs e críticos.
Ambientado durante a Lei Seca nos Estados Unidos, Ajuste Final mergulha em temas de lealdade, traição e dilemas morais, tudo isso envolto em uma atmosfera densa e cheia de nuances.
Este filme não apenas apresenta uma narrativa complexa, mas também oferece uma reflexão profunda sobre o comportamento humano em cenários de extrema pressão.
Sua combinação de diálogos afiados, personagens memoráveis e uma direção visual refinada fez dele uma das produções mais sofisticadas dos irmãos Coen. Se você ainda não teve o prazer de assistir, este artigo vai explorar por que Ajuste Final (1990) é considerado um marco no cinema noir moderno.
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Enredo: Entre lealdade e consciência

A trama de Ajuste Final é construída ao redor de Tom Reagan (interpretado por Gabriel Byrne), um ex-aviador que trabalha como braço direito de Leo O’Bannon (Albert Finney), um poderoso chefe da máfia em uma cidade fictícia durante os anos da Lei Seca.
Tom está no centro de uma guerra territorial entre Leo e o chefe rival, Johnny Caspar (Jon Polito), um mafioso que se especializa em extorsão e controle do jogo ilegal.
Ao longo do filme, Tom é colocado em uma posição difícil, sendo forçado a fazer escolhas que desafiam sua lealdade a Leo e sua própria consciência.
Sua amizade com o chefe é posta à prova, assim como seu romance com Verna (Marcia Gay Harden), que também está envolvida com o personagem de Leo. A trama se desenrola em um jogo de manipulações, traições e confrontos, com um final que reflete a ambiguidade moral característica do gênero noir.
Personagens principais e atuações
O elenco de Ajuste Final é uma das grandes forças do filme, com atuações memoráveis que ajudam a aprofundar a complexidade moral e emocional de cada personagem.
Tom Reagan (Gabriel Byrne)
O protagonista, Tom Reagan, é o típico anti-herói do filme noir. Um homem inteligente, calculista e emocionalmente distante, Tom vive em um mundo onde a lealdade é negociada e a moralidade é flexível.
Gabriel Byrne, em uma das suas melhores performances, consegue retratar a ambiguidade de Tom com maestria, dando vida a um personagem que não é completamente bom nem totalmente maligno.
Leo O’Bannon (Albert Finney)
Leo é o chefe da máfia que, à primeira vista, parece ser uma figura forte e imponente, mas que, à medida que o enredo se desenvolve, revela suas fraquezas e inseguranças.
Albert Finney interpreta o personagem de forma brilhante, capturando a dualidade entre um homem de negócios cruel e um chefe que tenta se manter leal aos seus próprios princípios, apesar de ser constantemente manipulado.
Johnny Caspar (Jon Polito)
Johnny Caspar é o rival de Leo, um homem que, por trás de sua fachada de moralidade rígida, esconde um caráter violento e manipulador.
O personagem de Polito é uma combinação de truculência e sofisticação, o que faz dele um antagonista memorável. Ele representa as ameaças externas que Tom enfrenta enquanto tenta equilibrar sua lealdade e sua consciência.
Verna (Marcia Gay Harden)
Verna é uma mulher complexa, que desempenha um papel crucial na história, pois está no centro das rivalidades entre os personagens principais. Ela é tanto objeto de desejo quanto símbolo de manipulação, sendo ao mesmo tempo uma personagem apaixonante e traiçoeira.
O estilo noir dos irmãos Coen
A estética visual
A estética de Ajuste Final é inconfundível, seguindo a tradição do filme noir com uma cinematografia que privilegia sombras densas, iluminação baixa e uma paleta de cores sóbrias.
O diretor de fotografia Barry Sonnenfeld, que trabalhou com os Coen no filme, capturou uma sensação de tensão e paranoia, essenciais para criar a atmosfera única do filme.
Os interiores são muitas vezes escuros e claustrofóbicos, com cenas de conversas que acontecem em bares, escritórios e quartos.
Esse estilo visual reflete a desconfiança e o dilema moral enfrentado pelos personagens, dando ao filme uma sensação de estar constantemente em um ambiente hostil e desconfiado.
O uso da música
A trilha sonora de Ajuste Final é igualmente crucial para a construção de sua atmosfera. Embora o filme não seja marcado por uma trilha sonora ostensiva, a música de Carter Burwell, que trabalhou frequentemente com os irmãos Coen, serve para intensificar a tensão emocional.
O uso de músicas populares da época da Lei Seca ajuda a ambientar o filme no seu contexto histórico, criando uma sensação de autenticidade.
Temas centrais de Ajuste Final
Lealdade e traição
A lealdade é um dos temas centrais de Ajuste Final. Tom Reagan vive em um mundo onde a confiança é um bem raro e volúvel. Ele é constantemente confrontado com a necessidade de tomar decisões difíceis que desafiam sua fidelidade a Leo O’Bannon, seu mentor e amigo, e sua consciência.
A traição, tanto pessoal quanto profissional, está sempre à espreita, e as escolhas de Tom refletem a luta interna entre o que é certo e o que é conveniente para sua sobrevivência.
Moralidade ambígua
Como no melhor do filme noir, Ajuste Final explora a moralidade ambígua dos seus personagens. Ninguém é completamente bom ou totalmente mau, e as escolhas dos personagens são motivadas por desejos conflitantes.
Os irmãos Coen criam uma narrativa onde o conceito de moralidade é relativo, e o que parece ser uma decisão certa pode se transformar em uma traição ou engano.
A pressão do destino
O filme também lida com a inevitabilidade do destino. Tom Reagan, como muitos personagens de filmes noir, parece estar preso em um ciclo do qual não pode escapar.
Suas ações e escolhas estão sempre determinadas pelas circunstâncias em que se encontra, o que dá ao filme uma sensação de fatalismo e desespero.
O impacto e legado de Ajuste Final
Embora Ajuste Final tenha sido um filme de médio orçamento e tenha recebido uma recepção mista no momento do seu lançamento, com o tempo ele foi reconhecido como uma das obras mais sofisticadas dos irmãos Coen.
Seu estilo visual e narrativo influenciou gerações de cineastas e fãs de cinema noir. O filme também é frequentemente citado como um dos melhores exemplos do gênero noir moderno, ajudando a reviver a popularidade deste estilo clássico.
Com o passar dos anos, Ajuste Final foi reinterpretado por críticos e auditores, passando a ser considerado um dos maiores clássicos da década de 1990. Seu status cult é garantido, e sua influência pode ser vista em muitos outros filmes de crime e máfia que surgiram após o seu lançamento.
Conclusão

Ajunte Final (Miller’s Crossing) é uma obra-prima do cinema noir, sofisticada e atmosférica, com a marca registrada dos irmãos Coen. Ele mergulha profundamente nas complexidades da lealdade, traição e moralidade, mantendo o espectador à beira de sua cadeira em cada reviravolta e revelação.
Se você é fã do gênero noir ou simplesmente aprecia um bom drama psicológico, Ajuste Final é uma experiência imperdível.
Seu estilo visual, suas atuações impressionantes e sua narrativa envolvente continuam a cativar e a desafiar o público, fazendo dele uma das mais brilhantes pérolas do cinema dos anos 90.
Assista ao trailer de “Ajuste Final”
No Brasil, “Ajuste Final” está disponível no Disney+.