“After Yang” (2021): Uma Reflexão Delicada sobre Família, Perda e a Humanidade em um Mundo Futurista
After Yang (2021), dirigido por Kogonada, é um filme de ficção científica que se destaca não apenas por sua ambientação futurista, mas também por sua abordagem intimista e delicada sobre temas universais, como perda, identidade e as complexas relações familiares.
Ambientado em um futuro onde a tecnologia permeia todos os aspectos da vida cotidiana, a trama se foca em uma família que enfrenta a morte de Yang, um androide que foi adquirido para ser um companheiro e tutor para a filha do casal.
Ao invés de se concentrar em temas de ação ou conflito, After Yang propõe uma meditação profunda sobre o que significa ser humano, como lidamos com a morte e a conexão emocional que temos com aqueles ao nosso redor, sejam eles humanos ou não.
O filme é uma reflexão sobre o impacto da tecnologia no mundo emocional e o que acontece quando ela falha — ou quando chega o fim de uma vida artificial.
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A Trama de After Yang: A Morte de um Androide e Seus Efeitos em uma Família

A História de Yang: Mais que um Simples Androide
O filme começa com a morte inesperada de Yang, um androide projetado para ser um tipo de irmão mais velho para a filha do casal, Mika. Yang foi comprado por Jake (interpretado por Colin Farrell) e Kyra (interpretada por Jodie Turner-Smith) para ser uma figura de apoio emocional e educacional para Mika.
Embora, em essência, Yang seja uma máquina, sua presença na casa sempre foi acolhedora, e ele formou um vínculo com a família, especialmente com Jake.
Quando Yang falha e se “desliga”, a família é forçada a lidar com a perda de um ente querido, algo que, para muitos, pode parecer paradoxal, considerando que Yang era um androide.
O enredo segue Jake em sua jornada para tentar entender mais sobre o passado de Yang, vasculhando os dados e as memórias deixadas por ele, com o objetivo de se reconectar com a figura de Yang e entender o que ele representava para sua família.
A Busca por Respostas: Conectando-se com a “Morte” de Yang
Em sua busca por respostas, Jake visita um restaurador de memórias, onde ele começa a ver flashes do que Yang experimentou ao longo de sua vida.
O processo de exploração das memórias de Yang se torna um veículo para Jake refletir sobre sua própria vida e relações pessoais, além de questionar o que é real em termos de afeto e vínculo.
Enquanto Jake lida com sua própria dificuldade de aceitar a morte de Yang, ele começa a perceber que, embora o androide fosse programado para ensinar e cuidar, ele também tinha suas próprias emoções e desejos.
A complexidade da vida e das relações interpessoais é refletida na maneira como Yang foi mais do que apenas uma ferramenta — ele foi uma verdadeira parte da dinâmica familiar.
A Direção de Kogonada: Uma Abordagem Delicada e Reflexiva
Minimalismo Visual e Atmosfera Reflexiva
Kogonada, que já havia feito sucesso com seu trabalho em Columbus (2017), traz para After Yang uma abordagem visual minimalista e serena, que complementa perfeitamente os temas contemplativos do filme.
Em vez de se concentrar em uma narrativa acelerada ou em grandes cenas de ação, Kogonada investe na tranquilidade e na reflexão.
Ele usa longos takes, cenários limpos e uma paleta de cores suaves para criar uma sensação de melancolia e introspecção, permitindo que o público se envolva completamente na experiência emocional de After Yang.
Além disso, Kogonada não faz distinção clara entre a humanidade dos personagens e a artificialidade de Yang. Ao invés disso, ele propõe que, em um futuro onde a tecnologia tem um papel tão presente, as fronteiras entre humanos e máquinas começam a se borrar.
Essa abordagem permite uma reflexão sobre o que realmente define a identidade e o sentimento de pertencimento.
O Elemento Filosófico: O que é a Morte em um Mundo de Máquinas?
Um dos aspectos mais interessantes de After Yang é sua exploração filosófica sobre a morte. O filme questiona o que acontece quando um ser artificial morre, especialmente um que foi projetado para integrar-se emocionalmente com os seres humanos.
Yang não é apenas uma máquina; ele é uma figura que formou laços com a família, o que torna sua perda profundamente significativa.
Ao longo do filme, a ideia de existência e memória é discutida, com o próprio Yang revelando, de maneira silenciosa, o quanto ele significava para os membros da família, mesmo após sua morte.
After Yang sugere que, mesmo nas máquinas mais avançadas, há uma linha tênue entre o programado e o sentimental.
As Performances: Colin Farrell e Jodie Turner-Smith
A Interpretação de Colin Farrell: O Luto Contido de Jake
A performance de Colin Farrell como Jake é sutil e emocionalmente densa. Jake é um homem que não consegue expressar facilmente suas emoções, e a morte de Yang lhe oferece a oportunidade de explorar o luto de uma maneira que ele nunca havia feito antes.
Farrell traz uma profundidade emocional ao personagem, capturando a dor e a confusão de um pai que perde não apenas uma máquina, mas uma parte da família.
Jodie Turner-Smith: A Conexão e a Dor de Kyra
Jodie Turner-Smith também brilha em seu papel como Kyra, esposa de Jake e mãe de Mika. Ela traz uma qualidade serena ao filme, representando uma personagem mais em paz com a morte de Yang, embora ainda lidando com a complexidade emocional que vem com a perda.
O contraste entre Kyra e Jake, em termos de como eles lidam com o luto, é central para a dinâmica da família e para o desenvolvimento do enredo.
O Impacto de After Yang: Uma Reflexão sobre Tecnologia e Humanidade
O Futuro do Filme de Ficção Científica
After Yang é uma obra cinematográfica que transcende as expectativas típicas do gênero de ficção científica.
Ao invés de focar em efeitos especiais ou em um futuro distópico, o filme se concentra em uma experiência emocional profunda, usando a tecnologia como uma ferramenta para explorar temas universais.
Ele nos leva a questionar as relações humanas em um mundo onde as máquinas se tornam quase tão humanas quanto as pessoas.
O filme não tem pressa de responder a perguntas definitivas sobre a tecnologia ou a morte. Em vez disso, ele nos oferece uma série de reflexões sobre como essas questões impactam nossas vidas e nossas relações mais íntimas.
Conclusão

After Yang é uma obra delicada e profunda, que trata de temas como morte, memória e a relação entre seres humanos e tecnologia de forma introspectiva e reflexiva.
Com uma direção sensível de Kogonada, atuações impressionantes de Colin Farrell e Jodie Turner-Smith, e uma narrativa que desafia as convenções do gênero de ficção científica, o filme se estabelece como uma experiência cinematográfica única e emocionalmente enriquecedora.
Se você está buscando um filme que vá além das aventuras futuristas e explore as complexidades da existência humana, After Yang oferece uma visão silenciosa e poética do que significa viver e perder, seja com um humano ou uma máquina.
Assista ao trailer de “After Yang”
No Brasil, “After Yang” não está disponível para streaming. No entanto, você encontra a obra na Apple TV, dependendo da região.