A Montanha Sagrada (1973): O Filme Experimental de Alejandro Jodorowsky Que Desafia as Convenções Narrativas e Visuais
“A Montanha Sagrada”, dirigido por Alejandro Jodorowsky e lançado em 1973, é um filme que tem sido amplamente discutido e analisado ao longo dos anos devido ao seu caráter radical e experimental.
Não se trata de uma obra cinematográfica convencional; pelo contrário, ela se distancia completamente das normas narrativas e visuais de sua época.
Com uma mistura de simbolismo surreal, crítica social e reflexões filosóficas, Jodorowsky cria uma narrativa que não segue um enredo linear, mas que é densa em significado e interpretações. Este artigo analisa os aspectos mais profundos do filme, suas críticas e sua relevância para o cinema contemporâneo.
Saiba mais:
O Homem da Terra (2007): Uma Reflexão Sobre a Imortalidade e a História Humana
O Mestre (2012): A Manipulação e o Pertencimento no Drama Psicológico de Paul Thomas Anderson
O Contexto Histórico e Cultural de “A Montanha Sagrada”

Para compreender “A Montanha Sagrada”, é essencial considerar o contexto cultural e histórico da década de 1970, época em que o filme foi feito. O cinema estava passando por uma revolução em termos de estilo e abordagem, com a ascensão do movimento do cinema de autor.
Filmes como “Laranja Mecânica” (1971), de Stanley Kubrick, e “O Último Tango em Paris” (1972), de Bernardo Bertolucci, estavam desafiando as normas tradicionais de narrativa e representação visual.
Neste cenário de experimentação cinematográfica, Jodorowsky se destacou com um estilo único. Ele não se limitou a contar uma história convencional, mas buscou um filme que fosse uma experiência sensorial, uma jornada através de símbolos religiosos, filosóficos e sociais.
“A Montanha Sagrada” reflete uma crítica contundente a várias instituições, incluindo a religião, o capitalismo e o poder político.
A Estrutura Não Convencional de “A Montanha Sagrada”
O Enredo Fragmentado e os Personagens Arquetípicos
“A Montanha Sagrada” não segue uma estrutura narrativa linear. Em vez disso, o filme se desvia por uma série de cenas, muitas vezes desconexas, que exploram temas de espiritualidade, opressão e o significado da vida humana.
A história acompanha um grupo de figuras arquetípicas que embarcam em uma jornada em busca de “A Montanha Sagrada”, uma alegoria para o alcance da iluminação ou da verdade absoluta.
Os personagens principais do filme, como o “Alquimista” e o “Homem sem nome”, representam diferentes aspectos da sociedade e da psicologia humana. Eles são apresentados de forma surreal e muitas vezes grotesca, forçando o espectador a confrontar suas próprias crenças e preconceitos.
O Uso de Imagens Surrealistas e Simbolismo Profundo
Uma das características mais marcantes de “A Montanha Sagrada” é o uso de imagens surrealistas e de simbolismo denso. Cada cena é carregada de significados que variam de acordo com a perspectiva de quem assiste.
Por exemplo, em uma das cenas mais icônicas, os personagens são apresentados como deuses ou figuras mitológicas, com referências a religiões antigas, como o Cristianismo, o Hinduísmo e o Budismo.
Jodorowsky utiliza esses elementos simbólicos para fazer uma crítica ao dogmatismo religioso e à busca por poder espiritual. O filme sugere que todas as religiões e sistemas de crenças estão, de certa forma, interligados e, ao mesmo tempo, são usados para manipular as massas.
A Montanha como Metáfora Espiritual
A “Montanha Sagrada” é, de certa forma, o epicentro da obra, sendo tanto uma representação física quanto metafórica. No filme, a montanha simboliza o lugar de ascensão espiritual, o ponto final da jornada em busca da iluminação.
Porém, à medida que os personagens se aproximam desse objetivo, eles se deparam com a realidade cruel das instituições que governam o mundo e com a natureza corrupta do ser humano.
A escalada para o topo da montanha é um processo doloroso, repleto de autoconfronto e revelações. Isso se alinha com a filosofia do próprio Jodorowsky, que acredita que o autoconhecimento só pode ser alcançado por meio do enfrentamento das próprias sombras e limitações.
A Crítica Social e Política em “A Montanha Sagrada”
A Denúncia do Capitalismo e do Consumo
Em muitas das cenas de “A Montanha Sagrada”, Jodorowsky faz uma crítica direta ao capitalismo e à sociedade de consumo.
O filme mostra um mundo onde as pessoas são consumidas pela busca incessante por riquezas materiais, e onde o desejo por poder e status se sobrepõe ao verdadeiro sentido da vida.
Essa crítica é evidente em várias cenas, como a de uma personagem que representa o capitalismo consumista, e a sequência em que os personagens se veem imersos em um mundo de excessos, simbolizando a sociedade contemporânea.
Jodorowsky parece sugerir que, para alcançar a verdadeira iluminação, é necessário abandonar esses desejos fúteis e focar em um propósito maior.
A Crítica à Religião e ao Poder Espiritual
Além da crítica ao capitalismo, “A Montanha Sagrada” também realiza uma crítica contundente às instituições religiosas e ao uso do poder espiritual para manipulação.
O filme apresenta figuras de autoridade religiosa e espiritual que se mostram hipócritas e opressivas. Jodorowsky questiona as estruturas hierárquicas e as doutrinas rígidas, sugerindo que a verdadeira busca espiritual está além de dogmas e convenções.
Ao longo do filme, o espectador é confrontado com imagens de crucifixos, figuras religiosas e templos sagrados, todos sendo questionados de forma irreverente.
Esse ataque à religião organizada e ao controle social é uma das mensagens mais poderosas de “A Montanha Sagrada”, e reflete o desespero de Jodorowsky para libertar o ser humano de suas amarras espirituais.
A Recepção Crítica e a Legado de “A Montanha Sagrada”
A Recepção Controversa
Quando “A Montanha Sagrada” foi lançado, a reação do público e da crítica foi extremamente polarizada. Enquanto alguns consideraram a obra uma experiência cinematográfica inovadora e profunda, outros a viram como uma extravagância incompreensível e excessiva.
Muitos se sentiram desconfortáveis com o uso explícito de simbolismo religioso e com a forma como Jodorowsky desafiava as convenções sociais.
No entanto, com o tempo, o filme foi se estabelecendo como uma obra cult, sendo reverenciado por sua audácia e por sua proposta artística ousada. Hoje, “A Montanha Sagrada” é considerado um marco do cinema experimental e continua a inspirar cineastas e artistas de diversas áreas.
O Legado e Influências de “A Montanha Sagrada”
O impacto de “A Montanha Sagrada” no cinema e na cultura pop é inegável. Seu estilo visual único, seus temas profundos e seu simbolismo inovador influenciaram uma geração de cineastas, incluindo nomes como David Lynch, Terry Gilliam e Gaspar Noé.
Além disso, a obra continuou a ser uma referência para movimentos artísticos e culturais que desafiam a normatividade e buscam novas formas de expressão.
Conclusão: A Relevância de “A Montanha Sagrada” no Cinema Contemporâneo

“A Montanha Sagrada” é, sem dúvida, uma das obras mais ousadas e inovadoras da história do cinema.
Com uma estrutura narrativa não convencional e uma carga simbólica profunda, o filme desafia os limites da linguagem cinematográfica e nos leva a refletir sobre questões essenciais como a espiritualidade, a sociedade e o poder.
Apesar de sua recepção inicialmente polêmica, o filme se tornou uma obra fundamental para quem deseja entender o potencial do cinema como forma de arte e de crítica social.
Ao revisitarmos “A Montanha Sagrada” em 2025, é impossível não perceber o quanto suas mensagens e questionamentos continuam a ressoar no cenário atual, onde questões sobre consumismo, manipulação religiosa e a busca por sentido na vida ainda são relevantes.
Jodorowsky, com sua visão única e provocadora, deixa um legado cinematográfico que continua a desafiar e a inspirar novas gerações de espectadores e cineastas.
Assista ao trailer de “A Montanha Sagrada”
No Brasil, “A Montanha Sagrada” não está disponível para streaming. No entanto, você encontra a obra na Amazon Prime Video, dependendo da região.