(500) Dias com Ela: A comédia romântica que quebrou regras e corações

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Lançado em 2009, 500 Days of Summer — no Brasil, (500) Dias com Ela — rapidamente conquistou público e crítica ao oferecer uma abordagem inusitada do amor moderno.

Dirigido por Marc Webb e roteirizado por Scott Neustadter e Michael H. Weber, o filme parte de uma premissa clara e direta: “Esta é uma história sobre amor. Mas não é uma história de amor.”

Ao contar, de maneira não linear, o relacionamento entre Tom e Summer, o filme desmantela o ideal romântico tradicional e mergulha nas dores, ilusões e aprendizados que envolvem o afeto humano — especialmente quando ele não é correspondido da forma que esperamos.

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Imagem: The Movie Database

A estrutura narrativa é um dos grandes trunfos do filme.

Em vez de seguir uma linha cronológica clássica, 500 Dias com Ela salta entre os altos e baixos do relacionamento de Tom (Joseph Gordon-Levitt) e Summer (Zooey Deschanel). Em um momento, vemos o casal rindo na IKEA; em outro, Tom arrasado após o término.

Esse formato não linear imita a forma como revisitamos nossas próprias memórias após o fim de um relacionamento: desordenadas, seletivas, idealizadas. O espectador acompanha a montanha-russa emocional de Tom e entende, aos poucos, que nem todo amor é destinado a durar — e tudo bem.

Tom Hansen: o romântico inveterado

Tom é um arquiteto frustrado que trabalha escrevendo cartões comemorativos. Idealista, sensível e com uma visão quase adolescente do amor, ele acredita em almas gêmeas e finais felizes. Quando conhece Summer, acredita ter encontrado a mulher perfeita.

O grande dilema de Tom é que ele projeta suas fantasias sobre Summer, ignorando sinais claros de que ela não compartilha do mesmo sentimento ou da mesma visão de mundo. Essa idealização é central para a narrativa, e o filme a desconstrói sem cair na armadilha de vilanizar nenhum dos dois.

Summer Finn: a musa que não quer ser musa

Summer, por sua vez, é uma jovem livre, decidida e sincera sobre suas intenções desde o início: ela não acredita em amor verdadeiro nem quer um relacionamento sério. Ainda assim, aceita viver momentos com Tom — o que ele interpreta como amor em construção.

Zooey Deschanel dá vida a uma personagem muitas vezes injustamente rotulada como “manic pixie dream girl” — o arquétipo da garota encantadora que existe apenas para transformar a vida do protagonista masculino.

Mas 500 Dias com Ela vai além disso. Summer é complexa, humana, com desejos e limites próprios. O problema não está nela, mas na forma como Tom a vê.

Um olhar maduro sobre os descompassos do amor

Ao mostrar as divergências emocionais entre Tom e Summer, o filme aborda com maturidade temas como expectativas irreais, comunicação falha e a dificuldade em aceitar o fim. Em vez de romantizar a dor do término, ele propõe uma reflexão sobre como crescemos por meio dessas experiências.

A evolução de Tom ao longo dos 500 dias é notável. Ele começa como um idealista perdido em devaneios e termina mais consciente de si mesmo, de suas falhas e de suas capacidades — inclusive profissionais. O filme, portanto, é também uma jornada de amadurecimento.

Direção e estilo visual marcantes

Marc Webb, em sua estreia como diretor de longas, imprime uma estética criativa, leve e ao mesmo tempo melancólica.

A fotografia azulada, os detalhes de produção e o uso de recursos visuais como colagens, telas divididas e animações (como a famosa sequência em estilo musical) fazem do filme uma experiência sensorial única.

Destaque para a sequência “Expectativa vs. Realidade”, uma das mais elogiadas do cinema moderno. Nela, vemos simultaneamente o que Tom espera que aconteça em um reencontro com Summer e o que realmente acontece — um choque brutal e silencioso de frustrações.

Trilha sonora: um personagem à parte

A música tem um papel crucial em 500 Dias com Ela. A trilha sonora indie, com bandas como The Smiths, Regina Spektor e Temper Trap, não apenas ambienta emocionalmente o filme, mas também traduz o espírito dos personagens.

A cena em que Tom dança ao som de “You Make My Dreams”, de Hall & Oates, após a primeira noite com Summer, tornou-se icônica. A música, aqui, funciona como expressão pura do estado de espírito, sem precisar de palavras.

Uma nova abordagem sobre o amor no cinema

500 Dias com Ela foi celebrado por oferecer uma abordagem honesta, moderna e menos idealizada sobre os relacionamentos. Ao fugir dos clichês, o filme abriu caminho para outras comédias românticas mais realistas, como Ela (2013), Antes da Meia-Noite (2013) e La La Land (2016).

Não se trata de demonizar o amor ou desacreditar nos encontros, mas de lembrar que nem sempre o que sentimos é recíproco — e que está tudo bem. Nem todo relacionamento precisa ser eterno para ser importante.

Crítica e recepção

O filme foi amplamente aclamado pela crítica e pelo público, tornando-se um sucesso cult. Muitos elogiaram sua estrutura narrativa inovadora, a química entre os protagonistas e sua honestidade emocional.

Indicado a vários prêmios, incluindo o Globo de Ouro de Melhor Filme de Comédia ou Musical e Melhor Ator para Gordon-Levitt, 500 Dias com Ela também figurou em diversas listas de melhores filmes do ano e da década.

Por que (re)ver 500 Dias com Ela?

Para quem busca um filme que emociona sem ser piegas, que faz rir e refletir ao mesmo tempo, 500 Dias com Ela é um prato cheio. Ele fala com quem já amou, sofreu, idealizou e, acima de tudo, cresceu com isso.

É um lembrete de que o amor, por mais imperfeito que seja, deixa marcas — e que algumas pessoas entram na nossa vida não para ficar, mas para nos ensinar algo essencial sobre quem somos.

Conclusão

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Imagem: The Movie Database

500 Dias com Ela é mais do que uma comédia romântica diferente. É uma carta aberta à geração que cresceu acreditando em finais felizes, mas que aprendeu — muitas vezes da maneira mais difícil — que o amor real não segue roteiros. Ele é imprevisível, confuso, às vezes doloroso, mas sempre transformador.

Se você procura um filme que toque fundo sem perder a leveza, 500 Dias com Ela ainda é, 15 anos depois, uma das obras mais relevantes e encantadoras sobre o amor no século XXI.

Assista ao trailer de “(500) Dias com Ela”

No Brasil, “(500) Dias com Ela” está disponível no Disney+.